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Opinião

Novidades na MPB?

Arte: o chão de nossa caminhada

No dia 29 de abril de 2012 o jornal Folha de São Paulo comemorou quatro anos da sua revista Serafina, um veículo que divulga diversas artes e eventos e que traz, geralmente, boas matérias e entrevistas sobre o assunto.

A capa desta edição trouxe a imagem do disco Tropicália, de 1967, em versão anos 2010, onde no lugar de Gil, Caetano, Duprat, Tom Zé entre outros que apareciam na capa original, novos talentos da MPB como Gustavo Galo, Romulo Fróes, Felipe Cordeiro, Rodrigo Campos, Hélio Flanders (Vanguart) entre outros, identificando-os como uma “renovação da MPB” ou a “NeoMPB”.

O melhor dessa matéria, em minha opinião, foram as montagens de capas que ficaram bem interessantes, remetendo exatamente às capas de disco da época. Refiro-me só à parte gráfica, porque o conteúdo deixou a desejar.

Na reprodução do disco Tropicália: Gustavo Galo (como Arnaldo Baptista); Romulo Fróes (Caetano Veloso); Naná Rizinni (Rita Lee); Felipe Cordeiro (Sérgio Dias); Rodrigo Campos (Tom Zé); Hélio Flanders (Rogério Duprat); Nina Becker (Nara Leão); Márcia Castro (Gal Costa); Marcelo Jeneci (Torquato Neto); Emicida (Gilberto Gil); Guilherme Held (Capinan).


A mídia sempre compara novidades musicais da cena popular brasileira com o que foi produzido, em especial no final da década de 1960 e em 1970. Essa prática jornalística já enervou muito artistas como Lenine que sempre foram comparados à Tropicália e que afirmam nunca terem ouvido com tanto afinco os tropicalistas. Para quem conhece a obra do compositor pernambucano, sabe que ele realmente tem muito pouco da obra de Caetano, Gil e Tom Zé. Possivelmente alguns desses “novos da MPB” também não ouviram assiduamente esses compositores. Não vejo problema algum com mentoria artística – inclusive acho justo e fundamental lembrar e indicar quem nos influenciou -, mas nesse caso específico esta geração poderia ser analisada em seu período histórico e não em um continuísmo “inevitável”.


Em relação ao cerne da matéria, só foi demonstrado o que todos já sabem: há os nichos e quando o artista novo cai na graça de um público um pouco maior – geralmente a partir do apoio virtual – passa a vender mais e se torna um “herói fonográfico”. A continuação dessa história é que esses artistas vão agora dar uma “banana” para a indústria fonográfica que um dia os desprezou e serem reconhecidos por serem independentes. Portanto, nada de novo debaixo do sol.

E os artistas da MPB cristã? Continuam desaparecidos da tal “renovação da MPB”, demonstrando que ainda se encontram longe de serem considerados pela mídia como parte da cultura brasileira. E convenhamos, seria uma informação atrasada se algum dia os veículos de comunicação os considerassem assim, uma vez que alguns da MPB cristã possuem mais de quarenta anos de trabalhos musicais e gravações. Mas e os novos? Não mereciam tal reconhecimento em uma matéria como essa?

Mal sabem os autores da reportagem que esses artistas se apresentam quase todos os dias e alguns, já procurados por majors, vendem milhares de unidades de CDs e DVDs (lançamentos) em poucos meses. E aqui não estou me referindo aos artistas do mainstream gospel, como Aline Barros, Fernandinho ou Diante do Trono, mas sim a uma cena específica chamada “MPB cristã”. Por fim, não devem saber também que esses artistas são independentes há décadas e que seu nicho, tal qual da MPB citada na reportagem, não para de crescer.

Algo de novo na MPB? Todos os dias músicos cristãos estão compondo, gravando e se apresentando. Daria para escrever uma coluna semanal o ano inteiro para algum jornal mostrando diversos artistas e bandas da história da MPB cristã e tecendo análises de belas obras musicais, abrindo assim o leque da MPB para o público e mostrando o que de fato ela é: híbrida e plural.

Sim, há algo novo – ou talvez ainda meio escondido - debaixo do sol cultural brasileiro.

Legendas
Imagem 01: capa original da Tropicália (à esquerda) e capa da revista Serafina (à direita). Na reprodução do disco Tropicália: Gustavo Galo (como Arnaldo Baptista); Romulo Fróes (Caetano Veloso); Naná Rizinni (Rita Lee); Felipe Cordeiro (Sérgio Dias); Rodrigo Campos (Tom Zé); Hélio Flanders (Rogério Duprat); Nina Becker (Nara Leão); Márcia Castro (Gal Costa); Marcelo Jeneci (Torquato Neto); Emicida (Gilberto Gil); Guilherme Held (Capinan).
Imagem 02: Na reprodução do álbum Secos & Molhados (1973), da esquerda para a direita: Andreia Dias (como Ney Matogrosso); Anelis Assumpção (Gerson Conrad); Luisa Maita (Marcelo Frias) e Mariana Aydar (João Ricardo).

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É músico, historiador, educador, escritor e revisor pedagógico de História. Seu trabalho musical principal é o Baixo e Voz, que já conta com 21 anos, cinco CD's e um DVD. Mestrando em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
  • Textos publicados: 12 [ver]

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