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Opinião

O feitiço do tempo

Redenção e tempo parecem estar, de alguma forma, ligados. No cinema, então, esta relação é recorrente – especialmente naquele que chamamos de cinema de entretenimento. Em Hollywood, ela é o cerne da narrativa, já que em algum lugar, alguém enfrenta alguma dificuldade e precisa aprender algo para conseguir superá-la. E esse aprendizado, leva tempo. E não importa se estamos falando de Luke Skywalker, em uma galáxia muito, muito distante, ou de qualquer casal enamorado que passa por problemas de relacionamento em uma das milhares de comédias românticas genéricas disponíveis nas locadoras. Todos vão experimentar algum tipo de redenção passado o tempo necessário. Aliás, o cinema bem poderia ser definido mais ou menos assim: uma redenção que ocorre no seu devido tempo.

Existem alguns filmes que apresentam esta discussão de uma bastante elaborada e que levam a relação entre redenção e tempo a um patamar mais elevado. É o caso da deliciosa comédia “O Feitiço do Tempo” (Groundhog Day, EUA, 1992), do irregular diretor Harold Ramis (de Máfia no Divã e Férias Frustradas). No longa, uma reviravolta sobrenatural no tempo faz com que um jornalista chamado Phil Connors (interpretado por Bill Murray) reviva o mesmo dia indefinidamente. Para piorar, o dia revivido é o Dia da Marmota, quando toda a cidade de Punxsutawney espera que um pequeno roedor faça uma previsão do futuro ao ver, ou não, a sua própria sombra. O evento é enxergado pelo jornalista como o ponto mais baixo de sua carreira. E, sem maiores explicações, ele se vê obrigado a fazer a cobertura da festa de novo, e de novo, e de novo...

O caminho trilhado por Phil vai do susto inicial pelo inusitado da situação, para a vazão de todos os seus desejos mais reprimidos; e desta para a resignação e o desespero: uma busca por significado, por algo quer sirva para aplacar a angústia de sua existência sem sentido, de todo um tempo vivido sem razão.

Na sequência mais bela do filme, Phil Connors tem seus olhos abertos por conta de um encontro com um velhinho destinado a morrer naquele exato dia, independente de todas as tentativas do jornalista para salvá-lo. E é aí que reside a grande sacada do filme: revelar ao protagonista a importância de cuidar do próximo, mesmo que sem garantia alguma. Ensinar que o tempo precisa ser gasto com os outros, para não ser um tempo em vão.

E assim, Phil caminha de um tempo gasto com prazeres fúteis para um tempo de doação incondicional, revivendo o mesmo tempo até que o tempo faça sentido. E é somente depois deste tempo que Phil descobre a verdadeira essência do amor: doar-se mesmo sem receber nada em troca. E, remindo o tempo, encontra sua redenção.

“O Feitiço do Tempo” é realmente um achado. Bill Murray, à época acostumado a comédias de gosto duvidoso, impressiona pelo bom papel. Andy Macdowell, o interesse romântico do jornalista, tem uma de suas melhores atuações até então. Longe de qualquer chavão, o filme trata do tema da redenção que vem no tempo certo, de uma forma bastante inspiradora. Talvez, como apontou o crítico e roteirista Brian Godawa, falte uma menção mais clara da pessoa de Deus. Mas Ele está lá, sem dúvida, o Senhor do tempo que orquestra a redenção de Phil, e com isto, a redenção de toda uma comunidade.

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Eugenio Petraconi, casado, é jornalista e membro da Comunidade Evangélica Caverna do Adulão, em Belo Horizonte

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Cinema e Fé Cristã (Brian Godawa)
Fé cristã e cultura contemporânea (Leonardo Ramos, Marcel Camargo e Rodolfo Amorim, org.)

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