Opinião
- 11 de setembro de 2020
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Não sou mais evangélico. Um verbicídio aconteceu: a palavra foi assassinada
Por Paulo Ribeiro
Decidi não mais usar a palavra “evangélico” para descrever minha posição religiosa. Retorno a um termo mais antigo: “cristão protestante reformado”.
Podemos compreender uma palavra muito melhor se a encontramos viva, em sua língua materna, seu contexto e habitat nativo. Tanto quanto possível, nosso conhecimento deve ser verificado e alimentado, não derivado do dicionário. Mas, a língua é uma entidade viva – assim como as palavras. E, como algo vivo – palavras – podem ser mortas por transformações naturais e culturais, ou pior, assassinadas.
C.S. Lewis chamou a isto de “verbicídio”, e pode acontecer de várias formas:
O exagero ou inflação é a forma mais comum; aqueles que nos ensinaram a dizer “tremendo”, para se referir a ‘ótimo’, e “sadismo”, para ‘crueldade’, são verbicídas. Outra forma é a verborragia, quando uso uma ou muitas palavras que prometem o que não conseguem cumprir. Alguns cometem verbicídio porque usam uma palavra como bandeira, para apropriar-se da "possibilidade de venda". No entanto, a maior causa de verbicídio é o fato de que a maioria das pessoas está muito mais ansiosa para expressar sua aprovação ou desaprovação das coisas do que descrevê-las. Daí a tendência das palavras se tornarem menos descritivas e mais avaliativas. Assim, embora ainda retenham alguma sugestão do tipo de bondade ou maldade implícita, temos sinônimos inúteis para bom ou para ruim simplesmente avaliativos.
Depois de viver 30 anos fora do Brasil, encontrei muitas palavras, gírias novas, de uso limitado no passado, e precisei voltar ao Aurélio. Mas isto faz parte da natureza de uma língua viva – as palavras também ganham novos significados. A palavra “evangélico” foi uma que me surpreendeu pela sua popularidade, que também já estava bastante manchada por ser usada por corruptos, cafajestes, canalhas, para práticas inimagináveis e, o pior, em nome de Deus.
É verdade que raramente alguém chama de corrupção, adultério, etc, o ato que estava prestes a cometer; e, quando ouve algo semelhante descrito por outros, fica chocado e surpreso – mas não inocente. Aliás, muitas vezes, aqueles que mais desprezam e discriminam o grupo social de onde as prostitutas são recrutadas, não são necessariamente aqueles que se abstém da fornicação.
Os últimos escândalos de pastores, governadores, presidente da Câmara, deputados federais, juízes e procuradores, que se dizem evangélicos, e que agem de forma completamente contrária aos princípios fundamentais do evangelho, é algo de uma perversão inimaginável. A palavra – evangélico – já convalescia há muito tempo; respirando com ajuda de aparelhos, mas agora a morte encefálica foi declarada.
Tentei por certo tempo defender a palavra “evangélico” como um movimento que representava os valores do evangelho de Cristo de forma direta e menos institucional. Mas, após tantos escândalos no Brasil e no exterior, cansei. Quando a maioria dos evangélicos apoia essas ações, mentiras e injustiças, verbicídio foi consumado. E poderíamos até dizer que aconteceu um “verbi-suicídio”.
Com relação à infinidade de denominações que encontramos, qual será a palavra correta? É importante lembrar que na Bíblia não existe a palavra “denominação” nem o termo “evangélico”; encontramos “cristãos”. O evangelho na Bíblia se refere às boas novas vividas e não meramente faladas. A institucionalização do cristianismo veio a partir de Constantino, por decreto. Hoje, temos mais evangélicos que cristãos.
Embora o novo termo que vou usar não garante a correção das distorções e a pureza dos seus membros, “cristão protestante reformado” contém dois adjetivos importantes que garantem que “protestos” serão bem-vindos quando erros e injustiças forem cometidos; e que reformas serão necessárias, de tempos em tempos, devido à nossa natureza caída – para garantir o retorno aos princípios fundamentais do cristianismo histórico. Antes que Cristo chegue e expulse a todos:
“Tendo Jesus entrado no pátio do templo, expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo; também tombou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos comerciantes de pombas” (Mat. 21:12).
Finalmente, que todos possamos dizer como o salmista:
“Não sejam envergonhados por minha causa aqueles que esperam em ti, ó Senhor” (Sl 69.6).
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Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao
Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
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