Por Escrito
- 14 de agosto de 2020
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O clamor dos hospitais
Por Davi de Campos Munhoz
Em 2006, eu e minha esposa passamos por um momento muito difícil. Nossa tão esperada filhinha nasceu com uma síndrome rara – Edwards. Ela ficou 39 dias na UTI neonatal, passou por duas cirurgias do coração. Faleceu em nossa frente, no horário de visita. Nesses 39 dolorosos dias, Deus nos deu uma forma de encontrar um novo significado para essa dor. Nos horários de visitas da UTI, os pais dos outros bebês que estavam ali nos viam orando e cantando para nossa filhinha. Logo, clamando por ajuda, pediram que fizéssemos o mesmo por seus filhos com a autorização do hospital. Mesmo após a partida de nossa filhinha continuamos indo àquela UTI partilhar o consolo que estávamos recebendo de Deus. O próprio hospital pediu que continuássemos.
Deus despertou nossa igreja para a capelania hospitalar e buscamos treinamento junto à Associação de Capelania na Saúde (ACS), sob a coordenação da capelã Eleny Vassão. Há quase 10 anos estamos em constante treinamento, tanto teórico como prático em hospitais de São Paulo e de nossa cidade. Deus tem nos dado muitas portas para levarmos o conforto do Senhor com competência e amor. Ele nos deu graça para a formação de uma equipe de 50 pessoas entre capelães, visitadores, músicos e voluntárias do artesanato. Atuamos em três hospitais da cidade e, por onde vamos, podemos ouvir o clamor por socorro espiritual tanto de pacientes e familiares quanto dos profissionais dos hospitais.
Após a pandemia da Covid-19, toda a nossa rotina nos hospitais, como equipe de capelania, mudou completamente. Para evitar a contaminação e poupar EPI (Equipamento de Proteção Individual) para os profissionais, toda atividade voluntária foi suspensa, incluindo a capelania hospitalar. As visitações, as celebrações, as atividades musicais nos corredores e de artesanato, os devocionais com os profissionais, tudo isso parou e tivemos de descobrir novas formas de manter nossa equipe e servir os hospitais. Através da experiência compartilhada por vários capelães da ACS nas reuniões virtuais semanais, hoje continuamos servindo os hospitais através da intercessão, de mensagens de vídeo e áudio enviadas semanalmente para todos os profissionais, através de cartas escritas a mão e kit"s com livretos devocionais e bombons para os profissionais da saúde.
Numa última visita para entrega de kit"s num dos hospitais que servimos, e que se tornou referência no tratamento de Covid-19 para nossa região, fiquei impressionado com a necessidade de apoio espiritual no hospital. Por onde passei, recursos humanos, departamento pessoal, serviço de psicologia e assistência social, o clamor é geral. “Pastor, vocês estão fazendo muita falta no hospital”. “Estamos exaustos”. “O senhor poderia fazer uma oração com a gente? ”. Os profissionais, desde a diretoria até os profissionais da higienização e manutenção sempre foram receptivos conosco. Porém, dessa vez, pude ver a angústia e a exaustão estampada nos olhos de cada um deles. Verdadeiros heróis que, na frente de batalha, cuidando dos infectados, amparando as famílias, especialmente as enlutadas, têm chegado ao limite.
Contemplando esse quadro, podemos entender cada vez melhor como o nosso Senhor vê as pessoas:
"Quando viu as multidões, teve compaixão delas, pois estavam confusas e desamparadas, como ovelhas sem pastor. Disse aos discípulos: "A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Orem ao Senhor da colheita; peçam que ele envie mais trabalhadores para seus campos"" (Mateus 9:36-38).
Hoje, na capelania, lidamos com duas situações: por um lado, encontrar maneiras de atender ao clamor de centenas de profissionais da saúde exaustos e angustiados. E, por outro, cuidar de nossas equipes e mantê-las unidas, em educação continuada, preparando-se para o “pós-guerra”. Ninguém precisa ser profeta para antever o trabalho hercúleo que temos pela frente. Mas estamos confiantes que o Senhor da seara há de despertar mais trabalhadores e renovar as forças daqueles que já estão mourejando em seus campos. Ore pelos profissionais da saúde, ore pelos capelães e visitadores hospitalares. Contribua, mobilize sua igreja e se disponha a ser treinado com seriedade para levar o conforto de Cristo àqueles que estão confusos e desamparados.
• Pr. Davi de Campos Munhoz, Associação de Capelania na Saúde (ACS ).
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