Opinião
- 12 de setembro de 2018
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O discipulado e a revitalização da igreja
Por Cláudio Marra
A expressão “revitalização de igrejas” e cursos a respeito estão na moda, mas a necessidade de revitalização é problema antigo. Os profetas do Antigo Testamento trabalharam arduamente para revitalizar Israel em seus dias e o Cristo ressurreto escreveu à igreja de Éfeso sobre a urgência de voltar ao esplendor dos dias do primeiro amor. Depois disso, ao longo dos séculos, líderes piedosos dedicaram-se à revitalização da igreja. Richard Baxter (1615-1691) viveu quando comunidades decadentes eram o que mais havia na Inglaterra, como a paróquia de Kidderminster. Esse pastor aceitou servir ali e seu trabalho de revitalização teve as seguintes características:
1. Um púlpito forte. Baxter era bom pregador. Colegas seus, mesmo os experientes, vinham ouvi-lo. Muita gente comparecia e o auditório ficava repleto. Tiveram de ampliar o recinto. Mas ele não ficou vaidoso. Era um pastor e quis saber que diferença sua pregação estava produzindo nos crentes. Foi conversar com eles a respeito. O que haviam entendido de seus sermões? Como a mensagem pregada os ajudava a crescer em santidade?
O resultado de suas pesquisas teria demolido muitos pregadores. É que os crentes sequer haviam compreendido as mensagens, muito menos estavam colocando-as em prática. Baxter então não desistiu. Não colocou a culpa na ignorância (real) do povo. Não se julgou merecedor de auditório melhor, antes, elaborou um plano para alcançar os seus paroquianos. Em reuniões realizadas às quintas, o pastor explicava o último sermão aos crentes, respondia perguntas, orava com eles. Aos sábados era a reunião da mocidade, com os mesmos fins e formato.
2. Uma catequese consistente. Dois dias por semana, Baxter e um auxiliar percorriam a comunidade estudando com os paroquianos o Breve Catecismo de Westminter, recém-lançado. Um a um, todos tinham oportunidade de responder perguntas e conversar sobre sua aplicação. Não era exercício de memória, apenas, mas de devoção e piedade.
Com esse programa, em um ano toda a igreja havia sido visitada e Baxter recomeçava tudo no ano seguinte, o que ele fez por 16 anos. Isso proporcionou sólida doutrinação e desenvolvimento em santidade.
3. Fortalecimento das famílias. Os grupos visitados durante a semana eram as famílias de Kidderminster. Baxter confrontava o chefe da casa sobre como esse marido e pai estava conduzindo seu lar na piedade. Havia séria admoestação ao crescimento em santidade e exortação quanto aos empecilhos existentes. Cada membro da família era entrevistado, com os devidos cuidados para não criar embaraço para os mais tímidos ou para mulheres, diante de um entrevistador masculino.
O fortalecimento das famílias foi parte importantíssima na revitalização de Kidderminster. Muitas delas tomaram para si a tarefa de discipular outras e, anos depois da partida do pastor, sua boa influência ainda podia ser percebida ali. Foi uma revitalização duradoura.
4. Cuidado com a disciplina. Não sendo pastor de gabinete, desses que podem até fazer boa exegese do texto, mas não sabem ler a congregação, Baxter foi zeloso com a disciplina. Acompanhava os paroquianos que insistiam em permanecer no pecado, para promover, assim, a recuperação deles, a purificação da comunidade e a proteção da Ceia do Senhor. Os recalcitrantes eram impedidos de participar da mesa da comunhão, mas não sem que tivessem primeiro sido acompanhados e alertados sobre sua vida e conduta.
Ignorar a disciplina eclesiástica impossibilita e frustra qualquer esforço de revitalização, deteriorando o rebanho e espalhando o mau odor do pecado. Em Kidderminster, ao contrário, segundo George Whitefield, “o bom perfume de Baxter” podia ser apreciado mesmo um século depois de sua morte.
5. Ministério integral. Mesmo enquanto olhava seu rebanho tão de perto e com tamanha atenção, Baxter não descuidava do que se passava no país e na vila. Suas posições quanto à igreja no âmbito nacional acabaram levando-o à prisão, mas sua dedicação integral ao seu rebanho o fazia agir para reduzir o sofrimento das ovelhas. Esse pastor nunca “passou de largo” quando carentes precisaram dele, ao contrário, tomou iniciativas inspiradoras. Para estudar o catecismo com ele, alguns precisavam faltar ao trabalho, com algum prejuízo financeiro. Baxter então, mesmo não sendo rico e sem que isso lhe fosse solicitado, os reembolsava.
As visitas pastorais às famílias, realizadas por pastor e presbítero, continuaram durante muitas décadas no meio reformado. A catequese continuou por esse período.
Seria prudente afirmar, hoje, que a adoção de quaisquer outros meios de instrução da comunidade deveria considerar como esse recurso contribui no processo de revitalização. De modo especial, incluindo pastores e presbíteros na avaliação de como o que está sendo ensinado é absorvido e praticado pelos cristãos da comunidade.
Um meio de instrução que promove a perda de contato próximo entre os pastores e as famílias e o processo contínuo de catequese deve ser revisto. A revitalização da igreja depende disso.
Para melhor conhecer Baxter e avaliar algumas ideias de como aplicar em nossos dias seu plano de discipulado e revitalização da sua comunidade, ver A Igreja Discipuladora, de Cláudio Marra, agora em sua segunda edição. Ver também Manual Pastoral de Discipulado de Richard Baxter, da Cultura Cristã.
• Cláudio Marra, casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.
Leia mais
» O Discipulado na Igreja Local
A expressão “revitalização de igrejas” e cursos a respeito estão na moda, mas a necessidade de revitalização é problema antigo. Os profetas do Antigo Testamento trabalharam arduamente para revitalizar Israel em seus dias e o Cristo ressurreto escreveu à igreja de Éfeso sobre a urgência de voltar ao esplendor dos dias do primeiro amor. Depois disso, ao longo dos séculos, líderes piedosos dedicaram-se à revitalização da igreja. Richard Baxter (1615-1691) viveu quando comunidades decadentes eram o que mais havia na Inglaterra, como a paróquia de Kidderminster. Esse pastor aceitou servir ali e seu trabalho de revitalização teve as seguintes características:
1. Um púlpito forte. Baxter era bom pregador. Colegas seus, mesmo os experientes, vinham ouvi-lo. Muita gente comparecia e o auditório ficava repleto. Tiveram de ampliar o recinto. Mas ele não ficou vaidoso. Era um pastor e quis saber que diferença sua pregação estava produzindo nos crentes. Foi conversar com eles a respeito. O que haviam entendido de seus sermões? Como a mensagem pregada os ajudava a crescer em santidade?
O resultado de suas pesquisas teria demolido muitos pregadores. É que os crentes sequer haviam compreendido as mensagens, muito menos estavam colocando-as em prática. Baxter então não desistiu. Não colocou a culpa na ignorância (real) do povo. Não se julgou merecedor de auditório melhor, antes, elaborou um plano para alcançar os seus paroquianos. Em reuniões realizadas às quintas, o pastor explicava o último sermão aos crentes, respondia perguntas, orava com eles. Aos sábados era a reunião da mocidade, com os mesmos fins e formato.
2. Uma catequese consistente. Dois dias por semana, Baxter e um auxiliar percorriam a comunidade estudando com os paroquianos o Breve Catecismo de Westminter, recém-lançado. Um a um, todos tinham oportunidade de responder perguntas e conversar sobre sua aplicação. Não era exercício de memória, apenas, mas de devoção e piedade.
Com esse programa, em um ano toda a igreja havia sido visitada e Baxter recomeçava tudo no ano seguinte, o que ele fez por 16 anos. Isso proporcionou sólida doutrinação e desenvolvimento em santidade.
3. Fortalecimento das famílias. Os grupos visitados durante a semana eram as famílias de Kidderminster. Baxter confrontava o chefe da casa sobre como esse marido e pai estava conduzindo seu lar na piedade. Havia séria admoestação ao crescimento em santidade e exortação quanto aos empecilhos existentes. Cada membro da família era entrevistado, com os devidos cuidados para não criar embaraço para os mais tímidos ou para mulheres, diante de um entrevistador masculino.
O fortalecimento das famílias foi parte importantíssima na revitalização de Kidderminster. Muitas delas tomaram para si a tarefa de discipular outras e, anos depois da partida do pastor, sua boa influência ainda podia ser percebida ali. Foi uma revitalização duradoura.
4. Cuidado com a disciplina. Não sendo pastor de gabinete, desses que podem até fazer boa exegese do texto, mas não sabem ler a congregação, Baxter foi zeloso com a disciplina. Acompanhava os paroquianos que insistiam em permanecer no pecado, para promover, assim, a recuperação deles, a purificação da comunidade e a proteção da Ceia do Senhor. Os recalcitrantes eram impedidos de participar da mesa da comunhão, mas não sem que tivessem primeiro sido acompanhados e alertados sobre sua vida e conduta.
Ignorar a disciplina eclesiástica impossibilita e frustra qualquer esforço de revitalização, deteriorando o rebanho e espalhando o mau odor do pecado. Em Kidderminster, ao contrário, segundo George Whitefield, “o bom perfume de Baxter” podia ser apreciado mesmo um século depois de sua morte.
5. Ministério integral. Mesmo enquanto olhava seu rebanho tão de perto e com tamanha atenção, Baxter não descuidava do que se passava no país e na vila. Suas posições quanto à igreja no âmbito nacional acabaram levando-o à prisão, mas sua dedicação integral ao seu rebanho o fazia agir para reduzir o sofrimento das ovelhas. Esse pastor nunca “passou de largo” quando carentes precisaram dele, ao contrário, tomou iniciativas inspiradoras. Para estudar o catecismo com ele, alguns precisavam faltar ao trabalho, com algum prejuízo financeiro. Baxter então, mesmo não sendo rico e sem que isso lhe fosse solicitado, os reembolsava.
As visitas pastorais às famílias, realizadas por pastor e presbítero, continuaram durante muitas décadas no meio reformado. A catequese continuou por esse período.
Seria prudente afirmar, hoje, que a adoção de quaisquer outros meios de instrução da comunidade deveria considerar como esse recurso contribui no processo de revitalização. De modo especial, incluindo pastores e presbíteros na avaliação de como o que está sendo ensinado é absorvido e praticado pelos cristãos da comunidade.
Um meio de instrução que promove a perda de contato próximo entre os pastores e as famílias e o processo contínuo de catequese deve ser revisto. A revitalização da igreja depende disso.
Para melhor conhecer Baxter e avaliar algumas ideias de como aplicar em nossos dias seu plano de discipulado e revitalização da sua comunidade, ver A Igreja Discipuladora, de Cláudio Marra, agora em sua segunda edição. Ver também Manual Pastoral de Discipulado de Richard Baxter, da Cultura Cristã.
• Cláudio Marra, casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.
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Casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.
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