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Por Escrito

Enfrentando gigantes: o dia a dia do ministério de capelania hospitalar

Por Eleny Vassão
 
Capelania hospitalar é um ministério ao mesmo tempo desafiador e edificante. Ao adentrar um quarto no hospital, você não sabe quem é a pessoa que está ali deitada em seu leito, não sabe sua história, sua enfermidade ou a maneira como a está vivenciando.  Mais ainda: não sabe seus valores ou sua fé, se esta está alicerçada sobre a areia ou sobre a Rocha. Você também não sabe como ela o receberá, nem a progressão que terá sua doença. Você só sabe que, a partir de sua decisão de entrar neste quarto, você também estará se comprometendo a, diariamente, cuidar espiritual, emocional e socialmente desta pessoa e de seu familiar, durante todo o seu tempo de internação e de todas as intercorrências que possam haver, até sua alta ou até sua morte.
 
Contrário a todas as exigências de não-envolvimento feitas na formação acadêmica de certas áreas para os profissionais da saúde, na capelania você terá que “entrar de cabeça”, deixando que toda a sua sensibilidade aflore, tornando-o mais empático e receptivo, fazendo deste enfermo e de sua família parte da sua família maior, ajudando-os a encontrar, num novo relacionamento com Deus, a esperança, a paciência, a segurança e a paz que só podem ser dadas por uma pessoa: Jesus. 
 
A cada dia, saímos dos hospitais exaustos emocionalmente, mas ao mesmo tempo com o coração cheio de gratidão por termos sido usamos pelo Senhor para levar o cuidado que somente a Sua Pessoa nos capacita a dar, ao nos encher do Seu amor e nos oferecer palavras para responder às necessidades que surgem em meio à dor.
 
Vinícius é um de nossos capelães hospitalares, trabalha no Grupo em Defesa da Criança com Câncer (GRENDACC), em Jundiaí, SP, e vai nos contar a história de como fez um de seus atendimentos pela Capelania Evangélica da ACS-Associação de Capelania na Saúde.
 
Enfrentado gigantes
Relato de caso de Vinícius Oliveira da Costa 
 
Era uma manhã de quinta-feira quando, no ambulatório de especialidades pediátricas, me deparei com uma mãe cujo olhar revelava profunda preocupação. Ao seu lado estava M., um garotinho de seis anos que parecia não saber bem o que estava acontecendo. Aproximei-me num acolhimento inicial e perguntei se poderia ajudá-la em alguma coisa. Ela confessou-me estar se sentindo perdida. 
 
Ela e o filho tinham chegado naquela manhã, vindos de outra cidade buscando socorro médico para a criança, pois ele havia caído de bicicleta e, após exames, diagnosticado com uma grande massa na região do mediastino (sub-região do tórax). O médico do hospital em que estavam solicitou a transferência para o nosso hospital, com vistas à realização de uma cirurgia de emergência, visto que o tumor estava oferecendo grave risco à saúde da criança. 
 
Eles chegaram de ambulância. Nesse interim, o pai de M. se perdera no caminho, pois havia confundido o hospital para onde deveria ir.
 
Após o acolhimento da capelania, a médica logo os chamou para a consulta. Preocupada, a médica confessou-nos que iria preparar a internação de M., pois as imagens dos exames eram muito graves. Assim que eles se acomodaram no quarto, fui visitá-los, levar-lhes materiais lúdicos e uma revista de histórias bíblicas para colorir. Encorajei-os a confiar em Deus. Coloquei-me à disposição e me despedi. 
 
No dia seguinte, logo cedo, fui à enfermaria para saber como eles haviam passado a noite. Deparei-me com uma equipe de enfermagem bastante apreensiva. Falaram-me da complexidade da cirurgia, que aconteceria em alguns minutos, bem como a chegada de um dos principais cirurgiões oncopediátricos do estado de São Paulo para a realização do procedimento , dada a exigência da ressecção de um tumor que apresentava-se bastante vascularizado e próximo ao coração. O risco era de uma parada cardíaca logo no início do procedimento. Solicitaram-nos o preparo de M. e seus pais, pois a mãe dizia que estava com um “mau pressentimento”. Enquanto colhia informações com a enfermagem, os cirurgiões chegaram para conversar com a família sobre a cirurgia. Aproveitei esse tempo para preparar-me para entrar no quarto em seguida.
 
No quarto, apresentei-me novamente e me aproximei de M., que parecia não se dar conta do que estava prestes a vivenciar. Introduzi uma das histórias bíblicas que mais costumo contar às crianças que se encontram no pré-operatório: Davi e Golias. A princípio, ele não se interessou muito, uma vez que estava fazendo algo interessante em seu celular, mas fui lhe instigando a curiosidade a respeito da cena do livro e, quando percebi, tanto ele quanto seus pais estavam fixos na imagem do pequeno Davi enfrentando o grande Golias, interessados em saber mais. Falei-lhes que naquele dia eles tinham um grande desafio a ser enfrentado e, que assim como Deus havia dado forças para Davi enfrentar o gigante, Ele também se fazia presente naquela situação e poderia lhes dar a força necessária para o momento. Juntos, oramos por M., oramos por seus pais, oramos por toda a equipe que participaria do procedimento e entregamos os resultados ao Senhor. 
 
No final do dia, tive a notícia de que a cirurgia havia sido um sucesso e sem nenhuma intercorrência. Louvamos ao Senhor pela Sua maravilhosa graça e providência, assim como pelo fortalecimento da fé de M. e de seus pais no cuidado de Deus, que nos ajuda a enfrentar até mesmo os gigantes mais assustadores.
 
Você também pode se preparar para este ministério em sua região, através do nosso Curso de Capelania Hospitalar Nível 1 em EAD, a ser lançado em breve. Veja mais informações aqui.

• Eleny Vassão de Paula Aitken é capelã hospitalar há 38 anos, diretora geral da Associação de Capelania na Saúde (ACS), capelã-missionária pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil; especializada em Cuidados Paliativos, mestre em Aconselhamento Bíblico e autora de 33 livros.

 

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