Opinião
- 23 de julho de 2012
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O desconhecido Lewis
C. S. Lewis (1898-1963), nascido em Belfast, foi professor assistente em Oxford em várias áreas e depois, catedrático em Cambridge, na área de Literatura Inglesa Medieval e Renascentista.
Sua vasta obra nos campos da filosofia, da teologia e da ficção, a julgar pelas “Crônicas de Nárnia”, que mereceram a atenção de Walt Disney, é tão marcante, que muitas vezes nos esquecemos de sua contribuição ao mundo acadêmico, que não foi pequena.
Mais fascinante ainda é atentar para a sua história de vida, relatada na sua autobiografia, “Surpreendido pela Alegria”, uma história apaixonante de conversão de um ateu, convencido de que suas faculdades mentais e psíquicas eram suficientes para não precisar de Deus, para a fé em Cristo. Aliás, ele mesmo confessa que se trata da história de um homem desesperadamente preocupado em evitar que Deus interferisse na sua vida.
Quando, finalmente, aos 30 anos de idade, ele deu o seu primeiro passo de volta para o cristianismo, de onde partiu com a morte prematura de sua mãe, quando ele não contava com mais do que nove anos de idade, Lewis confessou que foi o “mais relutante de todos os convertidos”. E esse foi apenas o começo de uma longa jornada de volta para o seu lar perdido e muito desejado.
Numa série ainda inédita no Brasil, com a qual nos brinda a Editora É-Realizações, vamos conhecer um aspecto dessa mente brilhante que poucos, mesmo apreciadores de sua obra, conhecem e que não conta com muitos apreciadores. Também não conta com a popularidade de sua obra de ficção.
O primeiro livro da série, “Alegoria do Amor”, é um estudo de obras alegóricas que marcaram, na literatura inglesa, a virada da Idade Média para o Renascimento. O que elas têm em comum? O uso das figuras de linguagem para expressar os mais profundos anseios do coração humano, muitas vezes encarnados na figura da musa inspiradora.
“A Imagem Descartada” é uma análise da cosmovisão medieval e de como ela entrou em crise com o Renascimento. Não se trata de uma visão saudosista, mas trata-se antes de um corretivo anterior ao feito por grandes medievalistas como Étienne Gilson e Henri Marrou para o preconceito frequente com que lidamos com as coisas medievais.
Já “Estudos de Literatura Medieval e Renascentista” é um tratado mais profundo de obras já abordadas em “A Imagem Descartada”, tais como Spenser e Dante, entre outros, mas com outro enfoque: no que essa literatura tem de contributivo para o patrimônio comum da literatura mundial.
Finalmente, “Prefácio ao Paraíso Perdido” é um estudo em profundidade de um dos autores em que Lewis era especialista: Milton e seu estilo épico.
Todos esses livros têm em comum o tema de fundo que perpassa também o tipo de literatura abordada, que é o da filosofia e da teologia. Talvez fosse interessante notar que Lewis e seus colegas, os “Inklings”, tinham um método particular de fazer teologia, que era o que chamavam de “teologia do romance”, que muitos, hoje, chamam de “teopoésis”. Então, longe de interessar apenas a “experts” em literatura medieval e renascentista inglesa, esses livros apelam a todos aqueles que estão empenhados em ver o mundo com outros olhos e aprender com o outro, pela via da literatura.
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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