Opinião
- 03 de maio de 2018
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O campo missionário está nas universidades
Por Leiton Chinn
Em 1975, um veterano estudante internacional proferiu uma mensagem impactante na World Missions Conference (Conferência Mundial de Missões) da Igreja de Park Street, em Boston. A mensagem, intitulada “The Great Blind-Spot in Missions Today” (O grande ângulo morto das missões na atualidade), abordava o ministério com estudantes internacionais, e como a igreja, muitas vezes, não conseguia ver o potencial tremendo para missões mundiais que existia neste segmento.
Este ângulo morto tem vindo a diminuir gradualmente nas últimas quatro décadas, à medida que a igreja vem ganhando visão para o desenvolvimento estratégico deste ministério, e aprende a compreender melhor as oportunidades de missão entre estudantes e investigadores internacionais.
Por que estudantes internacionais representam um grande campo missionário?
• Estes estudantes já estão nas nossas universidades, comunidades e igrejas; não precisamos de esperar para ir a algum lado, ou para longe, no futuro para participar na Grande Comissão.
• São suficientemente fluentes na nossa língua para estudar nas nossas escolas, ou poderão estar num instituto de línguas para melhorar o conhecimento do idioma. A oportunidade de praticar o idioma com alguém nativo seria quase sempre apreciada (e mesmo que não precisemos de falar fluentemente a língua deles, eles podem sempre ensinar-nos alguma coisa). As aulas de conversação a título voluntário são um serviço magnífico que constrói naturalmente amizades que levam à partilha da vida e da fé.
• Estes estudantes, em geral, estão dispostos a aprender sobre a nossa cultura, história e país; podem até querer ter amigos no país de destino que possam ser mentores culturais.
• Costumam ser mais abertos, curiosos e receptivos a aprender sobre Jesus quando vivem no estrangeiro.
• Têm mais liberdade para considerar o evangelho se estiverem afastados de uma sociedade e cultura restritivas, e de uma religião hostil ao cristianismo.
• Por vezes, pertencem a grupos não alcançados em que a igreja ainda não existe ou está ainda na infância.
• Apreciam a hospitalidade e estão abertos a relacionamentos de interação multicultural, bem como o contexto social intergeracional das famílias de acolhimento, em que crianças mais novas, pais e avós são valorizados em conjunto com os adultos da mesma idade.
Impacto dos estudantes internacionais
Os estudantes internacionais são líderes mundiais em potência (politicamente e nas suas profissões), construtores de nações e agentes transformadores.
Além disso, os cristãos que regressam aos seus países podem desempenhar papéis importantes no estabelecimento da igreja global; muitos dos principais líderes evangélicos recentes na Malásia e em Singapura estudaram na Austrália nas décadas de 1960 e 1970.
John Sung tornou-se cristão nos EUA, na década de 1920, regressando à China como evangelista; o avivamento naquele país espalhou-se como brasas vivas. Bakht Singh, um sikh, foi atraído a Cristo durante uma estada de vários meses para estudar no Reino Unido e no Canadá. Recebeu Cristo e regressou à Índia como evangelista, tal como John Sung na China e na Ásia Oriental: “O modelo de plantação de igrejas inspirado no Novo Testamento de Bakht Singh multiplicou-se para mais de 500 congregações na Índia e 200 no Paquistão, contando ainda algumas na Europa e na América do Norte.” [1]
Formadores e instrutores
Os estudantes internacionais também podem servir de “formadores” e “instrutores” no avanço do movimento missionário. Duas enormes viragens missões, nos séculos XIX e XX, foram desencadeadas pelo papel de formadores de estudantes internacionais:
• Durante a conferência estudantil de D.L. Moody em Mt. Hermon, no estado do Massachussets (EUA), em 1886, decorreu uma “reunião especial das dez nações”. Aqui, estudantes de dez países partilharam brevemente acerca da necessidade de missionários nos seus países. Estas “chamadas para a Macedónia” alimentaram uma resposta que levou à formação, em 1888, do Student Volunteer Movement for Foreign Missions (Movimento Estudantil Voluntário para Missões no Estrangeiro), que enviou mais de 20 500 missionários para o campo [2].
• O desenvolvimento do conceito de “povos escondidos/não alcançados” pelo Dr. Ralph D. Winter, associado à tarefa inacabada da evangelização mundial, afetou uma mudança paradigmática na compreensão de missões e no planeamento estratégico [3]. O que contribuiu para a cosmovisão emergente sobre os povos do Dr. Winter? Segundo o que me revelou, na Escola de Missões Mundiais do Seminário Fuller (onde deu aulas), havia “10 alunos e 100 professores”. Ele era o aluno que aprendeu sobre crescimento da igreja e evangelismo no meio da diversidade dos subgrupos culturais de todo o mundo: os “100 professores” eram os seus informadores, os estudantes internacionais.
O papel dos estudantes internacionais no avanço da compreensão a cerca de missões e das suas necessidades tem sido tremendo. E eles continuarão a ser instrutores valiosos, se estivermos dispostos a ouvi-los e a aprender com eles.
Eles também são dádivas de Deus à nação e à igreja que os acolhe: um seminarista africano foi fundamental na conversão de um sacerdote episcopal nos EUA, que mais tarde se tornou bispo e teve um papel essencial na corrente evangélica da Igreja Episcopal Norte-americana. Essa corrente chegou à nova denominação Igreja Anglicana na América do Norte (ACNA) e, por sua vez, agora existem interesse e movimento significativos entre líderes e missionários anglicanos para desenvolver o ISM na ACNA.
A realidade é esta: a maioria dos cristãos não são “chamados” para servir como missionários profissionais a longo prazo, ou para levantar o seu próprio sustento como fazedores de tendas noutro país. Porém, ficar na nossa terra natal não significa que não nos podemos envolver no ministério transcultural e global. O ISM é uma forma de participar em missões mundiais sem sair de casa.
Conteúdo publicado originalmente em lausanne.org.
Notas
[1] Jonathan Bonk, «Thinking Small: Global Missions and American Churches» Missiology (Abril de 2000).
[2] Nota do editor: Consulte o artigo de Allen Yeh, «O futuro de missões é de todos para todos os lugares: um olhar sobre a missiologia policêntrica», publicado nesta edição da Análise Global de Lausanne.
[3] Nota do editor: Consulte o artigo de Kent Parks, «Terminando os 29% ainda não alcançados pela evangelização mundial» publicado na edição de maio de 2017 da Análise Global de Lausanne https://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/agl-pt-br/2017-05-pt-br/terminando-os-29-ainda-nao-alcancados-pela-evangelizacao-mundial
• Leiton Edward Chinn tem mobilizado a igreja para o ministério estudantil internacional desde 1977 e completou dez anos como Catalisador de Lausanne para o ISM em 2017. Serviu como Presidente da Association of Christians Ministering among Internationals [estudantes] de 1999 a 2008. Leiton é casado com Lisa Espineli Chinn, antiga Diretora Nacional de ISM da InterVarsity USA, que foi estudante internacional oriunda das Filipinas na Wheaton Graduate School.
Em 1975, um veterano estudante internacional proferiu uma mensagem impactante na World Missions Conference (Conferência Mundial de Missões) da Igreja de Park Street, em Boston. A mensagem, intitulada “The Great Blind-Spot in Missions Today” (O grande ângulo morto das missões na atualidade), abordava o ministério com estudantes internacionais, e como a igreja, muitas vezes, não conseguia ver o potencial tremendo para missões mundiais que existia neste segmento.
Este ângulo morto tem vindo a diminuir gradualmente nas últimas quatro décadas, à medida que a igreja vem ganhando visão para o desenvolvimento estratégico deste ministério, e aprende a compreender melhor as oportunidades de missão entre estudantes e investigadores internacionais.
Por que estudantes internacionais representam um grande campo missionário?
• Estes estudantes já estão nas nossas universidades, comunidades e igrejas; não precisamos de esperar para ir a algum lado, ou para longe, no futuro para participar na Grande Comissão.
• São suficientemente fluentes na nossa língua para estudar nas nossas escolas, ou poderão estar num instituto de línguas para melhorar o conhecimento do idioma. A oportunidade de praticar o idioma com alguém nativo seria quase sempre apreciada (e mesmo que não precisemos de falar fluentemente a língua deles, eles podem sempre ensinar-nos alguma coisa). As aulas de conversação a título voluntário são um serviço magnífico que constrói naturalmente amizades que levam à partilha da vida e da fé.
• Estes estudantes, em geral, estão dispostos a aprender sobre a nossa cultura, história e país; podem até querer ter amigos no país de destino que possam ser mentores culturais.
• Costumam ser mais abertos, curiosos e receptivos a aprender sobre Jesus quando vivem no estrangeiro.
• Têm mais liberdade para considerar o evangelho se estiverem afastados de uma sociedade e cultura restritivas, e de uma religião hostil ao cristianismo.
• Por vezes, pertencem a grupos não alcançados em que a igreja ainda não existe ou está ainda na infância.
• Apreciam a hospitalidade e estão abertos a relacionamentos de interação multicultural, bem como o contexto social intergeracional das famílias de acolhimento, em que crianças mais novas, pais e avós são valorizados em conjunto com os adultos da mesma idade.
Impacto dos estudantes internacionais
Os estudantes internacionais são líderes mundiais em potência (politicamente e nas suas profissões), construtores de nações e agentes transformadores.
Além disso, os cristãos que regressam aos seus países podem desempenhar papéis importantes no estabelecimento da igreja global; muitos dos principais líderes evangélicos recentes na Malásia e em Singapura estudaram na Austrália nas décadas de 1960 e 1970.
John Sung tornou-se cristão nos EUA, na década de 1920, regressando à China como evangelista; o avivamento naquele país espalhou-se como brasas vivas. Bakht Singh, um sikh, foi atraído a Cristo durante uma estada de vários meses para estudar no Reino Unido e no Canadá. Recebeu Cristo e regressou à Índia como evangelista, tal como John Sung na China e na Ásia Oriental: “O modelo de plantação de igrejas inspirado no Novo Testamento de Bakht Singh multiplicou-se para mais de 500 congregações na Índia e 200 no Paquistão, contando ainda algumas na Europa e na América do Norte.” [1]
Formadores e instrutores
Os estudantes internacionais também podem servir de “formadores” e “instrutores” no avanço do movimento missionário. Duas enormes viragens missões, nos séculos XIX e XX, foram desencadeadas pelo papel de formadores de estudantes internacionais:
• Durante a conferência estudantil de D.L. Moody em Mt. Hermon, no estado do Massachussets (EUA), em 1886, decorreu uma “reunião especial das dez nações”. Aqui, estudantes de dez países partilharam brevemente acerca da necessidade de missionários nos seus países. Estas “chamadas para a Macedónia” alimentaram uma resposta que levou à formação, em 1888, do Student Volunteer Movement for Foreign Missions (Movimento Estudantil Voluntário para Missões no Estrangeiro), que enviou mais de 20 500 missionários para o campo [2].
• O desenvolvimento do conceito de “povos escondidos/não alcançados” pelo Dr. Ralph D. Winter, associado à tarefa inacabada da evangelização mundial, afetou uma mudança paradigmática na compreensão de missões e no planeamento estratégico [3]. O que contribuiu para a cosmovisão emergente sobre os povos do Dr. Winter? Segundo o que me revelou, na Escola de Missões Mundiais do Seminário Fuller (onde deu aulas), havia “10 alunos e 100 professores”. Ele era o aluno que aprendeu sobre crescimento da igreja e evangelismo no meio da diversidade dos subgrupos culturais de todo o mundo: os “100 professores” eram os seus informadores, os estudantes internacionais.
O papel dos estudantes internacionais no avanço da compreensão a cerca de missões e das suas necessidades tem sido tremendo. E eles continuarão a ser instrutores valiosos, se estivermos dispostos a ouvi-los e a aprender com eles.
Eles também são dádivas de Deus à nação e à igreja que os acolhe: um seminarista africano foi fundamental na conversão de um sacerdote episcopal nos EUA, que mais tarde se tornou bispo e teve um papel essencial na corrente evangélica da Igreja Episcopal Norte-americana. Essa corrente chegou à nova denominação Igreja Anglicana na América do Norte (ACNA) e, por sua vez, agora existem interesse e movimento significativos entre líderes e missionários anglicanos para desenvolver o ISM na ACNA.
A realidade é esta: a maioria dos cristãos não são “chamados” para servir como missionários profissionais a longo prazo, ou para levantar o seu próprio sustento como fazedores de tendas noutro país. Porém, ficar na nossa terra natal não significa que não nos podemos envolver no ministério transcultural e global. O ISM é uma forma de participar em missões mundiais sem sair de casa.
Conteúdo publicado originalmente em lausanne.org.
Notas
[1] Jonathan Bonk, «Thinking Small: Global Missions and American Churches» Missiology (Abril de 2000).
[2] Nota do editor: Consulte o artigo de Allen Yeh, «O futuro de missões é de todos para todos os lugares: um olhar sobre a missiologia policêntrica», publicado nesta edição da Análise Global de Lausanne.
[3] Nota do editor: Consulte o artigo de Kent Parks, «Terminando os 29% ainda não alcançados pela evangelização mundial» publicado na edição de maio de 2017 da Análise Global de Lausanne https://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/agl-pt-br/2017-05-pt-br/terminando-os-29-ainda-nao-alcancados-pela-evangelizacao-mundial
• Leiton Edward Chinn tem mobilizado a igreja para o ministério estudantil internacional desde 1977 e completou dez anos como Catalisador de Lausanne para o ISM em 2017. Serviu como Presidente da Association of Christians Ministering among Internationals [estudantes] de 1999 a 2008. Leiton é casado com Lisa Espineli Chinn, antiga Diretora Nacional de ISM da InterVarsity USA, que foi estudante internacional oriunda das Filipinas na Wheaton Graduate School.
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