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Opinião

Não somos adoradores de um livro

Por Ricardo Wesley M. Borges

Artigo publicado originalmente na seção "Vamos ler!" da edição 402 da Revista Ultimato.
 
Melhor do que pensar na autoridade que um livro tenha sobre nós é refletir sobre a autoridade que Deus exerce em nós por meio de sua Palavra. Com essa sutil, mas importante, diferença, o precioso livro Bíblia – O Livro para Hoje, de John Stott, nos conduz de maneira leve, mas segura, em um passeio por perguntas que fazemos quando abrimos a Bíblia. Do que ela trata? É confiável? Seria ela relevante para a vida e os desafios que enfrentamos hoje? O que acontece quando nela medito?
Alguns insights da obra. Primeiro, Deus nos fala, se comunica, tanto em suas palavras como em seus atos na história. Segundo, na Palavra vemos uma diversidade enriquecedora de autores humanos, com variedade de estilos, perspectivas e gêneros literários. Reconhecer que sua autoria é tanto humana como divina não nos leva à suspeita, mas, sim, reforça em nós a humildade em uma aproximação cuidadosa, para não perder de vista elementos culturais e literários nem nossa dependência do Espírito e da comunidade para uma hermenêutica saudável. Terceiro, Deus nos fala porque nos ama, porque deseja nos levar a um encontro com Cristo e com a vida que ele nos oferece.
 
Stott enfatiza também a centralidade de Cristo na revelação de Deus por meio das Escrituras. Se amarmos a Bíblia sem conhecê-la e sem amar o Cristo que ela nos revela, daremos razão àqueles que nos acusam de sermos simplesmente adoradores de um livro. Ainda bem que podemos, e devemos, ter uma atitude diferente: a de ver a Bíblia como um lugar aconchegante, aonde chegamos e nos encontramos com a pessoa de Jesus. Temos um ciclo virtuoso: a Bíblia dando testemunho de Cristo e ele, por sua vez, atestando quão preciosa é a Palavra de Deus para nós. Essa reciprocidade não enfraquece o argumento; afinal, há uma linearidade: os textos fidedignos das Escrituras nos levam a Cristo, que nos ajuda a construir uma visão correta de toda a Bíblia – a qual, por meio dos profetas, dos apóstolos, de todas as Escrituras, o Pai nos dá testemunho de seu Filho.
 
O Espírito Santo também é essencial para esse entendimento da Bíblia. Ele é o agente desse testemunho. Se o Espírito inspirou no passado agentes humanos para trazer-nos a Palavra, precisamos igualmente do Espírito hoje para entendê-la e respondê-la. Uma boa postura é reconhecer que na Bíblia entramos nas águas profundas de um mistério que nos é revelado pelo Espírito, que nos sonda, nos desafia, nos vê e nos lê por meio da Palavra. Assim, conhecemos a fundo quem somos e a nossa condição, com a ajuda do Espírito operando pela Palavra. O Espírito inspira a Palavra e ilumina o nosso caminho.
 
A Bíblia é lida também em comunidade. Na igreja multirracial, multiétnica, na riqueza dessa diversidade, lemos e entendemos melhor a Palavra. Assim, a Bíblia é tanto o fundamento, sua origem e alicerce, como o sustento da igreja. Quando a Palavra é levada a sério por toda a comunidade, há orientação para uma rota segura, há reforma constante, há unidade em meio à diversidade porque nos submetemos a uma autoridade comum, há avivamento que produz transformação do indivíduo, da comunidade e de seu entorno. A Bíblia sustenta a igreja e essa a difunde, a prega, a ensina.
 
É um livro necessário hoje porque revela nossa condição, nos aponta o caminho para a vida em Cristo, revela o caráter e o coração de Deus para todos nós, em todas as áreas da vida humana. Por isso somos convidados a uma atitude amorosa com esse livro, que sempre será atual. A nova e bem-vinda edição do livro de Stott nos convida a ler a Palavra com expectativa e esperança, a uma abertura genuína para o que o Senhor quer continuar a fazer em nós e por meio de nós a partir de sua Palavra.

REVISTA ULTIMATO | MAMOM VERSUS DEUS
 
Ao todo, Jesus contou 38 parábolas. Mais de um terço delas trata de assuntos ligados a posses e riquezas. Há cerca de quinhentos versículos sobre oração na Bíblia. Sobre dinheiro e posses são mais de 2.300.

As Escrituras se ocupam desse assunto porque ele é crucial para a fé. Trata-se de onde colocamos nossos afetos e a quem seguimos. Jesus adverte: “Onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6.21).

É disso que trata a matéria de capa da edição 402 da Revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.

É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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