Opinião
- 20 de julho de 2015
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O fusquinha e nosso dilema pelo poder
Um fusquinha, insatisfeito com sua pouca potência, sonhava alto. Que tal um motor de Fórmula 1(F1)? Decidido a realizar seu sonho, ele foi até um construtor de F1 e pediu para que lhe colocasse um motor de carro de corrida. O construtor olhou para o fusca, com um misto de riso e pena, e falou:
“Meu filho, você já pensou no que você teria que passar para ter um motor tão potente? Sem ajustes, esse poder lhe arrebentaria na primeira curva. Para eu lhe dar tanto poder, sem o destruir, teria que fazer outras mudanças em você. Teria que mudar os freios porque os seus não foram feitos para frear em alta velocidade. Teria que mudar sua suspensão para maior estabilidade. Mudaria a aerodinâmica, o escapamento, etc. Ou seja, para ter condições de usar tal poder, você teria de ser transformado a tal ponto que seria outro carro. Em nome da misericórdia, fusca sem transformação tem que ter motor de fusca”.
Penso se, às vezes, alguns de nós não somos fuscas querendo o motor de carros de corrida. Motor, nesse caso, seria o poder adquirido através de dinheiro, glória, talentos, etc. Pedimos a Deus muitas coisas que aumentariam o nosso poder, sem nos perguntarmos se estamos aptos para usá-las com sabedoria, sem nos corromper. O poder corrompe quem não está preparado para lidar com ele. Até quem passa a ganhar dois salários mínimos pode se envaidecer e desprezar quem ganha apenas um. É de amplo conhecimento que muitos “novos ricos” que ganharam na loteria acabaram mal, com seus relacionamentos destruídos. Vários atletas, artistas, que ficaram famosos subitamente, acabaram se envaidecendo e perdendo sua identidade original. Alguns pastores tropeçam muitas vezes, confundindo o fruto do trabalho do Espírito com o resultado de sua própria desenvoltura no púlpito. Até Moisés hesitou em tirar o véu para não revelar ao povo que a glória inicial que resplandecia em seu rosto não existia mais.
Ter poder não é, em si mesmo, um bem ou um mal, uma virtude ou um defeito. Alguns milionários ou políticos cristãos na história foram agentes de grandes transformações que trouxeram justiça e liberdade, enquanto outros se corromperam e se tornaram parasitas de suas nações. Judas, Ananias e Safira, Simão, foram pessoas escravizadas pelo dinheiro enquanto que outras foram escolhidas por Deus para administrar recursos materiais (como José de Arimatéia, Zaqueu, as mulheres que mantinham Jesus e alguns discípulos). Para isso, essas pessoas receberam o poder de não se apegar ao dinheiro e usá-lo para ajudar pessoas e manter o ministério dos discípulos.
Pessoas escolhidas para serem despenseiras de bens materiais, administradoras da “fazenda” de Deus, não são muitas e recebem o poder de Deus para isso. Não é difícil perceber que há uns poucos “ricos” provedores. A maioria que é rica. Sustento, todos devem ter, mas a riqueza não é para todos. A riqueza também não nos isenta do sofrimento. Pelo contrário, essa administração é bem pesada para quem é fiel ao chamado. Não é fácil, para quem tem misericórdia, ter que ouvir, ver e socorrer pessoas em sofrimento. O prazer do consumo pelo consumo não está nessas pessoas.
A ideia aceita por alguns de que o cristão tem que ser uma pessoa de sucesso (leia-se: rica e saudável) é um dos responsáveis pela perda de visão sobre nossa missão na terra. Esse pensamento nos desvia da verdade apresentada por Jesus: “negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”, “no mundo tereis aflições”, “as raposas têm seus covis, as aves têm seus ninhos, mas o filho do homem não tem onde repousar a cabeça”... Heróis da fé como o apedrejado Estevão, os executados Paulo e Pedro, o decapitado João Batista não costumam ser nossa inspiração. Eles receberam outro tipo de poder: amar, perdoar e resistir ao mal até a morte. Quantos de nós buscamos poder para resistir ao mundo e ser santos?
Devemos buscar de Deus aquilo que precisamos para cumprir nossa missão como pais, cônjuges, profissionais e cidadãos cristãos. Devemos pedir poder para perdoar, repartir, orar pelos que nos fazem mal. Buscar poder, dinheiro e glória apenas para saciar nossa vaidade é um caminho curto para perdermos nossa paz e sacrificarmos nossas relações:
“... pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos.” (1 Timóteo 6.7-10).
A simples priorização dessas coisas já é capaz de tirar o nosso foco sobre o mandado de Deus para nós. Pessoas aptas para administrar poder e dinheiro são aquelas que têm estatura espiritual suficiente para não se submeter aos valores materiais.
• José Miranda Filho foi presidente da ABUB (Aliança Bíblica Universitária do Brasil), ministério este ao qual ele está envolvido há mais de três décadas.
Foto: freeimages.com/photo/beetle-1499530
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Penso se, às vezes, alguns de nós não somos fuscas querendo o motor de carros de corrida. Motor, nesse caso, seria o poder adquirido através de dinheiro, glória, talentos, etc. Pedimos a Deus muitas coisas que aumentariam o nosso poder, sem nos perguntarmos se estamos aptos para usá-las com sabedoria, sem nos corromper. O poder corrompe quem não está preparado para lidar com ele. Até quem passa a ganhar dois salários mínimos pode se envaidecer e desprezar quem ganha apenas um. É de amplo conhecimento que muitos “novos ricos” que ganharam na loteria acabaram mal, com seus relacionamentos destruídos. Vários atletas, artistas, que ficaram famosos subitamente, acabaram se envaidecendo e perdendo sua identidade original. Alguns pastores tropeçam muitas vezes, confundindo o fruto do trabalho do Espírito com o resultado de sua própria desenvoltura no púlpito. Até Moisés hesitou em tirar o véu para não revelar ao povo que a glória inicial que resplandecia em seu rosto não existia mais.
Ter poder não é, em si mesmo, um bem ou um mal, uma virtude ou um defeito. Alguns milionários ou políticos cristãos na história foram agentes de grandes transformações que trouxeram justiça e liberdade, enquanto outros se corromperam e se tornaram parasitas de suas nações. Judas, Ananias e Safira, Simão, foram pessoas escravizadas pelo dinheiro enquanto que outras foram escolhidas por Deus para administrar recursos materiais (como José de Arimatéia, Zaqueu, as mulheres que mantinham Jesus e alguns discípulos). Para isso, essas pessoas receberam o poder de não se apegar ao dinheiro e usá-lo para ajudar pessoas e manter o ministério dos discípulos.
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Devemos buscar de Deus aquilo que precisamos para cumprir nossa missão como pais, cônjuges, profissionais e cidadãos cristãos. Devemos pedir poder para perdoar, repartir, orar pelos que nos fazem mal. Buscar poder, dinheiro e glória apenas para saciar nossa vaidade é um caminho curto para perdermos nossa paz e sacrificarmos nossas relações:
“... pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos.” (1 Timóteo 6.7-10).
A simples priorização dessas coisas já é capaz de tirar o nosso foco sobre o mandado de Deus para nós. Pessoas aptas para administrar poder e dinheiro são aquelas que têm estatura espiritual suficiente para não se submeter aos valores materiais.
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