Opinião
12 de dezembro de 2014
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O Dia da Bíblia precisa mexer com os pastores
Outro dia, uma ovelha “com sede, com fome, desejosa de aprender e ansiosa para ser discipulada”, queixou-se dos sermões “sem preparo, sem vida, sem graça, sem glória e sem impacto” que ela tem ouvido a vida inteira. Em um levantamento feito com 422 pastores de diversas regiões do Brasil, o líder batista Lourenço Stelio Rega, diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, constatou que 65% deles se sentem incapazes para o exercício do ministério.
A crise é feia. Há pastores “em busca de status, que nunca empunharam o cajado e nunca sentiram o odor da ovelha”, como diz Júlio Oliveira Sanches, outro líder batista. O pastor em crise “não tem como apascentar o rebanho e buscar a ovelha desgarrada”. Ovelhas em crise não podem ter um pastor continuadamente em crise! É um contrassenso.
Por que o quadro geral do ministério anda assim tão ruim? Uma das respostas, talvez a mais significativa, aparece na pesquisa de Lourenço Stelio Rega: “70% dos pastores não estão satisfeitos com o tempo que investem em sua vida devocional”.
Basicamente a vida devocional depende da leitura da Bíblia e de oração. Na leitura da Palavra, ouvimos a voz de Deus. Na oração, Deus ouve a nossa voz. É desse maravilhoso intercâmbio diário e bem feito que o pastor consegue manter sua comunhão com Deus. Por isso, deveríamos levar a sério o Dia da Bíblia, que será comemorado no próximo domingo, dia 14.
Deixando o exercício da oração para outra ocasião, tentemos nos aprofundar no valor da leitura da Bíblia. Na verdade, a leitura da Bíblia é aquele esforço de enxergar toda a riqueza que está por trás de cada versículo, de cada capítulo e de cada página das Escrituras, de relacionar texto com texto, de sugar todo o leite contido na Palavra revelada e escrita, mediante a leitura responsável e o auxílio do Espírito Santo. O problema não é apenas a ausência da leitura mas também a leitura formal, esporádica e desordenada da Bíblia. A ovelha e o pastor, mais este do que aquela, precisam valorizar muito mais a leitura devocional (em busca de Deus) do que as leituras homilética (em busca de sermão), apologética (em busca de argumentos) e supersticiosa (em busca de recadinhos da parte de Deus).
Quem não lê devocionalmente as Escrituras não ouve a voz do Senhor (pois a Bíblia é a Palavra de Deus); não cresce no conhecimento do Senhor (pois a Bíblia é como que a biografia de Deus); não conhece a vontade de Deus em matéria de doutrina e em matéria de comportamento (pois a Bíblia contém a revelação tanto das certezas como dos procedimentos); não recebe aquele alimento que produz saúde espiritual (pois “nem só de pão viverá o homem mas de toda palavra que procede da boca de Deus”); não ganha benefícios de valor inestimável como consolo, correção, disposição, força, entusiasmo, esperança, formação, paz de espírito, pontos de apoio, segurança e tranquilidade (pois a Bíblia é como “uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie”); e não armazena na memória nem nos porões do subconsciente as promessas e os mandamentos para socorro em tempo de vacas magras (pois a Bíblia “vai até o lugar mais fundo da alma e do espírito, vai até o íntimo das pessoas”).
Para haver real e continuado proveito na leitura da Bíblia é preciso valorizar muito mais a qualidade do esforço do que a quantidade de capítulos lidos. Por causa da tradição de ler toda a Bíblia durante o ano, temos sacrificado tremendamente o valor prático da leitura. É preferível gastar uma hora ruminando um capítulo da Bíblia do que ler automaticamente dez ou mais capítulos.
Para sugar o leite da Palavra, é preciso não apenas ler (percorrer com os olhos o que está escrito), mas especialmente meditar na Palavra, isto é, ficar bem por dentro do texto, tanto intelectualmente como espiritualmente, saborear, mastigar, engolir e digerir. O método de consultar passagens paralelas, de relacionar texto com texto, não apenas ajuda a entender o que está escrito como também edifica a alma. Com tantas traduções e paráfrases hoje a nossa disposição, é de todo proveitoso consultar outras versões para compreender melhor o texto lido.
A memorização, não necessariamente a decoração, é outro exercício de grande valor. Memorizar significa meter na cabeça, entregar à memória, reter, armazenar na dispensa interior. É o mesmo que inculcar (Dt 6.7) ou guardar “no fundo do coração” (Pv 4.21). A memorização das promessas, das advertências e do consolo das Escrituras torna possível a lembrança dessas mesmas promessas e advertências em ocasião oportuna. Em qualquer momento, em qualquer circunstância, em qualquer crise e em qualquer lugar, a pessoa que tem a cabeça cheia da Palavra de Deus, consegue retirar da despensa interior o que ali foi armazenado e usufruir outra vez da bênção do Senhor. Por causa desse exercício, ela pode vencer a tentação e a provação, enxugar as lágrimas e passar de cabeça erguida por qualquer crise de qualquer natureza e intensidade. Devemos ser gratos a Deus por este tremendo exercício espiritual que ele coloca em nossas mãos!
Nós, os pastores de hoje, precisamos de uma revolução em benefício próprio, das ovelhas, da igreja e do reino de Deus. Precisamos imitar urgentemente certo líder hebreu: “Esdras havia dedicado a sua vida a estudar, e a praticar a Lei do Senhor, e a ensinar todos os seus mandamentos ao povo de Israel” (Ed 7.10). Por causa desse voto, dessa resolução, alguns anos depois, esse escriba foi o principal instrumento de Deus para que houvesse um grande despertamento em Israel na época do retorno dos judeus que estavam na Babilônia, como se lê em Neemias, a partir do capítulo 8. Tal evento pode acontecer no Brasil, caso os 70% dos pastores do levantamento feito por Lourenço Stelio Rega hoje insatisfeitos com o tempo que investem em sua vida devocional mudarem da água para o vinho!
Elben Magalhães Lenz César foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato até a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evangélico de Missões e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Viçosa (IPV), é autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?, Refeições Diárias com Jesus, Mochila nas Costas e Diário na Mão, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeições Diárias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, História da Evangelização do Brasil e Práticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso César, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
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