Opinião
- 13 de julho de 2011
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O descanso e as terras livres (Levítico 25), por Milton Schwantes
Enfim, em Gênesis (1.1-2, 4) a própria criação efetiva o sábado como descanso; aliás, ele é parte da própria criação. É partilhado pelo Deus criador e por suas criaturas, pessoas e animais.
Nestes e em outros textos das Escrituras, o sábado é central. Torna-se marca de Israel e de sua vivência com Deus. Para uma vida digna em meio aos jardins criados por Deus, é preciso “viver de modo sabático”. Ao se descansar abrem-se as janelas de novos mundos, para a sociedade, a fim de se superar a espoliação de pessoas e animais.
É também nesse âmbito que se situa o tema do ano sabático e do ano do Jubileu da terra em Levítico 25.
Os sábados e o sétimo ano
Os sábados se tornaram dias de identidade. E, no mínimo, a partir do exílio do povo de Israel se transformaram em um sinal cada vez mais importante. Embora antes já fossem relevantes (Am 8.4-6), são os tempos exílicos que aprofundam a identidade judaíta em relação ao dia de descanso.
A experiência do sábado foi se ampliando na história do povo de Israel e depois também nos caminhos das comunidades messiânicas/cristãs. Parte dessa influência são os anos sabáticos (de sete em sete anos) e o ano do jubileu.
Mencionam-se aqui três formulações do ano sabático:
1. Em Êxodo (23.10-11) há uma formulação bastante antiga do ano sabático. Esse ano se refere à “tua terra”, a ser plantada por seis anos (v. 10). Esses seis anos são para “ti” — o pronome de segunda pessoa refere-se ao pequeno lavrador israelita que vive de sua pequena gleba de terra, herança de seus antepassados. Mas no sétimo ano (v. 11) o fruto da terra já não será para “ti”; destina-se aos “pobres de teu povo” e aos “animais do campo” — tanto o que cresce na roça, quanto o fruto das vinhas. No sétimo ano não há plantio, mas ainda assim os frutos são colhidos. Ao não se arar nem se plantar a terra, caracteriza-se a sua existência nesse ano como de descanso. Em descanso, a terra continua criativa, aliás, como também as pessoas.
2. Deuteronômio 15.1-11 é um texto magnífico e detalhado sobre o sétimo ano. Esse trecho deve ser do sétimo século. É significativo que nele a referência seja ao empréstimo financeiro, cujo pagamento a partir do sétimo ano já não pode ser exigido: “Não o exigirá do seu próximo” (v. 2). A orientação básica é: “Ao fim de cada sete anos, farás remissão” (v. 1). Os onze versículos do texto defendem essa medida do perdão de dívidas. Tanto a radicalidade quanto a insistência argumentativa são típicas do deuteronomismo. Não basta exigir; é preciso convencer o coração: “Livremente abrirás a mão para o teu próximo” (v. 10).
3. Em Levítico (25.1-7) tem-se uma versão exílica do uso sabático da terra. Pode ser que se trate de um texto pré-exílico ou, mais provavelmente, pós-exílico. O certo é que refere-se a uma época em que o território de Israel está anexado pelos assírios, babilônios e, talvez, persas, e Judá está muito fragilizado. Um novo começo e uma chance para o futuro exigem medidas de reforma e de verdadeiro recomeço. Para tais reinícios é preciso retomar o melhor do passado e lançar sonhos já sonhados para o futuro, em direção a práticas inovadoras. E a questão da terra aparece aí como central, como indica todo o capítulo 25. O ano de descanso (v. 1-7) começa a expressar o antigo-novo que precisa ser implementado. Basicamente esses versículos reafirmam o que já está dito em trechos anteriores: “A terra guardará um sábado ao Senhor” (v. 2), isto é, descansará, ou, como expressa o capítulo 25: “Haverá um sábado de descanso solene”. Estão outra vez em questão as plantas, que, embora sem plantio, crescem e dão colheita no campo, e as árvores frutíferas (v. 3). É interessante que o primeiro a se beneficiar com o produto do “sábado solene” seja um “tu”, isto é, o próprio agricultor judaíta/israelita! Essa estranha (à primeira vista) destinação do que frutifica “naturalmente” no sétimo ano tem a ver com as condições vividas por Judá e Israel. Em 701, seus territórios foram arrasados e só em Judá 46 cidades foram queimadas. No sétimo século, os assírios e outros povos continuamente invadiam as terras e as espoliavam de tudo. Os tempos do exílio foram de extrema pobreza. Logo, torna-se claro por que o capítulo 25 reverte os “benefícios” do ano de descanso (o sétimo ano) para o “tu” (v. 6), para os do próprio povo de Deus. Os demais nomeados no texto são os socialmente enfraquecidos, mas sempre relacionados ao “tu”: “teu servo” e “tua serva”, “teu diarista” e “teu estrangeiro”. Importa, pois, aqui mais que em outros textos, que esses empobrecidos sejam “os filhos de Israel” (v. 1); também o gado e os animais são “teus”, diretamente relacionados ao “tu”. Essa ênfase, peculiar de Levítico 25, merece um destaque especial, considerando-se também o novo conceito peculiar de Israel — servo! —, que emerge dos tempos e da sociedade exílica. (Veja Isaías 52–53.)
Sim, o sábado e o ano sabático (ano de descanso) tiveram grande importância na vida social de Israel.
Nestes e em outros textos das Escrituras, o sábado é central. Torna-se marca de Israel e de sua vivência com Deus. Para uma vida digna em meio aos jardins criados por Deus, é preciso “viver de modo sabático”. Ao se descansar abrem-se as janelas de novos mundos, para a sociedade, a fim de se superar a espoliação de pessoas e animais.
É também nesse âmbito que se situa o tema do ano sabático e do ano do Jubileu da terra em Levítico 25.
Os sábados e o sétimo ano
Os sábados se tornaram dias de identidade. E, no mínimo, a partir do exílio do povo de Israel se transformaram em um sinal cada vez mais importante. Embora antes já fossem relevantes (Am 8.4-6), são os tempos exílicos que aprofundam a identidade judaíta em relação ao dia de descanso.
A experiência do sábado foi se ampliando na história do povo de Israel e depois também nos caminhos das comunidades messiânicas/cristãs. Parte dessa influência são os anos sabáticos (de sete em sete anos) e o ano do jubileu.
Mencionam-se aqui três formulações do ano sabático:
1. Em Êxodo (23.10-11) há uma formulação bastante antiga do ano sabático. Esse ano se refere à “tua terra”, a ser plantada por seis anos (v. 10). Esses seis anos são para “ti” — o pronome de segunda pessoa refere-se ao pequeno lavrador israelita que vive de sua pequena gleba de terra, herança de seus antepassados. Mas no sétimo ano (v. 11) o fruto da terra já não será para “ti”; destina-se aos “pobres de teu povo” e aos “animais do campo” — tanto o que cresce na roça, quanto o fruto das vinhas. No sétimo ano não há plantio, mas ainda assim os frutos são colhidos. Ao não se arar nem se plantar a terra, caracteriza-se a sua existência nesse ano como de descanso. Em descanso, a terra continua criativa, aliás, como também as pessoas.
2. Deuteronômio 15.1-11 é um texto magnífico e detalhado sobre o sétimo ano. Esse trecho deve ser do sétimo século. É significativo que nele a referência seja ao empréstimo financeiro, cujo pagamento a partir do sétimo ano já não pode ser exigido: “Não o exigirá do seu próximo” (v. 2). A orientação básica é: “Ao fim de cada sete anos, farás remissão” (v. 1). Os onze versículos do texto defendem essa medida do perdão de dívidas. Tanto a radicalidade quanto a insistência argumentativa são típicas do deuteronomismo. Não basta exigir; é preciso convencer o coração: “Livremente abrirás a mão para o teu próximo” (v. 10).
3. Em Levítico (25.1-7) tem-se uma versão exílica do uso sabático da terra. Pode ser que se trate de um texto pré-exílico ou, mais provavelmente, pós-exílico. O certo é que refere-se a uma época em que o território de Israel está anexado pelos assírios, babilônios e, talvez, persas, e Judá está muito fragilizado. Um novo começo e uma chance para o futuro exigem medidas de reforma e de verdadeiro recomeço. Para tais reinícios é preciso retomar o melhor do passado e lançar sonhos já sonhados para o futuro, em direção a práticas inovadoras. E a questão da terra aparece aí como central, como indica todo o capítulo 25. O ano de descanso (v. 1-7) começa a expressar o antigo-novo que precisa ser implementado. Basicamente esses versículos reafirmam o que já está dito em trechos anteriores: “A terra guardará um sábado ao Senhor” (v. 2), isto é, descansará, ou, como expressa o capítulo 25: “Haverá um sábado de descanso solene”. Estão outra vez em questão as plantas, que, embora sem plantio, crescem e dão colheita no campo, e as árvores frutíferas (v. 3). É interessante que o primeiro a se beneficiar com o produto do “sábado solene” seja um “tu”, isto é, o próprio agricultor judaíta/israelita! Essa estranha (à primeira vista) destinação do que frutifica “naturalmente” no sétimo ano tem a ver com as condições vividas por Judá e Israel. Em 701, seus territórios foram arrasados e só em Judá 46 cidades foram queimadas. No sétimo século, os assírios e outros povos continuamente invadiam as terras e as espoliavam de tudo. Os tempos do exílio foram de extrema pobreza. Logo, torna-se claro por que o capítulo 25 reverte os “benefícios” do ano de descanso (o sétimo ano) para o “tu” (v. 6), para os do próprio povo de Deus. Os demais nomeados no texto são os socialmente enfraquecidos, mas sempre relacionados ao “tu”: “teu servo” e “tua serva”, “teu diarista” e “teu estrangeiro”. Importa, pois, aqui mais que em outros textos, que esses empobrecidos sejam “os filhos de Israel” (v. 1); também o gado e os animais são “teus”, diretamente relacionados ao “tu”. Essa ênfase, peculiar de Levítico 25, merece um destaque especial, considerando-se também o novo conceito peculiar de Israel — servo! —, que emerge dos tempos e da sociedade exílica. (Veja Isaías 52–53.)
Sim, o sábado e o ano sabático (ano de descanso) tiveram grande importância na vida social de Israel.
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