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Opinião

O escândalo do evangelho da satisfação pessoal

Por Elben César

Não importa o tamanho da crise ou da infidelidade. É preciso recomeçar e acreditar que o Senhor que afirmamos amar e adorar continua à porta.

Alguém precisava pôr o dedo na ferida e mostrar que o tumor deve ser espremido. Tinha de ser uma pessoa com declarada autoridade bíblica, teológica e moral. Não podia ser um caçador de escândalo, um pregador ávido para chamar a atenção de todos para si mesmo, um porta-voz da mídia sensacionalista. Tinha de ser alguém que falasse alto, que mostrasse fatos, que misturasse coragem com seriedade e zelo com amor. Tinha de ser alguém que falasse com precisão, não de maneira globalizante, mesmo que o escândalo seja globalizado. Tinha de ser alguém que confessasse o pecado de sua própria nação e não das outras nações, e dissesse como Neemias: “Confesso os pecados que nós, os israelitas, temos cometido contra ti” (Ne 1.6).

O americano Ronald J. Sider, professor de teologia, ministério holístico e de políticas públicas, editor da revista PRISM e colaborador da Christianity Today e da Sojourners, pôs o dedo na ferida. Ele é autor de O Escândalo do Comportamento Evangélico, publicado pela Editora Ultimato um ano depois de ter sido lançado nos Estados Unidos (Baker Books, 2005) e de ter recebido o Christianity Today Book Award 2006.

Arriscamos afirmar que se 10% da liderança evangélica brasileira ler esse livro com atenção, muita coisa vai mudar aqui no Brasil, porque, por meio dele, Deus pode chamar nossa atenção para o nosso escândalo e brecar o que está acontecendo em nosso meio.

Veja algumas denúncias de Ronald Sider em O Escândalo do Comportamento Evangélico:

“O contraste entre o comportamento cristão contemporâneo e o ensino e a prática do Novo Testamento é absoluto” (p. 31).

“O que as primeiras gerações de evangélicos [...] consideravam e aceitavam como responsabilidade e dever de todos os que fazem parte do corpo de Cristo perdeu-se ao longo do tempo. O que está na moda atualmente é o evangelho da satisfação pessoal” (p. 86).

Enquanto o ensino de Jesus e dos apóstolos conclamava os cristãos a serem sal da terra, luz do mundo, testemunhas da graça e da verdade, o bom perfume de Cristo e “cartas de recomendação” (Mt 5.13-16; At 1.8; 2 Co 2.15; 3.2), os cristãos hodiernos são em sua maioria e frequentemente motivo de escândalo (“aquilo que é causa de erro ou pecado”). Sider explica que a ótima qualidade de vida dos cristãos primitivos atraía as pessoas a Cristo, e hoje nossa hipocrisia quase sempre as afasta dele (p. 32).

Entre os muitos escândalos, o autor cita que “nos Estados Unidos o divórcio é mais comum entre cristãos ‘nascidos de novo’ [que se dizem realmente convertidos] do que entre a população em geral” (p. 13) e “o percentual de homens cristãos envolvidos em pornografia não é muito diferente do número de não-salvos” (p. 25).

A análise devastadora do autor é também um apelo aos seus leitores. Não importa o tamanho da crise ou da infidelidade. É preciso recomeçar e acreditar que o Senhor que afirmamos amar e adorar continua à porta. A fé bíblica faz diferença. Ou, nas palavras do autor, “alguém duvida que o nosso Senhor anseia responder aos nossos apelos por um reavivamento?” Ronald Sider acrescenta no último capítulo, “Raios de esperança”:

“Choro e arrependimento são as únicas atitudes corretas diante da desobediência escancarada e generalizada dos evangélicos” (p. 124).

“A constatação da profundidade do escândalo poderia facilmente nos levar ao desespero. Mas, graças a Deus, a crença no evangelho não nos deixa perder a esperança” (p. 125).

“O Salvador está pronto a perdoar até mesmo os infiéis evangélicos contemporâneos, desde que se arrependam” (p. 126).

Artigo originalmente publicado na edição 305 de Ultimato.


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Saiba mais:
» O escândalo do comportamento evangélico, Ronald J. Sider
» Cristianismo antigo para novos tempos, Paul Freston
» Calvinismo para uma era secular,  Abraham Kuyper
» A inquietante trajetória de Ronald Sider, por Tim Stafford
» O legado de Ronald J. Sider, por Al Tizon
Elben Magalhães Lenz César foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato até a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evangélico de Missões e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Viçosa (IPV), é autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?, Refeições Diárias com Jesus, Mochila nas Costas e Diário na Mão, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeições Diárias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, História da Evangelização do Brasil e Práticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso César, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
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