Opinião
- 04 de fevereiro de 2011
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O direito à alegria
Ariovaldo Ramos
E, tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm vinho […]. [O mestre sala chamou o noivo] e lhe disse: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho. Jo 2.3,10
Os noivos que estavam a celebrar o seu casamento eram pobres: o vinho acabou prematuramente, e era de qualidade inferior.
A gente sabe que o vinho acabou antes da hora, porque Maria intercedeu por eles, o que não faria sentido se a festa tivesse se estendido pelo tempo, tido como razoável, pela cultura deles.
O pedido foi para que houvesse mais vinho, para que a festa não fosse interrompida. O pressuposto por detrás do pedido era o direito dos noivos à celebração de sua alegria. Quando, porém, a celebração da alegria depende de ter ou não acesso aos bens de consumo, quem não tem renda para isso ainda tem o direito?
É direito ou é liberdade para, desde que se tenha possibilidade de?
Se é liberdade para, desde que se tenha possibilidade de, então, não ter a renda necessária impede o acesso aos meios possibilitadores, e sobra o desejo, permitido, mas, não realizável.
Todos podem ter motivos de alegria, mas, só quem tem acesso aos bens de consumo celebra a sua alegria com a qualidade, que entenda, minimamente, digna!
Se é direito, os meios têm de ser providenciados, porque direito é universal.
O que é de se lamentar: um pobre conseguir morar na casa com que sonhou, porque virou bandido, ou um pobre só conseguir morar numa casa digna se virar bandido?
Jesus entendeu que estava diante da exigibilidade do direito (isto é, se é direito, tem de ser garantido), por isso fez um milagre antes da hora, para sustentar o direito dos noivos de celebrar, de forma digna, a sua alegria.
Viver não é preciso, mas é preciso alegria para que, na imprecisão da vida, fique claro que é vida. Alegria que não pode ser celebrada, por falta de acesso aos bens mínimos necessários para, é alegria condenada à resignação, o que acaba por colocar em cheque a definição de vida.
Jesus entendeu que não devia ser assim, e fez muito e ótimo vinho.
Esse ato de Jesus dá aos seus alunos uma nova dimensão do papel da comunidade para com os seus membros, e do estado para com a nação, assim como aprofunda a compreensão do que seja “bem comum”.
Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, At 2.44-46
Artigo publicado na série Lances de Caná, no blog do pastor Ariovaldo Ramos.
• Ariovaldo Ramos é pastor na Comunidade Cristã Reformada e na Igreja Batista de Água Branca, ambas em São Paulo.
E, tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm vinho […]. [O mestre sala chamou o noivo] e lhe disse: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho. Jo 2.3,10
Os noivos que estavam a celebrar o seu casamento eram pobres: o vinho acabou prematuramente, e era de qualidade inferior.
A gente sabe que o vinho acabou antes da hora, porque Maria intercedeu por eles, o que não faria sentido se a festa tivesse se estendido pelo tempo, tido como razoável, pela cultura deles.
O pedido foi para que houvesse mais vinho, para que a festa não fosse interrompida. O pressuposto por detrás do pedido era o direito dos noivos à celebração de sua alegria. Quando, porém, a celebração da alegria depende de ter ou não acesso aos bens de consumo, quem não tem renda para isso ainda tem o direito?
É direito ou é liberdade para, desde que se tenha possibilidade de?
Se é liberdade para, desde que se tenha possibilidade de, então, não ter a renda necessária impede o acesso aos meios possibilitadores, e sobra o desejo, permitido, mas, não realizável.
Todos podem ter motivos de alegria, mas, só quem tem acesso aos bens de consumo celebra a sua alegria com a qualidade, que entenda, minimamente, digna!
Se é direito, os meios têm de ser providenciados, porque direito é universal.
O que é de se lamentar: um pobre conseguir morar na casa com que sonhou, porque virou bandido, ou um pobre só conseguir morar numa casa digna se virar bandido?
Jesus entendeu que estava diante da exigibilidade do direito (isto é, se é direito, tem de ser garantido), por isso fez um milagre antes da hora, para sustentar o direito dos noivos de celebrar, de forma digna, a sua alegria.
Viver não é preciso, mas é preciso alegria para que, na imprecisão da vida, fique claro que é vida. Alegria que não pode ser celebrada, por falta de acesso aos bens mínimos necessários para, é alegria condenada à resignação, o que acaba por colocar em cheque a definição de vida.
Jesus entendeu que não devia ser assim, e fez muito e ótimo vinho.
Esse ato de Jesus dá aos seus alunos uma nova dimensão do papel da comunidade para com os seus membros, e do estado para com a nação, assim como aprofunda a compreensão do que seja “bem comum”.
Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, At 2.44-46
Artigo publicado na série Lances de Caná, no blog do pastor Ariovaldo Ramos.
• Ariovaldo Ramos é pastor na Comunidade Cristã Reformada e na Igreja Batista de Água Branca, ambas em São Paulo.
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