Opinião
- 13 de julho de 2011
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O descanso e as terras livres (Levítico 25), por Milton Schwantes
O ano do Jubileu se situa nessas tradições. Em um contexto peculiar e no desenvolvimento dessas tradições do dia de sábado e do ano sabático, desdobra-se com vitalidade outra antiga tradição de Israel. Ainda que antigo, esse costume jubilar só veio a florescer em tempos de exílio e pós-exílio, mas então com redobrado vigor e rigor. Só haverá futuro se houver nova lida com a terra. Eis a questão!
Um desaguadouro e um projeto para o recomeço — Levítico 25.8-55
Na tentativa de realçar o sentido e a própria atualidade de Levítico (25.8-55), devem-se considerar vários aspectos. Comecemos pelo Novo Testamento, com o texto de Lucas 4. Afinal, há quem possa ter a impressão de que anseios concretos como os de “reforma agrária” não caberiam na proclamação de Jesus. É importante perceber a concretude de seu evangelho, de seu sentido em favor de alimento e de terra para o povo de Deus. As palavras do capítulo 4 são centrais no evangelho de Jesus em Lucas (veja também o Magnificat de Maria em Lucas 1.46-55).
O ano aceitável — Lucas 4.16-30
Na verdade, esse texto de Lucas se baseia especificamente em Isaías 61.1-4, mas situa-se também no âmbito de Levítico 25. Particularmente interessa o versículo 19, que se refere claramente ao Jubileu: “E apregoar o ano aceitável do Senhor”. Essa é, à luz do verso 18, a última e decisiva tarefa messiânica. Esse “ano aceitável” celebra o direito de todas as pessoas aos bens sociais, em especial à terra. Vida digna tem a ver com acesso à terra; sem terra a vida se desumaniza. A tragédia brasileira de milhões de pessoas sem nada é a da terra de poucos; 500 anos de vida sem chão sob os pés resultam na tristeza de nossas favelas e malocas. Deus nos dá o ano da graça! Abre portões e apodrece cercas!
O ano da graça é a bem-aventurança suprema (v. 18). Quatro detalhes o realçam: dois afloram por palavras e dois, por atos, o que, em sentido bíblico, são dois lados do mesmo. Esse ano da graça se faz evangelizando e proclamando. Pobres são evangelizados, pois na graça sua desgraça se desfaz. Aos cativos será proclamada libertação! Cada um desses propósitos é mais lindo que o outro em seu afim de nova vida. O ano da graça se faz também na “restauração da vista” e na “libertação dos cativos”. Esse ano da graça vale a pena, porque suas palavras são maravilhosas e suas ações libertadoras são encanto, são “palavras de graça” (v. 22).
A profecia já o dizia. Por toda a Bíblia o lemos. Nos Salmos o rezamos. A sabedoria bíblica o incute. Pois sem lugar para viúvas e oprimidos não há povo que seja de Deus. Isaías 61 é apenas um dos textos que o confirmam. Todo o livro de Isaías grita-o aos quatro ventos: criancinhas, viúvas e pobres são “meu povo” (3.15); e “o escravo” é seu sinal, presença de Deus (42.1-4; 52-53). Sim, a própria esperança tem sua raiz nas frágeis crianças, “maravilhas” do Senhor (8.16-18; veja também 7.10-17; 9.1-6; 11.1-5).
Isaías 61 constitui povo em meio ao dilaceramento, a um exílio que a todos tornara um vale de ossos secos (Ezequiel), escravos de rostos golpeados, feridos, torturados (Isaías 40-55), natureza sem vida (Lamentações). É daí que emerge o povo novo, saído de escombros e canseiras (Isaías 40). Não há como não ler esse Isaías, passado pelo exílio na Babilônia, sem nossa própria história. Afinal, não raro achamos mais aprazível viver de costas para nossas “veias abertas”. Sonhar com as “Europas” é mais educado e alegra nossos corações. Nossas chagas são demasiadas e como que sem solução. Índias e negras ainda choram seus lamentos. Não é boa a América Latina e Caribenha.
E eis aqui o alento da graça! Os corpos ungidos e coroados, libertos, serão chamados “carvalhos da justiça” (Is 61.3). A profecia impulsiona o sonho por uma nova criação. A vida se recria a partir da vivência e prática da justiça, e, a partir dessa justiça, as pessoas são recolocadas na teia das relações sociais. Os jardins da justiça são o lugar onde se inserem as novas criaturas.
Um desaguadouro e um projeto para o recomeço — Levítico 25.8-55
Na tentativa de realçar o sentido e a própria atualidade de Levítico (25.8-55), devem-se considerar vários aspectos. Comecemos pelo Novo Testamento, com o texto de Lucas 4. Afinal, há quem possa ter a impressão de que anseios concretos como os de “reforma agrária” não caberiam na proclamação de Jesus. É importante perceber a concretude de seu evangelho, de seu sentido em favor de alimento e de terra para o povo de Deus. As palavras do capítulo 4 são centrais no evangelho de Jesus em Lucas (veja também o Magnificat de Maria em Lucas 1.46-55).
O ano aceitável — Lucas 4.16-30
Na verdade, esse texto de Lucas se baseia especificamente em Isaías 61.1-4, mas situa-se também no âmbito de Levítico 25. Particularmente interessa o versículo 19, que se refere claramente ao Jubileu: “E apregoar o ano aceitável do Senhor”. Essa é, à luz do verso 18, a última e decisiva tarefa messiânica. Esse “ano aceitável” celebra o direito de todas as pessoas aos bens sociais, em especial à terra. Vida digna tem a ver com acesso à terra; sem terra a vida se desumaniza. A tragédia brasileira de milhões de pessoas sem nada é a da terra de poucos; 500 anos de vida sem chão sob os pés resultam na tristeza de nossas favelas e malocas. Deus nos dá o ano da graça! Abre portões e apodrece cercas!
O ano da graça é a bem-aventurança suprema (v. 18). Quatro detalhes o realçam: dois afloram por palavras e dois, por atos, o que, em sentido bíblico, são dois lados do mesmo. Esse ano da graça se faz evangelizando e proclamando. Pobres são evangelizados, pois na graça sua desgraça se desfaz. Aos cativos será proclamada libertação! Cada um desses propósitos é mais lindo que o outro em seu afim de nova vida. O ano da graça se faz também na “restauração da vista” e na “libertação dos cativos”. Esse ano da graça vale a pena, porque suas palavras são maravilhosas e suas ações libertadoras são encanto, são “palavras de graça” (v. 22).
A profecia já o dizia. Por toda a Bíblia o lemos. Nos Salmos o rezamos. A sabedoria bíblica o incute. Pois sem lugar para viúvas e oprimidos não há povo que seja de Deus. Isaías 61 é apenas um dos textos que o confirmam. Todo o livro de Isaías grita-o aos quatro ventos: criancinhas, viúvas e pobres são “meu povo” (3.15); e “o escravo” é seu sinal, presença de Deus (42.1-4; 52-53). Sim, a própria esperança tem sua raiz nas frágeis crianças, “maravilhas” do Senhor (8.16-18; veja também 7.10-17; 9.1-6; 11.1-5).
Isaías 61 constitui povo em meio ao dilaceramento, a um exílio que a todos tornara um vale de ossos secos (Ezequiel), escravos de rostos golpeados, feridos, torturados (Isaías 40-55), natureza sem vida (Lamentações). É daí que emerge o povo novo, saído de escombros e canseiras (Isaías 40). Não há como não ler esse Isaías, passado pelo exílio na Babilônia, sem nossa própria história. Afinal, não raro achamos mais aprazível viver de costas para nossas “veias abertas”. Sonhar com as “Europas” é mais educado e alegra nossos corações. Nossas chagas são demasiadas e como que sem solução. Índias e negras ainda choram seus lamentos. Não é boa a América Latina e Caribenha.
E eis aqui o alento da graça! Os corpos ungidos e coroados, libertos, serão chamados “carvalhos da justiça” (Is 61.3). A profecia impulsiona o sonho por uma nova criação. A vida se recria a partir da vivência e prática da justiça, e, a partir dessa justiça, as pessoas são recolocadas na teia das relações sociais. Os jardins da justiça são o lugar onde se inserem as novas criaturas.
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