Opinião
- 22 de agosto de 2017
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Não seja o negro do branco
Por Guilherme de Carvalho
Conheci um jovem negro que tentava convencer-me: “a ciência foi inventada pelos negros! E os brancos a roubaram!” Eu lhe disse que a ciência não é de brancos nem de negros, mas de homens, e que não importava se os brancos a inventaram. Ele retrucou rápido: “você não sabe de nada, precisamos conversar…”; e desfiou sua tese que, além de confundir ciência no sentido moderno com a antiga filosofia da natureza, entre outras confusões mostrou-se, obviamente, uma teoria da conspiração.
A isso respondi-lhe: “enquanto você separa o que é do branco e do negro, e tenta criar um mundo do negro, e ser a alternativa do branco, e fazer da “negritude” a norma para o negro e empurrar o branco para a sua norma branca, você ainda é o negro do branco. Eu me livrei disso quando deixei de ser o negro do branco. Eu sou um homem.”
Ele elogiou minhas filhas. “Duas princesas africanas!” A mais velha, que sofreu racismo em diversas ocasiões, não se impressionou. “Sou Brasileira!” Duas belas pretas Brasileiras, mas sabemos de família: índios, negros e europeus entraram em nosso sangue. Somos o melting pot. Mas por razões medelianas, elas são mais “africanas” e eu mais “índio” e meus irmãos mais “europeus”. Eu saí um negro ambíguo.
Mas para alguns sofistas somos simplesmente negros, com um etos negro, um patos negro, uma identidade negra, e um destino negro. Ou somos isso, ou não somos nada. Ou negamos quem somos.
“Raça” como base para distinções culturais e autoconstituição identitária, isso para mim é que é um nada; quanto a isso, sigo um ateu. E ainda mais ateu desses ideólogos que querem me usar nessa horrenda balcanização identitária, a serviço do puro agonismo político. Para quê criar tribos de negros? Para legitimar as tribos de brancos? Para oportunizar supremacistas malucos?
E quanto à ciência: de fato ela não é dos brancos, nem dos negros, nem dos homens, nem das mulheres, nem dos crentes, nem dos ateus. A ciência pertence aos seres humanos, e não interessa a cor, o sexo e a crença de quem a pratica para o bem comum.
Acredito em políticas de mobilidade social e na criminalização do racismo. Até mesmo em cotas, em certos contextos. Mas não acredito em negros de brancos, nem em brancos de negros que querem me salvar da “cultura dos brancos” e me ensinar “a cultura dos negros”. Sou um negro, mas não sou o negro dos brancos. Sou um homem.
*Quanto à ciência moderna… recomendo Peter Harrison, em “Os Territórios da Ciência e da Religião” (Ultimato). Para compreender que houve grandes pensadores africanos, mas que a ciência moderna nasceu, enfim, na Europa branca e Cristã. Se isso lhe incomoda, o fantasma do branco ainda se esconde no seu corpo: você ainda é o negro de algum branco.
Nota: Artigo publicado originalmente no blog do autor.
Conheci um jovem negro que tentava convencer-me: “a ciência foi inventada pelos negros! E os brancos a roubaram!” Eu lhe disse que a ciência não é de brancos nem de negros, mas de homens, e que não importava se os brancos a inventaram. Ele retrucou rápido: “você não sabe de nada, precisamos conversar…”; e desfiou sua tese que, além de confundir ciência no sentido moderno com a antiga filosofia da natureza, entre outras confusões mostrou-se, obviamente, uma teoria da conspiração.
A isso respondi-lhe: “enquanto você separa o que é do branco e do negro, e tenta criar um mundo do negro, e ser a alternativa do branco, e fazer da “negritude” a norma para o negro e empurrar o branco para a sua norma branca, você ainda é o negro do branco. Eu me livrei disso quando deixei de ser o negro do branco. Eu sou um homem.”
Ele elogiou minhas filhas. “Duas princesas africanas!” A mais velha, que sofreu racismo em diversas ocasiões, não se impressionou. “Sou Brasileira!” Duas belas pretas Brasileiras, mas sabemos de família: índios, negros e europeus entraram em nosso sangue. Somos o melting pot. Mas por razões medelianas, elas são mais “africanas” e eu mais “índio” e meus irmãos mais “europeus”. Eu saí um negro ambíguo.
Mas para alguns sofistas somos simplesmente negros, com um etos negro, um patos negro, uma identidade negra, e um destino negro. Ou somos isso, ou não somos nada. Ou negamos quem somos.
“Raça” como base para distinções culturais e autoconstituição identitária, isso para mim é que é um nada; quanto a isso, sigo um ateu. E ainda mais ateu desses ideólogos que querem me usar nessa horrenda balcanização identitária, a serviço do puro agonismo político. Para quê criar tribos de negros? Para legitimar as tribos de brancos? Para oportunizar supremacistas malucos?
E quanto à ciência: de fato ela não é dos brancos, nem dos negros, nem dos homens, nem das mulheres, nem dos crentes, nem dos ateus. A ciência pertence aos seres humanos, e não interessa a cor, o sexo e a crença de quem a pratica para o bem comum.
Acredito em políticas de mobilidade social e na criminalização do racismo. Até mesmo em cotas, em certos contextos. Mas não acredito em negros de brancos, nem em brancos de negros que querem me salvar da “cultura dos brancos” e me ensinar “a cultura dos negros”. Sou um negro, mas não sou o negro dos brancos. Sou um homem.
*Quanto à ciência moderna… recomendo Peter Harrison, em “Os Territórios da Ciência e da Religião” (Ultimato). Para compreender que houve grandes pensadores africanos, mas que a ciência moderna nasceu, enfim, na Europa branca e Cristã. Se isso lhe incomoda, o fantasma do branco ainda se esconde no seu corpo: você ainda é o negro de algum branco.
Nota: Artigo publicado originalmente no blog do autor.
É teólogo, mestre em Ciências da Religião e diretor de L’Abri Fellowship Brasil. Pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte e presidente da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, é também organizador e autor de Cosmovisão Cristã e Transformação e membro fundador da Associação Brasileira Cristãos na Ciência (ABC2).
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