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- 06 de janeiro de 2023
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Não sei como é que foi, só sei que foi assim!
Por Hamilton Gomes
Artigo originalmente publicado na edição 399 de Ultimato.
Hoje com mais de 50 anos, percebendo meu passado, não sei muito bem quando fui alcançado por Jesus e por sua infinita e inexplicável graça. Quando penso no assunto, gosto mais da ideia de processo, de encontros, de visitações, e isso se deve ao fato de eu ter nascido em um lar de gente cristã. Meu avô João Gomes foi pastor batista na região de Alta Paulista, que engloba cidades como Tupã, Dracena, Marília e outras ótimas cidades para se viver. As histórias que ouço a respeito do Vô João são de que se tratava de um apologeta que apresentava Jesus constantemente. Certa feita, o padre da cidade teve que ser transferido, pois estava quase convertido pela conversa do Vô João. Casado com a Vó Regina, eram de origem humilde, gente simples e temente a Deus e que, de mudança em mudança, fez sua parte na expansão Reino de Deus pelo interior paulista. Assim, meu pai, sr. Sylas, que já tem mais de 80 anos, acompanhou o amor de meu avô por Jesus. Ele sempre demonstrou honestidade, sobriedade, esforço e compromisso com o reino, sendo exemplo para nossa família ainda hoje. Seu gosto pelos hinos do cantor cristão aparece quando solta o tenor afinado que colaborava com os corais da nossa antiga igreja Batista na Zona Norte de São Paulo.
Minha mãe, dona Celina, nascida em Varpa, cidade no interior paulista fundada por imigrantes da Letônia, foi encaminhada ao evangelho desde nova, depois da conversão de meu avô José Melatti. Ele e a esposa, dona Guilhermina, faleceram quando eu ainda era bem pequeno, por isso perdi a oportunidade de me relacionar com essa parte da família, mas sei que foram discípulos de Jesus por aquilo que minha mãe me conta. Dona Celina, também já octogenária, teve uma vida de trabalho no campo e, depois da mudança do casal para a capital, foi costureira, telefonista entre outras coisas e criou a mim e a meu irmão Haroldo muito bem.
Minha lembrança de vida sempre inclui a igreja e não percebo a vida sem essa perspectiva. Meu irmão e eu frequentávamos as reuniões da escola bíblica dominical, os cultos aos domingos, as visitas às casas dos irmãos, os projetos de construção do prédio da igreja e fazíamos parte de qualquer grupo possível dentro da comunidade. Tudo tinha a ver com o coral, os acampamentos, as festividades de Natal, o futebol aos sábados, as paqueras, os amigos, os diáconos chatos que não deixavam a gente em paz, as broncas por não ficar quieto durante a Ceia.
As histórias são inúmeras, mas me lembro de algumas como a que ocorreu em época de Copa do Mundo. Eu e outros adolescentes queríamos ficar na sala de som da igreja, operando a mesa e aqueles equipamentos todos para, de maneira sórdida e escondida, assistir os jogos. Claro que a janela da sala, que refletia o verde do gramado, sempre nos denunciava e o pastor Lauro de pronto nos chamava atenção.
Tinha também o dirigente do Departamento Infantil com um nome diferente, que me lembro muito bem, o Elon. Quando fazíamos as famosas EBF (Escola Bíblica de Féria) e eu, garotinho, chorava por qualquer coisa, o Elon dizia: “chora mesmo Hamilton, chora mais”. E dá-lhe o Hamiltinho chorando até se acabar.
Sem desprezar o todo, foi na igreja que tive experiências com Deus e lembro-me de algumas, como quando a energia elétrica acabou e fizemos uma reunião à luz de velas. Sei que algo aconteceu naquele dia em meu coração adolescente. Sem lembrar da pregação, coisa difícil para mim, sei que algo aconteceu naquele dia em meu coração adolescente.
Outro momento importante foi a contemplação de um quadro, imagino eu, do artista plástico e cartunista Jasiel Botelho. A imagem mostrava um garoto em lágrimas, aos pés da cruz vazia, segurando os cravos que pretensamente haviam sido usados na crucificação do Cristo. Abaixo, em letras bem destacadas, havia a inscrição: “Isto aconteceu por você”!. Era um sábado à tarde, um daqueles em que eu, por falta do que fazer, gastava o tempo nas dependências da igreja. Foi um encontro solo, mas que me marcou muito. Ali tive uma ideia de minha pecaminosidade e da grandeza do amor de Deus por mim. Parece que a arte já estava sendo usada por Deus para atingir meu coração.
Como gosto de dizer, igreja local é um ambiente profícuo e especial para aprendermos, e foi ali que a música começou a fazer parte da minha vida. Primeiro veio o violão, que me deu a oportunidade de tocar “De joelho é melhor” com minhas amigas Blanche Bruno e Lucimara durante um culto bem cheio. Foi legal, mas a guitarra entraria na minha vida para nunca mais sair. Encontrei uma Snake Semi Acústica e um amplificador Giannini largados em alguma sala da igreja. Nessa época, por conta de um contato com os roqueiros do colégio, o início dessa paixão aconteceu e não acabou mais. Na igreja toquei em muitas noites e a banda Resgate deu seus primeiros passos anos depois. Mas isso é história para outro texto.
Pastoreando há 28 anos, sei que a vocação estava presente desde o começo. Mamãe conta que eu juntava os amiguinhos no quintal de casa e fazia um cultinho e, claro, eu era o pastor. Lembro que o saudoso pastor Lauro me convidou para pregar. E lá fui eu: Bíblia aberta e o texto do livro de João foi exposto em dez minutos. Foi o meu melhor. São histórias que formam a minha história com Deus e me levam ao encontro da vocação pastoral em definitivo, que aconteceu durante alguns anos vividos em uma igreja neopentecostal e, por fim, em nossa comunidade em Guarulhos, onde sirvo o Reino há 10 anos.
Muita coisa aconteceu. Quase desisti da fé em minha rebelde adolescência, resolvida quando encontrei Ana Lucia, o amor da minha vida, com quem me casei e, 31 anos e três lindos filhos depois, entendi a graça divina na vida familiar – que não é perfeita, mas é incrível.
Então, plagiando Chicó, digo: Não sei como é que foi, só sei que foi assim! Deus gracioso, bondoso e cheio de cuidados e detalhes me olhou com seus olhos de amor, dando-me a oportunidade de contribuir com a missio Dei de maneira tão especial. E a gratidão é o que toma conta de mim depois de escrever essas coisas relembrar estes fatos.
- Hamilton Gomes é pastor da comunidade A Casa da Rocha em Guarulhos, SP, e guitarrista da banda Resgate.
A BÍBLIA NÃO ERRA. OS LEITORES, NEM TANTO | REVISTA ULTIMATO
O Ano-Novo é sempre uma oportunidade de renovação de votos. E não há voto mais importante e definidor para 2023 do que o propósito de se expor regularmente à Palavra de Deus, por meio da leitura das Escrituras. A Bíblia deve ocupar lugar central em nossa vida e na vida da igreja.
A matéria de capa desta edição não só incentiva o leitor à leitura regular da Bíblia, mas também o encoraja a aceitar o desafio de olhar reverentemente para as Escrituras como “um diário de Deus”, a partir da “chave” do amor.
É disso que trata a edição 399 da Revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
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Saiba mais:
» Uma sala, um baú e um vestido, por Ilma Brescia
»"Mais perto quero estar, meu Deus de ti” - o hino "do" famoso Titanic, por Henriqueta Rosa F. Braga
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