Opinião
- 23 de janeiro de 2017
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O desafio da igreja frente à crise carcerária
Por José Carlos da Silva
O ano de 2017 amanheceu sob o estigma da violência. Com o recesso do Judiciário e do Legislativo, as manchetes políticas e as prisões da Lava Jato deram um tempo.
Mas as páginas dos jornais e a tela da TV foram manchadas de sangue. Um pai frustrado mata 10 pessoas, entre elas a esposa e o filho. Assassinatos de mulheres, policiais, turistas... Morte planejada com frieza e crueldade. Morte aleatória. Morte.
Nas ruas das cidades, a insegurança cresce com os roubos à mão armada. Grades, alarmes e câmeras de filmagem não inibem mais os ladrões. As casas e condomínios, que a cada dia se parecem mais com prisões, não são lugar seguro.
A guerra de facções criminosas incendiou presídios em Manaus, Boa Vista e agora Natal. Execuções cruéis, decapitações, fugas. Estimulada pela mídia, a sociedade começa a falar sobre encarceramento, pena de morte, políticas de segurança pública, educação, reeducação, reinserção social...
São tempos de violência e de insegurança. Mesmo assim, nada é novo. Trata-se apenas da ampliação, maior agravamento e visibilidade do problema, resultando nos questionamentos e propostas em discussão no âmbito na sociedade brasileira e no leque de medidas anunciadas pelas autoridades.
No Gênesis, a narrativa que segue a queda é o assassinato premeditado de Abel por seu irmão Caim. A humanidade quase foi extinta por causa da violência e da maldade. É o que está dito em Gênesis 6.11: “a terra estava corrompida aos olhos de Deus e cheia de violência”.
O que podemos fazer, nós cristãos, em tempos de violência e insegurança? Com certeza orar e clamar a Deus por misericórdia. Também agir, difundindo uma cultura de paz e não violência. Educar nossos filhos com os valores éticos do reino de Deus. Atuar como cidadãos, debater, esclarecer, votar, com a intenção de influenciar a sociedade em que estamos inseridos.
A questão dos presídios no Brasil desafia a Igreja Evangélica a uma nova perspectiva de capelania carcerária. Admitamos que muitos dos hoje apenados tiveram formação cristã e congregaram como irmãos. O que aconteceu com eles? Onde se perderam? Por que o Evangelho não criou raízes profundas no solo? Pedras e espinhos não foram removidos antes da semeadura ou durante o discipulado?
A igreja deve se posicionar quanto ao enfrentamento do consumo de drogas que, sem dúvida, entorpece a razão, solapa as emoções, contribui para a violência e financia a criminalidade. Muitos são apenas meros consumidores ou atuavam como “mulas” na busca de dinheiro rápido. Cadeia resolve? Parece que não. Os pais vão presos e os filhos crescem na rua e se tornam a próxima geração de vulneráveis e excluídos sociais.
A Igreja precisa agir. Como? Assumindo junto ao Poder Público e à Sociedade sua corresponsabilidade no processo de prevenção do crime e de redenção dos apenados; no apoio às vítimas e respectivos familiares, até onde for possível.
O combate à violência se faz quando se trabalha para minorar a exclusão social, a desigualdade econômica e a injusta distribuição de renda. A violência está aninhada no racismo, no machismo, no preconceito, sendo preciso combatê-la nas mentes que não entendem que todo ser humano traz a imagem e semelhança de Deus e é portador de igual dignidade. Quanto disso ainda está presente nos cristãos brasileiros?
O cristianismo proclama arrependimento e perdão, mudança de mente e oportunidade para praticar novas obras. O Evangelho é boa nova de salvação. A cruz é intersecção para reconciliação com Deus e com os homens.
Basta de violência. Só julgamento não resolve. Só condenação não resolve. A igreja precisa ser um oásis de água fresca nesse deserto de areias tintas de sangue.
Nota: Artigo publicado originalmente no site da Aliança Evangélica.
• José Carlos da Silva é pastor da PIB de Brasília (CBN) e membro do Conselho Gestor da Aliança Cristã Evangélica Brasileira.
*****
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Lembrem-se dos que estão na prisão [Elben César]
Para que serve a capelania prisional [Antônio Carlos da Rosa]
Bandido bom é bandido morto [Antônio Carlos da Rosa]
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Foto: Natal - Policiais do Batalhão de Choque invadem a Penitenciária Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte (Andressa Anholete/AFP/Direitos Reservados).
O ano de 2017 amanheceu sob o estigma da violência. Com o recesso do Judiciário e do Legislativo, as manchetes políticas e as prisões da Lava Jato deram um tempo.
Mas as páginas dos jornais e a tela da TV foram manchadas de sangue. Um pai frustrado mata 10 pessoas, entre elas a esposa e o filho. Assassinatos de mulheres, policiais, turistas... Morte planejada com frieza e crueldade. Morte aleatória. Morte.
Nas ruas das cidades, a insegurança cresce com os roubos à mão armada. Grades, alarmes e câmeras de filmagem não inibem mais os ladrões. As casas e condomínios, que a cada dia se parecem mais com prisões, não são lugar seguro.
A guerra de facções criminosas incendiou presídios em Manaus, Boa Vista e agora Natal. Execuções cruéis, decapitações, fugas. Estimulada pela mídia, a sociedade começa a falar sobre encarceramento, pena de morte, políticas de segurança pública, educação, reeducação, reinserção social...
São tempos de violência e de insegurança. Mesmo assim, nada é novo. Trata-se apenas da ampliação, maior agravamento e visibilidade do problema, resultando nos questionamentos e propostas em discussão no âmbito na sociedade brasileira e no leque de medidas anunciadas pelas autoridades.
No Gênesis, a narrativa que segue a queda é o assassinato premeditado de Abel por seu irmão Caim. A humanidade quase foi extinta por causa da violência e da maldade. É o que está dito em Gênesis 6.11: “a terra estava corrompida aos olhos de Deus e cheia de violência”.
O que podemos fazer, nós cristãos, em tempos de violência e insegurança? Com certeza orar e clamar a Deus por misericórdia. Também agir, difundindo uma cultura de paz e não violência. Educar nossos filhos com os valores éticos do reino de Deus. Atuar como cidadãos, debater, esclarecer, votar, com a intenção de influenciar a sociedade em que estamos inseridos.
A questão dos presídios no Brasil desafia a Igreja Evangélica a uma nova perspectiva de capelania carcerária. Admitamos que muitos dos hoje apenados tiveram formação cristã e congregaram como irmãos. O que aconteceu com eles? Onde se perderam? Por que o Evangelho não criou raízes profundas no solo? Pedras e espinhos não foram removidos antes da semeadura ou durante o discipulado?
A igreja deve se posicionar quanto ao enfrentamento do consumo de drogas que, sem dúvida, entorpece a razão, solapa as emoções, contribui para a violência e financia a criminalidade. Muitos são apenas meros consumidores ou atuavam como “mulas” na busca de dinheiro rápido. Cadeia resolve? Parece que não. Os pais vão presos e os filhos crescem na rua e se tornam a próxima geração de vulneráveis e excluídos sociais.
A Igreja precisa agir. Como? Assumindo junto ao Poder Público e à Sociedade sua corresponsabilidade no processo de prevenção do crime e de redenção dos apenados; no apoio às vítimas e respectivos familiares, até onde for possível.
O combate à violência se faz quando se trabalha para minorar a exclusão social, a desigualdade econômica e a injusta distribuição de renda. A violência está aninhada no racismo, no machismo, no preconceito, sendo preciso combatê-la nas mentes que não entendem que todo ser humano traz a imagem e semelhança de Deus e é portador de igual dignidade. Quanto disso ainda está presente nos cristãos brasileiros?
O cristianismo proclama arrependimento e perdão, mudança de mente e oportunidade para praticar novas obras. O Evangelho é boa nova de salvação. A cruz é intersecção para reconciliação com Deus e com os homens.
Basta de violência. Só julgamento não resolve. Só condenação não resolve. A igreja precisa ser um oásis de água fresca nesse deserto de areias tintas de sangue.
Nota: Artigo publicado originalmente no site da Aliança Evangélica.
• José Carlos da Silva é pastor da PIB de Brasília (CBN) e membro do Conselho Gestor da Aliança Cristã Evangélica Brasileira.
*****
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Lembrem-se dos que estão na prisão [Elben César]
Para que serve a capelania prisional [Antônio Carlos da Rosa]
Bandido bom é bandido morto [Antônio Carlos da Rosa]
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Foto: Natal - Policiais do Batalhão de Choque invadem a Penitenciária Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte (Andressa Anholete/AFP/Direitos Reservados).
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