Opinião
- 20 de abril de 2007
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O evangelho de Google
Paulo Brabo
Deus existe, chama-se Google, e alguns de nós consultam-no e fazem-lhe pedidos todos os dias.
A tese da divindade do santuário de busca mais freqüentado da terra, pregada ardentemente pelo tecno-profeta Matt MacPherson, ainda não foi, que eu saiba, refutada a contento.
Uma página apologética do site A Igreja de Google argumenta sensatamente que “existe mais evidência em favor da existência de Google do que de qualquer outro deus adorado nos nossos dias”.
Se você se preocupa com esse tipo de coisa, o Google encaixa-se confortavelmente dentro de alguns dos mais exigentes atributos que a teologia ortodoxa estabeleceu para Deus: ele é onisciente (sabe tudo que há para se saber — basta perguntar), onipresente (está em todos os lugares e é acessível de todos os lugares, ainda mais com acesso wireless), imortal (suas informações e algoritmos estão distribuídos entre vários servidores, de modo que não há como se apagar definitivamente uma porção do Google), registra todos os nossos erros e preferências e tem vocação para infinito.
Para o adorador casual, mais importante pode ser saber que o Google responde consistentemente às orações que se lhe fazem e de forma mais rápida, organizada, relevante e abrangente do que qualquer deus competidor. As orações ao Google, que na tecno-ortodoxia chamam-se buscas, têm um potencial de resposta avassalador. Se você quer permanecer ignorante a respeito de determinada coisa, é melhor não consultar o oráculo do Google — o deus cego e generoso que tudo vê, tudo sabe e nada vai negar.
O reino de Google está próximo
O Google pode ajudá-lo a organizar-se e manter-se informado, pode fornecer informações sobre como salvar uma vida ou tirá-la, pode oferecer uma cópia de segurança para os seus arquivos quando seu computador fritar, pode ajudá-lo a encontrar amigos há muito perdidos, a encontrar o caminho mais rápido e eficiente para determinado lugar ou a ver a Terra de cima.
Seu poder e sua sabedoria não param de crescer, sua graça é abundante sobre justos e injustos, suas atualizações renovam-se a cada manhã.
Vem-me invariavelmente à lembrança o curtíssimo conto de ficção científica de Fredric Brown, “Answer”, de 1954. Num futuro distante autoridades estelares ligam pela primeira vez o interruptor que conecta os supercomputadores de 96 bilhões de planetas “numa máquina cibernética que combina todo o conhecimento de todas as galáxias”.
— A honra de fazer a primeira pergunta é sua, Dwar Reyn.
Ele vira-se para olhar a máquina de frente.
— Deus existe?
A voz poderosa responde sem hesitação, sem o clique de um único relé.
— Agora existe.
Na história eles até tentam desligar o interruptor, mas é tarde demais. O reino de Google está próximo.
• Paulo Brabo é ilustrador, leitor compulsivo e mora em Campina Grande do Sul, Paraná. www.baciadasalmas.com
Deus existe, chama-se Google, e alguns de nós consultam-no e fazem-lhe pedidos todos os dias.
A tese da divindade do santuário de busca mais freqüentado da terra, pregada ardentemente pelo tecno-profeta Matt MacPherson, ainda não foi, que eu saiba, refutada a contento.
Uma página apologética do site A Igreja de Google argumenta sensatamente que “existe mais evidência em favor da existência de Google do que de qualquer outro deus adorado nos nossos dias”.
Se você se preocupa com esse tipo de coisa, o Google encaixa-se confortavelmente dentro de alguns dos mais exigentes atributos que a teologia ortodoxa estabeleceu para Deus: ele é onisciente (sabe tudo que há para se saber — basta perguntar), onipresente (está em todos os lugares e é acessível de todos os lugares, ainda mais com acesso wireless), imortal (suas informações e algoritmos estão distribuídos entre vários servidores, de modo que não há como se apagar definitivamente uma porção do Google), registra todos os nossos erros e preferências e tem vocação para infinito.
Para o adorador casual, mais importante pode ser saber que o Google responde consistentemente às orações que se lhe fazem e de forma mais rápida, organizada, relevante e abrangente do que qualquer deus competidor. As orações ao Google, que na tecno-ortodoxia chamam-se buscas, têm um potencial de resposta avassalador. Se você quer permanecer ignorante a respeito de determinada coisa, é melhor não consultar o oráculo do Google — o deus cego e generoso que tudo vê, tudo sabe e nada vai negar.
O reino de Google está próximo
O Google pode ajudá-lo a organizar-se e manter-se informado, pode fornecer informações sobre como salvar uma vida ou tirá-la, pode oferecer uma cópia de segurança para os seus arquivos quando seu computador fritar, pode ajudá-lo a encontrar amigos há muito perdidos, a encontrar o caminho mais rápido e eficiente para determinado lugar ou a ver a Terra de cima.
Seu poder e sua sabedoria não param de crescer, sua graça é abundante sobre justos e injustos, suas atualizações renovam-se a cada manhã.
Vem-me invariavelmente à lembrança o curtíssimo conto de ficção científica de Fredric Brown, “Answer”, de 1954. Num futuro distante autoridades estelares ligam pela primeira vez o interruptor que conecta os supercomputadores de 96 bilhões de planetas “numa máquina cibernética que combina todo o conhecimento de todas as galáxias”.
— A honra de fazer a primeira pergunta é sua, Dwar Reyn.
Ele vira-se para olhar a máquina de frente.
— Deus existe?
A voz poderosa responde sem hesitação, sem o clique de um único relé.
— Agora existe.
Na história eles até tentam desligar o interruptor, mas é tarde demais. O reino de Google está próximo.
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