Opinião
- 18 de março de 2009
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O debate sobre religião e ciência -- uma introdução*
Se a ciência implicasse um mundo mecânico de maquinários cósmicos, como muitos interpretaram a física newtoniana, a teologia se limitaria à imagem deísta de um Deus que meramente põe o mundo em movimento e então deixa tudo acontecer. Entretanto, a imagem mecanicista sempre esteve sob suspeita porque os seres humanos não se veem como autômatos, mas antes como tendo liberdade para atuar como agentes intencionais. Se o futuro do mundo está aberto para a humanidade, certamente deve estar aberto também para o seu Criador. De fato, a ciência do século 20 testemunhou a morte da visão meramente mecanicista da física. Imprevisibilidades intrínsecas (uma incerteza inescapável que não pode ser superada por cálculos melhores ou observações mais exatas) vieram à luz, primeiro na teoria quântica ao nível subatômico, e então na teoria do caos ao nível dos fenômenos macroscópicos. O que essas descobertas implicam é matéria de debate filosófico.
A natureza da causalidade é um tema de metafísica, influenciada pela física, mas não totalmente determinada por ela. Por exemplo, enquanto muitos físicos creem que as imprevisibilidades da teoria quântica são sinais de uma indeterminação intrínseca, há uma interpretação alternativa de igual adequação empírica que atribui tais imprevisibilidades à ignorância de um número de fatores inacessíveis (“variáveis ocultas”). A escolha entre estas interpretações tem de ser feita em bases metacientíficas, tais como julgamentos de economia e ausência de artificialidade.
A imprevisibilidade é uma propriedade concernente ao que se pode ou não se pode conhecer sobre acontecimentos futuros. A relação entre o que sabemos sobre o mundo e o que mundo é realmente é matéria de animado debate filosófico. Mas para aqueles cuja filosofia se baseia no realismo, como é o caso de muitos cientistas, as duas coisas são inseparáveis. Para eles, é natural interpretar imprevisibilidades intrínsecas como sinais de que o futuro ainda não está definido. Isto não implica que o futuro seja algum tipo de loteria aleatória, mas simplesmente que as suas causas não se limitam à descrição científica convencional de trocas de energia entre os componentes do sistema. Um candidato plausível para fatores causais adicionais é o exercício da agência pessoal, tanto por indivíduos humanos como pela ação providencial divina.
Uma discussão bastante ativa no debate de ciência e religião tem-se centrado na questão da ação divina. Sem entrar em detalhes sobre a variedade de posições que vem sendo advogadas, pode-se dizer que pelo menos está claro que a ciência não estabeleceu o fechamento causal do mundo físico em seus próprios termos. É inteiramente possível tomar de forma absolutamente séria o que a física tem a dizer e ainda crer na capacidade de agência, tanto humana como divina.
Uma interpretação realista das imprevisibilidades leva à visão de um mundo de genuíno “vir-a-ser”, no qual o futuro não é uma consequência inevitável do passado. Em vez disso, muitos fatores causais o determinam: a lei natural, atos humanos intencionais e a providência divina. Se a fonte dessa liberdade no destino é compreendida como sendo baseada na nebulosidade de processos imprevisíveis, os eventos não podem ser analisados e classificados de uma forma transparente, como se fosse possível dizer que a natureza fez isto, a ação humana intencional fez aquilo, e a providência divina fez aquilo outro.
A natureza da causalidade é um tema de metafísica, influenciada pela física, mas não totalmente determinada por ela. Por exemplo, enquanto muitos físicos creem que as imprevisibilidades da teoria quântica são sinais de uma indeterminação intrínseca, há uma interpretação alternativa de igual adequação empírica que atribui tais imprevisibilidades à ignorância de um número de fatores inacessíveis (“variáveis ocultas”). A escolha entre estas interpretações tem de ser feita em bases metacientíficas, tais como julgamentos de economia e ausência de artificialidade.
A imprevisibilidade é uma propriedade concernente ao que se pode ou não se pode conhecer sobre acontecimentos futuros. A relação entre o que sabemos sobre o mundo e o que mundo é realmente é matéria de animado debate filosófico. Mas para aqueles cuja filosofia se baseia no realismo, como é o caso de muitos cientistas, as duas coisas são inseparáveis. Para eles, é natural interpretar imprevisibilidades intrínsecas como sinais de que o futuro ainda não está definido. Isto não implica que o futuro seja algum tipo de loteria aleatória, mas simplesmente que as suas causas não se limitam à descrição científica convencional de trocas de energia entre os componentes do sistema. Um candidato plausível para fatores causais adicionais é o exercício da agência pessoal, tanto por indivíduos humanos como pela ação providencial divina.
Uma discussão bastante ativa no debate de ciência e religião tem-se centrado na questão da ação divina. Sem entrar em detalhes sobre a variedade de posições que vem sendo advogadas, pode-se dizer que pelo menos está claro que a ciência não estabeleceu o fechamento causal do mundo físico em seus próprios termos. É inteiramente possível tomar de forma absolutamente séria o que a física tem a dizer e ainda crer na capacidade de agência, tanto humana como divina.
Uma interpretação realista das imprevisibilidades leva à visão de um mundo de genuíno “vir-a-ser”, no qual o futuro não é uma consequência inevitável do passado. Em vez disso, muitos fatores causais o determinam: a lei natural, atos humanos intencionais e a providência divina. Se a fonte dessa liberdade no destino é compreendida como sendo baseada na nebulosidade de processos imprevisíveis, os eventos não podem ser analisados e classificados de uma forma transparente, como se fosse possível dizer que a natureza fez isto, a ação humana intencional fez aquilo, e a providência divina fez aquilo outro.
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