Opinião
- 14 de novembro de 2023
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O “evangelho” da autoajuda
Por Rego Antunes Duarte
O evangelho da autoajuda é o “outro evangelho”, que põe o homem no centro e não Jesus Cristo. Se preocupa com as opiniões da massa sobre o que fazer para ser relevante aos incrédulos e encher os templos. A vontade de Deus é descartada a despeito de se ler um trecho curto da Bíblia a fim de serem conhecidos como evangélicos.
Não são todos os que alcançam a longevidade. Precisamos assimilar que a velhice é uma estação tão natural quanto às estações do ano e que cada fase da vida tem suas especificidades e belezas próprias. Ao publicar esta matéria de capa, Ultimato deseja encorajar um novo olhar para a velhice: um novo olhar dos idosos para eles mesmos e um novo olhar para os idosos por parte da igreja e da sociedade.
É disso que trata a matéria de capa da edição 404 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Quero partir do princípio de que autoajuda existe. Não posso nem quero negar sua existência, ou iria contra o senso comum e experiência de todos. Ajudar-se a si mesmo é uma capacidade que o ser humano tem de, pela experiência de vida, ou percepção e análise de uma situação, fazer escolhas melhores que outras que tenha feito anteriormente para seu próprio bem-estar.
Ajudar-se a si mesmo é capacidade de todo ser humano inteligente, que se observa, ouve opiniões de outros (mais ou menos experientes que ela) e, opta por mudanças de hábitos. Às vezes, por necessidade, somos obrigados a ajudarmos a nós mesmos. Por exemplo, quando sofremos de uma doença, que nos obriga mudar estilo de vida, alimentação, dentre outros; nascimento de filhos, que mudam escolhas e percepções de mundo dos pais; a procura de empregos e muitas outras obrigações.
Sim, a autoajuda existe e é possível. A ressalva que fazemos é quanto a um tipo de autoajuda, aquela mística, chamada espiritual. O coração humano é cheio de pecados e de ódio a Deus. As Escrituras dizem que, por natureza, somos inimigos de Deus (Ef 3.2). Toda autoajuda só é possível de acontecer na esfera “material”, que é um campo, digamos, neutro, onde tanto regenerados quanto não-regenerados podem agir de acordo com sua própria natureza.
A autoajuda espiritual, em si, é uma contradição. O ser humano, segundo as Escrituras, está morto em seus pecados. O homem é espiritualmente morto e não pode se ajudar. O morto não sabe que está morto e nem sabe que precisa de ajuda. Isso deveria ser algo óbvio! Mas infelizmente não é. Porém, os vivos, “os espiritualmente vivos”, sabem que os mortos estão mortos. Pela experiência sabemos que os vivos sabem da condição do defunto, mas o defunto, de nada mais sabe.
Se falarmos de autoajuda na esfera da igreja, ou do evangelicalismo moderno, não estaremos trazendo nenhuma novidade aos bens informados. Faz tempo que o vírus da autoajuda infectou as igrejas, a pregação do Evangelho que, neste caso, deixa de ser Evangelho, pois autoajuda em princípio é Arminianismo num grau que nem os arminianos clássicos concordariam. É Pelagianismo ou Semipelagianismo. Mas ninguém sabe o que estes termos significam hoje em dia! Noutra oportunidade eu escrevo a respeito.
Faz tempo que algumas igrejas deixaram de confrontar o pecado, para não “ferir o povo” e pregam (mas digo que não é pregação) passos para ser feliz com a ajuda de Deus. A intenção do homem natural não é a glória de Deus, antes é ser feliz com a ajuda de um deus que não é o Deus da Bíblia, mas um gênio da lâmpada que me serve, mas ele só me servirá se eu ajudar a mim mesmo.
Em suma, o evangelho da autoajuda é exatamente o que se propõe a ser: ele ajuda o homem, não o transforma, não o faz nova criatura, não faz o velho homem morrer para que nasça um novo, para a glória de Jesus Cristo. É só uma ajuda e não chega nem perto do “nascer de novo” que as Escrituras requerem para reaproximar o homem do Deus Santo.
O evangelho da autoajuda faz massagem no ego humano, que não precisa de incentivo, pois já é cheio de si mesmo. Este evangelhozinho (todo minúsculo) não pode ser chamado de boas-novas, mas de bons conselhos, ou boa terapia para educar o homem em algumas áreas. O resultado é que este tipo de incentivo é incentivo e propulsão para se chegar mais rápido ao inferno.
O evangelho da autoajuda é o “outro evangelho”, que põe o homem no centro e não Jesus Cristo. Se preocupa com as opiniões da massa sobre o que fazer para ser relevante aos incrédulos e encher os templos. A vontade de Deus é descartada a despeito de se ler um trecho curto da Bíblia a fim de serem conhecidos como evangélicos.
Neste “evangelho” o homem é que é Deus. O homem precisa sentir-se bem e Deus deve estar pronto a ajudar nesta tarefa antropocêntrica e idólatra. Neste evangelho da autoajuda, Deus concede seu trono ao homem e fica-lhe submisso pronto a conceder desejos contanto que a pessoa saiba como “determinar” ou “provar a Deus”, ou “exercer o poder da fé”. Antropocentrismo é a fonte e a foz da autoajuda e do evangelho que o acompanha.
Não vou discorrer agora sobre o Evangelho verdadeiro. Não vou contrapor o falso com o verdadeiro. Prefiro fazer algumas perguntas que nos façam pensar a respeito do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Jesus veio dar um “empurrãozinho” no nosso ego, para nos sentirmos melhores ou nos mostrar que somos pecadores miseráveis destituídos de esperança a não ser nele? Ele veio para nos dar uma ajudazinha a arranjarmos um emprego melhor ou abençoar nosso casamento ou criar nossos filhos, ou para ser a propiciação pelos nossos pecados livrando-nos da ira de Deus e do inferno? Por fim, Jesus existe para fazer parte de sua vida ou para ser sua vida?
Por fim a autoajuda existe em alguns âmbitos por causa da inteligência e experiência que adquirimos, mas autoajuda espiritual é impossível e contradição tendo em vista a morte espiritual de todo homem. O evangelho da autoajuda aproveita o ensejo da vaidade humana alimentando-a ainda mais e desviando a atenção do homem perdido para si mesmo. O homem perdido olha para o homem perdido para tirar de dentro de si algo que seja bom e o faça feliz. Isso é, no mínimo, ridículo e lastimável!
No entanto, o Evangelho de Jesus continua enchendo os corações dos homens que sabem que nada tem de bom em si mesmos. O Evangelho de Jesus tem sido pregado em igrejas menos lotadas, mas sempre foi assim. A verdade do Evangelho deixa o homem com vergonha, sentindo-se nu diante do Senhor do universo. Não há folhas de figueira que cubram sua nudez. O Evangelho desmascara a hipocrisia, mas nos salva da ira de Deus. Melhor, ele nos torna amigos de Deus em Jesus Cristo; filhos adotivos e coerdeiros com Cristo. Que ele, o Cordeiro, nos ajude, porque sem Ele, nada podemos fazer!
- Rego Antunes de Moraes Duarte é ministro presbiteriano, pós-graduado em Exposição Bíblica e Mestre em AT (ambos pelo CPAJ, Mackenzie). É autor de três livros: Contra o Caos (Editora Peregrino), Comentário do Salmo 119 e Labirintos da Alma (ambos pela Fonte Editorial. Em 2024 assumirá a IP Graça (Palmas-TO). O Rev. Antunes é casado com Éryca e tem duas filhas, Eyshilla Raquel e Elyssa Maria.
Não são todos os que alcançam a longevidade. Precisamos assimilar que a velhice é uma estação tão natural quanto às estações do ano e que cada fase da vida tem suas especificidades e belezas próprias. Ao publicar esta matéria de capa, Ultimato deseja encorajar um novo olhar para a velhice: um novo olhar dos idosos para eles mesmos e um novo olhar para os idosos por parte da igreja e da sociedade.
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Saiba mais:
» A Vida Em Cristo, John Stott
» Não Perca Jesus de Vista, Elben César
» O Evangelho em uma Sociedade Pluralista, Lessline Newbigin
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