Opinião
- 25 de março de 2009
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O "Besteirol na Ciência", o cientificismo e o senso comum
Guilherme de Carvalho
Causou furor a coluna de Ruth de Aquino na revista Época, publicada na última sexta-feira.
Sob o título "O Besteirol na Ciência é Melhor do que no Senado", a jornalista lançou uma espécie de "ataque surpresa" à comunidade científica -- ou, ao menos, assim ela foi interpretada por muita gente. É o que se pode deduzir das respostas imediatas nos comentários online e em alguns dos principais blogs de ciência do Brasil.
Na verdade a jornalista não atacou a ciência diretamente, em nenhum momento, embora tenha expressado certo desdém. Em seu artigo ela meramente alistou uma série de experimentos científicos que aparentemente teriam pouquíssimo ou nenhum poder explanatório, como o caso de uma pesquisa sobre os benefícios de quinze minutos de recreio para o rendimento de crianças na escola ou sobre o poder de "genes gay" (supostamente responsáveis pela gentileza e pela sensibilidade) para atrair mulheres. Nesses e em outros casos, tempo e dinheiro foram gastos para demonstrar fatos óbvios ao senso comum, ou para trazer resultados inúteis. Ao fim do artigo ela aponta uma de suas fontes: uma entrada da wikipedia sobre o prêmio "IgNóbel" -- uma paródia do prêmio Nobel sobre pesquisas científicas "cômicas".
Porém, a reação ao artigo foi vastamente negativa. Houve quem declarasse guerra à jornalista. Entre ameaças de patrulhamento e petardos virtuais alguns cientistas defenderam uma das pesquisas criticadas por Ruth em seu artigo -- um grupo de cientistas da Universidade de Princeton descobriu que a visão de mulheres de biquíni desperta nos homens a mesma área do cérebro estimulada quando eles veem objetos e ferramentas; e que a sua memória para corpos sexualizados de mulheres -- sem os rostos -- é mais ativa do que a memória para mulheres vestidas ou para homens. Ruth de Aquino seguiu a linha da reportagem na seção de ciência do The Independent, "University of the bleedin' obvious", que também ridicularizou as obviedades da pesquisa.
Em defesa de seus colegas, o editor de "Brontossauros em meu Jardim" -- premiado blog de ciência brasileiro, atacou o sentimento "anticientífico" da jornalista e defendeu a pesquisa de fatos aparentemente banais com o seguinte argumento: "o papel da ciência é exatamente desafiar o nosso senso comum, que um péssimo parâmetro para se descobrir como funciona o nosso universo. Por essa razão, é necessário realmente testar o senso comum para ver se ele corresponde a realidade".
Um outro blogueiro cientista (semciência) disse que a pesquisa não era tão trivial, afinal de contas, e que os resultados ao menos fortalecem a afirmativa de que o uso de mulheres seminuas em anúncios desumaniza as mulheres, "para além de achismos e senso comum (que podem ser contestados pelos cínicos de plantão)".
Causou furor a coluna de Ruth de Aquino na revista Época, publicada na última sexta-feira.
Sob o título "O Besteirol na Ciência é Melhor do que no Senado", a jornalista lançou uma espécie de "ataque surpresa" à comunidade científica -- ou, ao menos, assim ela foi interpretada por muita gente. É o que se pode deduzir das respostas imediatas nos comentários online e em alguns dos principais blogs de ciência do Brasil.
Na verdade a jornalista não atacou a ciência diretamente, em nenhum momento, embora tenha expressado certo desdém. Em seu artigo ela meramente alistou uma série de experimentos científicos que aparentemente teriam pouquíssimo ou nenhum poder explanatório, como o caso de uma pesquisa sobre os benefícios de quinze minutos de recreio para o rendimento de crianças na escola ou sobre o poder de "genes gay" (supostamente responsáveis pela gentileza e pela sensibilidade) para atrair mulheres. Nesses e em outros casos, tempo e dinheiro foram gastos para demonstrar fatos óbvios ao senso comum, ou para trazer resultados inúteis. Ao fim do artigo ela aponta uma de suas fontes: uma entrada da wikipedia sobre o prêmio "IgNóbel" -- uma paródia do prêmio Nobel sobre pesquisas científicas "cômicas".
Porém, a reação ao artigo foi vastamente negativa. Houve quem declarasse guerra à jornalista. Entre ameaças de patrulhamento e petardos virtuais alguns cientistas defenderam uma das pesquisas criticadas por Ruth em seu artigo -- um grupo de cientistas da Universidade de Princeton descobriu que a visão de mulheres de biquíni desperta nos homens a mesma área do cérebro estimulada quando eles veem objetos e ferramentas; e que a sua memória para corpos sexualizados de mulheres -- sem os rostos -- é mais ativa do que a memória para mulheres vestidas ou para homens. Ruth de Aquino seguiu a linha da reportagem na seção de ciência do The Independent, "University of the bleedin' obvious", que também ridicularizou as obviedades da pesquisa.
Em defesa de seus colegas, o editor de "Brontossauros em meu Jardim" -- premiado blog de ciência brasileiro, atacou o sentimento "anticientífico" da jornalista e defendeu a pesquisa de fatos aparentemente banais com o seguinte argumento: "o papel da ciência é exatamente desafiar o nosso senso comum, que um péssimo parâmetro para se descobrir como funciona o nosso universo. Por essa razão, é necessário realmente testar o senso comum para ver se ele corresponde a realidade".
Um outro blogueiro cientista (semciência) disse que a pesquisa não era tão trivial, afinal de contas, e que os resultados ao menos fortalecem a afirmativa de que o uso de mulheres seminuas em anúncios desumaniza as mulheres, "para além de achismos e senso comum (que podem ser contestados pelos cínicos de plantão)".
É teólogo, mestre em Ciências da Religião e diretor de L’Abri Fellowship Brasil. Pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte e presidente da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, é também organizador e autor de Cosmovisão Cristã e Transformação e membro fundador da Associação Brasileira Cristãos na Ciência (ABC2).
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