Opinião
- 13 de novembro de 2023
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O avivamento chega à cidade de Nova York
Por Tim Keller
Quando me tornei cristão na Bucknell University, em 1970, o pequeno grupo InterVarsity tinha talvez entre cinco e quinze pessoas frequentes em vários momentos nos primeiros dois anos em que estive envolvido. De repente, nos meus dois últimos anos, os números aumentaram dez vezes. Muitas pessoas estavam se tornando cristãs.
REVISTA ULTIMATO | ENVELHECEMOS: A ARTE DE CONTINUAR
Não são todos os que alcançam a longevidade. Precisamos assimilar que a velhice é uma estação tão natural quanto às estações do ano e que cada fase da vida tem suas especificidades e belezas próprias. Ao publicar esta matéria de capa, Ultimato deseja encorajar um novo olhar para a velhice: um novo olhar dos idosos para eles mesmos e um novo olhar para os idosos por parte da igreja e da sociedade.
É disso que trata a matéria de capa da edição 404 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Quando me tornei cristão na Bucknell University, em 1970, o pequeno grupo InterVarsity tinha talvez entre cinco e quinze pessoas frequentes em vários momentos nos primeiros dois anos em que estive envolvido. De repente, nos meus dois últimos anos, os números aumentaram dez vezes. Muitas pessoas estavam se tornando cristãs.
Isso não foi apenas antes dos telefones celulares e das mídias sociais, mas antes mesmo das secretárias eletrônicas. Não houve campanha. Não havia mídia. Quase não usávamos a palavra “movimento”. Não havia uma coordenação, nem comitês, nada.
O que aconteceu?
Aluno do avivamento
Eu me formei na faculdade, decidi que queria entrar no ministério e fui para o Seminário Gordon-Conwell. No outono de 1972, o historiador da igreja Richard Lovelace estava ministrando um curso chamado “A dinâmica da vida espiritual” pela primeira vez em sua carreira, em que destilou sua pesquisa histórica sobre avivamento. Ele havia sido um historiador do avivamento e havia estudado os despertares. O curso me surpreendeu porque, em grande parte, descrevia o que eu acabara de ver no campus da minha faculdade.
Entrei no ministério aos 24 anos e por nove anos pastoreei uma igreja presbiteriana em uma pequena cidade da Virgínia. Depois disso, fui para o Seminário de Westminster, onde ensinei por cinco anos.
O avivamento chega à cidade de Nova York
Fomos à cidade de Nova York para plantar a Redeemer Presbyterian Church (Igreja Presbiteriana Redentor) em 1989. Cinco ou seis meses depois de chegarmos lá – do início de 1990 até o final de 1991 – aconteceu de novo. Eu vi basicamente a mesma dinâmica que eu tinha visto na faculdade. Parecia a mesma coisa. O cheiro era o mesmo.
Nossa igreja cresceu no meio de Manhattan em uma época em que as pessoas estavam se mudando por causa do crime. Não tínhamos aqueles que pulam de igreja em igreja. Estávamos começando do zero. Foi um lugar difícil para começar, mas a igreja cresceu e em dois anos havia cerca de mil pessoas participando dos cultos.
Sou um pregador melhor agora do que naquela época; não era como se as pessoas viessem até nós procurando um bom pregador. Certamente não estávamos bem-organizados. Não tínhamos uma grande equipe. O que estava acontecendo? Creio que foi o que tem sido historicamente chamado de “avivamento”.
Como não definir avivamento: fronteira e pentecostal
Há diferentes definições. Uma é o que chamarei de definição de fronteira: o avivamento é uma temporada de esforço evangelístico extremamente vigoroso.
Eu era um ianque que se mudou para o sul nos anos 1970. Era jovem – 24 anos – e também um cristão relativamente novo – haviam se passado apenas cerca de quatro anos desde a minha conversão. Eu não tinha formação evangélica, tendo crescido como luterano. Então, fiquei surpreso ao vir para o sul e ver as igrejas anunciarem: “Avivamento: 21 a 27 de abril”. Eu pensei: “Como eles poderiam fazer isso? Como eles sabem que vai acontecer de 21 a 27 de abril? E o que há de errado com 28 de abril?”.
Uma segunda abordagem para o avivamento poderia ser chamada de abordagem pentecostal. A abordagem pentecostal-carismática – provavelmente a abordagem dominante na igreja mundial – inclui o crescimento da igreja em geral, mas enfatiza particularmente os dons extraordinários do Espírito Santo.
Como definir o avivamento: três elementos
Cheguei a uma definição de avivamento a partir da leitura da história, da leitura da Bíblia e de minhas próprias experiências. O avivamento não é algo que os seres humanos fazem ou uma aparição extraordinária do Espírito Santo. O avivamento real é a intensificação das ações ordinárias do Espírito Santo.
As ações comuns do Espírito Santo são convicção, conversão, certeza e santificação. Quando essas ações são intensificadas em uma igreja, denominação, cidade ou país, tem-se um avivamento.
E quando se tem o avivamento, três coisas geralmente acontecem.
1. Cristãos sonolentos acordam
Quando o Espírito Santo começa a fazer sua obra, ele traz arrependimento e certeza. Os cristãos comuns geralmente não estão tristes ou felizes o suficiente. Não estamos convencidos o suficiente sobre o nosso pecado. Não estamos experimentando arrependimento profundo e, portanto, não experimentamos grande certeza.
Mas quando o Espírito testifica com o seu espírito, quando o Espírito se aproxima e diz: “É verdade”, ele está nos trazendo certeza. A convicção do pecado e a certeza de quem você é em Cristo, a certeza do amor de Deus – isso desperta cristãos sonolentos, muitos dos quais estão sonâmbulos ao longo da vida.
2. Os cristãos nominais são convertidos
O avivamento também converte aqueles que são cristãos apenas de nome. As igrejas estão cheias de pessoas que pensam que são cristãs – são batizadas, são membros, talvez até mesmolíderes. Quando o avivamento irrompe, muitos deles vêm e dizem: “Pensei que eu fosse cristão. Agora sei que nunca fui. Nunca entendi realmente o significado de ser salvo pela fé”.
Como pastor, muitas vezes você pode perceber as pessoas que não saboreiam Cristo em suas vidas, embora nem sempre possa dizer com certeza quais são ou não são salvas. Durante os tempos de avivamento, o Espírito passa e faz uma obra que o pastor não pode fazer.
3. Não-cristãos conscientes chegam à fé
As igrejas crescem em tempos de avivamento. Muitos na comunidade chegam à fé em Cristo, em parte porque, quando os cristãos sonolentos acordam e os cristãos nominais se convertem, isso embeleza a igreja. A igreja se torna um lugar atraente. Torna-se um lugar poderoso. E essa mudança acontece por vários motivos.
Por um lado, cristãos sonolentos e nominais começam a alcançar seus vizinhos de uma forma que não faziam antes. Por outro lado, as pessoas ouvem falar e a notícia se espalha. Igrejas inteiras e pessoas desconectadas entram só porque estão curiosas. Em outros casos, elas entram porque foram trazidas.
Como o avivamento muda a Igreja: marcas de um avivamento
Temos considerado o que acontece em um avivamento, mas quais são as marcas do avivamento?
O evangelho é recuperado
Tempos de avivamento quase sempre têm algum sentido em que o evangelho é recuperado. O evangelho é crido e comunicado de uma forma nova, vital e vívida, e é recuperado do legalismo e da licenciosidade. Esses são os erros de ambos os lados do evangelho. O evangelho não significa que você é salvo pelas obras. O evangelho não significa que, uma vez que você está salvo, não importa a maneira como você vive. Em vez disso, o evangelho diz que você é salvo somente pela fé, mas não pela fé que está sozinha ou permanece sozinha – ela resulta em santidade de vida.
Quase sempre, o avivamento acontece quando uma igreja recentraliza o foco no evangelho. Ou uma igreja tem que se afastar de um conservadorismo rígido, sem alegria e contra tudo para chegar a uma vida cristã mais positiva, centrada no evangelho e cheia de graça. Ou uma igreja deve se recuperar do liberalismo que não acredita realmente na expiação, não acredita realmente no inferno, não acredita realmente que somos pecadores ou que Jesus teve que propiciar a ira de Deus. Uma restauração do evangelho ocorre em uma ou outra dessas direções.
O arrependimento é normalizado
O avivamento é marcado por uma percepção em que o arrependimento se torna normal. Os estágios iniciais de um avivamento que levou a um tremendo crescimento na igreja coreana começaram no início do século 20, por volta de 1905-1910, em Pyongyang. O arrependimento foi uma grande parte disso.
Em primeiro lugar, o avivamento se espalhou em algumas das cidades onde muitos dos proprietários eram chineses. Muitas vezes, os chineses eram os ricos da cidade e os donos dos negócios. Um relato que li afirmava que muitos proprietários chineses ficaram surpresos porque, quando o avivamento começou a se espalhar, os cristãos coreanos – que estavam dormentes e acordaram – foram convencidos do pecado e começaram a voltar para os proprietários e confessar que os haviam roubado ou enganado em um acordo. Isso é arrependimento.
A adoração coletiva é ungida
Outra marca teológica do Avivamento é a adoração coletiva ungida. Você provavelmente já ouviu falar sobre o Avivamento de Asbury em 1970, que durou semanas sem parar. Durante os cultos na capela, os alunos começaram a se levantar e confessar coisas como “Estou dormindo com meu namorado e quero muito parar, e estou confessando isso a Deus”. Isso aconteceu também em Wheaton. Essa confissão pública trouxe uma notável seriedade espiritual no campus. Mas não acho que isso seja exatamente a mesma coisa que adoração ungida.
Quando digo adoração ungida, quero dizer que não-cristãos, e todo mundo, sabem que Deus está lá. Em 1 Coríntios 14, Paulo explica o que acontece quando um descrente entra e os segredos de seu coração são expostos e ele, então, é ferido profundamente. O que o descrente diz? Ele não diz: “Ah, estou magoado”. Não. Ele diz: “Deus realmente está aqui. Deus realmente está entre nós”. O descrente é dominado pela sensação da presença de Deus. Essa é uma marca teológica do avivamento.
Os discípulos são multiplicados
Onde há avivamento, sempre há crescimento da igreja. Você pode ter crescimento da igreja sem avivamento, mas não pode ter avivamento sem algum crescimento da igreja. Por quê? Porque, quando Deus está trabalhando, é impossível você ficar de boca fechada sobre o evangelho perto de seus amigos.
O problema dos métodos de avivamento
Observe que não ofereço métodos: eu mencionei marcas teológicas. As histórias que compartilhei talvez sejam concretas o suficiente para que você possa identificar o avivamento se o vir. Mas ainda assim, você se pergunta: “Como se consegue o avivamento?”.
Se você observar o Grande Avivamento do século 18, com John Wesley e George Whitefield, verá que havia um método eletrizante: a pregação ao ar livre. O estilo de pregação era um método.Mas houve um avivamento no centro de Nova York, entre 1857 e 1859, que nada teve a ver com pregação ao ar livre. O avivamento se deu por meio de reuniões de oração lideradas por leigos, ao meio-dia, que aconteceram por toda a cidade todos os dias. As pessoas estavam entrando, orando e ouvindo o evangelho.
Alguém disse certa vez: “Você nunca pode voltar para Nárnia duas vezes da mesma maneira. Você foi pelo guarda-roupa uma vez; isso não vai acontecer de novo”. O mesmo se aplica ao avivamento. Martyn Lloyd-Jones fez uma observação semelhante sobre os avivamentos galeses. Quando ele olhou para as igrejas que haviam experimentado o avivamento décadas antes, uma das tragédias – observou ele – foi que elas estavam presas ao método. É difícil tirar as pessoas de métodos que funcionaram.
Acima de tudo, Deus tem que fazer isso. Você diz: “Bem, é claro que Deus é soberano”. Mas muitas vezes ele causa algum tipo de reviravolta na cultura. Deus em sua providência intensifica as operações normais do Espírito Santo. Não quero que isso aconteça nos lugares onde estamos, mas às vezes, na providência de Deus, pode ser o que ele faz. Você não ora por reviravolta; você ora por avivamento. Você ora por avivamento e diz: “Faça o que for preciso”.
- Tim Keller fundou a Redeemer Presbyterian Church (Igreja Presbiteriana Redentor), em Nova York, e foi presidente da Redeemer City to City. Escreveu inúmeros livros. Ele e sua esposa, Kathy, tiveram três filhos.
Artigo originalmente publicado no livro Unidade da Igreja, Cooperação na Missão (vários autores). Ultimato.
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Saiba mais:
» O Discipulado na Igreja Local, Randy Pope e Kitti Murray
» O dia em que conheci Tim Keller mas não sabia, por Lissânder Dias
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