Opinião
- 15 de junho de 2018
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O conflito entre razão e emoção: Copa do Mundo 2018
Por Américo Marques Ferreira
Costuma-se dizer que um estádio de futebol é o lugar ideal para extravasar as emoções, já que o amor ao time escolhido é estimulado por fatores tipicamente emocionais, tais como o símbolo, as cores da camisa, o hino e vários outros, visando a estimular a fidelidade ao clube do coração.
Os torcedores canalizam suas preferências através de manifestações de simpatia e antipatia, caracterizando um comportamento tipicamente emocional, numa autêntica relação de amor e ódio. Encaram o seu clube com total simpatia (uma aceitação absoluta e apaixonada de tudo o que acontece com seu time), enquanto que os outros são tratados com antipatia (uma rejeição absoluta e apaixonada de tudo o que acontece com os torcedores e agremiações adversárias).
É uma situação bem antiga, pois há muita semelhança entre o que ocorre atualmente num estádio de futebol com o que se passava nas arenas do coliseu, em Roma, sendo constatados, em ambos os lugares, as emoções mais primitivas. Por isso mesmo, é comum a ocorrência de manifestações coletivas, envolvendo gritos de guerra, xingamentos, reclamações, que podem levar os torcedores a adotar comportamentos agressivos que dificilmente praticariam se estivessem sozinhos.
A princípio, não há nada de errado com o fato de deixar aflorar as emoções pelo futebol. Porém, na ausência do comportamento racional, uma torcida pode chegar a uma escalada de violência que se espalha como um rastilho de pólvora, num autêntico efeito manada.
Assim, se de um lado, o envolvimento emocional provoca uma prazerosa sensação de euforia, por outro lado, é imprescindível que as ações de uma torcida estejam sob o controle da razão, pois nada justifica que um simples espetáculo esportivo, como o futebol, descambe para a agressão entre seres humanos, pelo simples fato de pessoas torcerem por times adversários.
Há quem diga que controlar as emoções no futebol através de comportamentos racionais, corresponderia a chupar uma bala sem tirar o papel que a envolve. Analisemos esta questão através da avaliação do risco em se utilizar, isoladamente, apenas um destes dois componentes – emocional ou racional – na prática do futebol.
Proponho uma metáfora futebolística: as emoções representam os jogadores do ataque, responsáveis por fazer gols, enquanto que a razão corresponderia aos jogadores da defesa, encarregados de evitar que a equipe adversária marque gols. Nenhuma equipe de futebol se arriscaria a entrar em campo contando apenas com metade do seu time (ou só com os atacantes, ou só com os defensores). por melhores que fossem em suas respectivas áreas de atuação.
Outro aspecto interessante de se observar no futebol é o fenômeno do gol, que simboliza o clímax do sucesso, gerando uma contagiante explosão de euforia que desencadeia uma autêntica catarse coletiva. Por isso o futebol costuma ser utilizado para estimular o comportamento da alienação, na medida em que, anestesiados, os torcedores chegam a se esquecer de seus problemas e frustrações da vida real, ainda que momentaneamente.
Um exemplo desta alienação ocorreu em 1970. Enquanto os brasileiros vibravam com a Seleção Tricampeã do Mundo na Copa do México, prisioneiros políticos eram torturados nos porões da ditadura. Para quem não viveu naquela época, ou deseja se aprofundar no assunto, pode assistir: Pra Frente Brasil (1982); O Que é Isso Companheiro? (1997); Zuzu Angel (2006); O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006); Batismo de Sangue (2007).
Outro fator que se presta a manipular o comportamento emocional dos torcedores é a exposição dos principais ídolos de um clube com a divulgação de variados símbolos de status, como carros, indumentárias, joias, assim como, as casas onde moram, as festas que frequentam etc. servindo como sonho de consumo para a massa de seus seguidores.
Vale lembrar também que as copas do mundo têm coincidido com o calendário eleitoral em nosso país. Qual seria o impacto do resultado de um campeonato mundial sobre o andamento das eleições? Se o Brasil conquistar o hexa, como o clima de euforia poderia afetar o humor dos brasileiros e que tipo de candidato poderia se beneficiar com tal resultado? Por outro lado, que candidaturas poderiam ser prejudicadas pelo sentimento de fracasso decorrente da derrota de nossa seleção? Sem nenhuma garantia de sucesso, a Copa do Mundo pode afetar os destinos do brasil pelos próximos quatro anos.
De minha parte, pretendo vibrar emocionalmente com nossa seleção na Copa da Rússia, torcendo para que conquistemos o hexa. Mas, também já decidi que vou utilizar a minha razão com vistas a preservar meu equilíbrio emocional, sem me deixar abalar pela hipótese de um eventual fracasso, fato que já experimentei na Copa de 82, em que perdemos para a Itália de Paolo Rossi e na Copa passada, na fatídica derrota de 7x1 para a Alemanha.
E você, como pretende viver este grande momento?
• Américo Marques Ferreira é sociólogo e assistente social.
Leia mais
>> A Copa passa, mas as palavras de Jesus, não: o evangelho propagado por meio do futebol
>>Uma celebração de histórias na Copa do Mundo para Moradores de Rua
>> Um Corinthians x Palmeiras e a nossa ética de vencer a qualquer custo
Costuma-se dizer que um estádio de futebol é o lugar ideal para extravasar as emoções, já que o amor ao time escolhido é estimulado por fatores tipicamente emocionais, tais como o símbolo, as cores da camisa, o hino e vários outros, visando a estimular a fidelidade ao clube do coração.
Os torcedores canalizam suas preferências através de manifestações de simpatia e antipatia, caracterizando um comportamento tipicamente emocional, numa autêntica relação de amor e ódio. Encaram o seu clube com total simpatia (uma aceitação absoluta e apaixonada de tudo o que acontece com seu time), enquanto que os outros são tratados com antipatia (uma rejeição absoluta e apaixonada de tudo o que acontece com os torcedores e agremiações adversárias).
É uma situação bem antiga, pois há muita semelhança entre o que ocorre atualmente num estádio de futebol com o que se passava nas arenas do coliseu, em Roma, sendo constatados, em ambos os lugares, as emoções mais primitivas. Por isso mesmo, é comum a ocorrência de manifestações coletivas, envolvendo gritos de guerra, xingamentos, reclamações, que podem levar os torcedores a adotar comportamentos agressivos que dificilmente praticariam se estivessem sozinhos.
A princípio, não há nada de errado com o fato de deixar aflorar as emoções pelo futebol. Porém, na ausência do comportamento racional, uma torcida pode chegar a uma escalada de violência que se espalha como um rastilho de pólvora, num autêntico efeito manada.
Assim, se de um lado, o envolvimento emocional provoca uma prazerosa sensação de euforia, por outro lado, é imprescindível que as ações de uma torcida estejam sob o controle da razão, pois nada justifica que um simples espetáculo esportivo, como o futebol, descambe para a agressão entre seres humanos, pelo simples fato de pessoas torcerem por times adversários.
Há quem diga que controlar as emoções no futebol através de comportamentos racionais, corresponderia a chupar uma bala sem tirar o papel que a envolve. Analisemos esta questão através da avaliação do risco em se utilizar, isoladamente, apenas um destes dois componentes – emocional ou racional – na prática do futebol.
Proponho uma metáfora futebolística: as emoções representam os jogadores do ataque, responsáveis por fazer gols, enquanto que a razão corresponderia aos jogadores da defesa, encarregados de evitar que a equipe adversária marque gols. Nenhuma equipe de futebol se arriscaria a entrar em campo contando apenas com metade do seu time (ou só com os atacantes, ou só com os defensores). por melhores que fossem em suas respectivas áreas de atuação.
Outro aspecto interessante de se observar no futebol é o fenômeno do gol, que simboliza o clímax do sucesso, gerando uma contagiante explosão de euforia que desencadeia uma autêntica catarse coletiva. Por isso o futebol costuma ser utilizado para estimular o comportamento da alienação, na medida em que, anestesiados, os torcedores chegam a se esquecer de seus problemas e frustrações da vida real, ainda que momentaneamente.
Um exemplo desta alienação ocorreu em 1970. Enquanto os brasileiros vibravam com a Seleção Tricampeã do Mundo na Copa do México, prisioneiros políticos eram torturados nos porões da ditadura. Para quem não viveu naquela época, ou deseja se aprofundar no assunto, pode assistir: Pra Frente Brasil (1982); O Que é Isso Companheiro? (1997); Zuzu Angel (2006); O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006); Batismo de Sangue (2007).
Outro fator que se presta a manipular o comportamento emocional dos torcedores é a exposição dos principais ídolos de um clube com a divulgação de variados símbolos de status, como carros, indumentárias, joias, assim como, as casas onde moram, as festas que frequentam etc. servindo como sonho de consumo para a massa de seus seguidores.
Vale lembrar também que as copas do mundo têm coincidido com o calendário eleitoral em nosso país. Qual seria o impacto do resultado de um campeonato mundial sobre o andamento das eleições? Se o Brasil conquistar o hexa, como o clima de euforia poderia afetar o humor dos brasileiros e que tipo de candidato poderia se beneficiar com tal resultado? Por outro lado, que candidaturas poderiam ser prejudicadas pelo sentimento de fracasso decorrente da derrota de nossa seleção? Sem nenhuma garantia de sucesso, a Copa do Mundo pode afetar os destinos do brasil pelos próximos quatro anos.
De minha parte, pretendo vibrar emocionalmente com nossa seleção na Copa da Rússia, torcendo para que conquistemos o hexa. Mas, também já decidi que vou utilizar a minha razão com vistas a preservar meu equilíbrio emocional, sem me deixar abalar pela hipótese de um eventual fracasso, fato que já experimentei na Copa de 82, em que perdemos para a Itália de Paolo Rossi e na Copa passada, na fatídica derrota de 7x1 para a Alemanha.
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