Opinião
- 13 de março de 2018
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Não recebemos porque pedimos errado. Como pedir então?
Por Marília de Camargo César
O que é mais difícil, pedir ou entregar? Quem pede, admite uma falta. Quem entrega, abre mão de algo, talvez, valioso.
Um discípulo de Jesus chamado Tiago escreveu que nós pedimos, mas não recebemos porque não sabemos pedir. “Vocês são crianças mimadas, cada um querendo as coisas do seu jeito”, ele diz (em sua carta no Novo testamento, versão de A Mensagem). Pedidos infantis.
Já viram crianças pedindo?
- Eu quero, é meu!
A criança pede, pensando somente em si mesma. Ela não vê nada além, não por maldade ou má fé, mas por ser criança. Crianças são egoístas por natureza. O início, o fim e o meio de suas existências, como naquela canção.
Pedidos infantis são sempre para o desfrute de quem pede. Quero aquela casa maior, quero um carro novo, quero aquele homem, que me encanta, aquela mulher, que me tira o fôlego. Me dá, Senhor, eu preciso. Agora!
Tiago, que também era irmão de Jesus Cristo, mas que em sua carta se apresenta apenas como “escravo de Deus e do Senhor Jesus”, nos ensina: “Vocês não têm, porque não pedem. E quando pedem, não recebem, pois pedem pelos motivos errados, para gastar em seus prazeres”.
Tiago era um homem cheio de sabedoria. Mas nem sempre foi assim. “Um profeta só não é importante em sua terra e em sua família”, afirmou o Mestre. Para Tiago, durante muito tempo o seu irmão mais velho não passou de um cara esquisito e cheio de si.
A sabedoria que ele alcançou, e que inspira a muitos ainda hoje, mais de dois mil anos depois de seus escritos, foi alcançada com dedicação e perseverança. Não veio num passe de mágica. Não há mágicas no caminho do discípulo. Esforço e disciplina são o nome do jogo. Alguém já disse: “O Evangelho é de graça, mas não é barato”.
Como posso saber isso? Aprendi com Eugene Peterson. Em sua paráfrase da Bíblia chamada A Mensagem, o autor nos conta que o apelido de Tiago era “Joelho de Camelo”. Ele ganhou esse codinome porque tinha calos grossos em seus joelhos, formados de tanto ficar de joelhos, em orações constantes ao longo dos anos.
De tanto orar, Tiago “Joelho de Camelo” alcançou sabedoria. Somente a sabedoria verdadeira nos leva a orar como convém, e a oração boa (aos ouvidos de Deus) recebe o que pediu. Pedidos amadurecidos.
Em geral, a oração de gente madura faz mais entregas que solicitações. Em vez de – Senhor, tira meu filho desse caminho mau – ela diz – Senhor, entrego meu filho em teu altar. Em vez de – Senhor, me ajude a passar no vestibular – ela diz – Deus, te entrego meu futuro e minha carreira, usa meus dons e talentos para ajudar em teu Reino.
Termino com a história de um amigo. Esta pessoa fez uma oração muito especial. Com ela, alcançou uma graça. Este amigo lutava contra um mau hábito – não chegava a ser um vício. Ele gostava muito de beber. Beber lhe trazia alegria, descontração, leveza. Nada de mal nisso. O vinho, diz Salomão, é para trazer alegria mesmo!
O que o incomodava era depender da bebida para ter alegria, descontração e leveza. No fundo, ele identificava ali um tipo de dependência. E a Palavra diz que não devemos ser escravos de nada.
Durante muitos anos, ele orou, pedindo a Deus que lhe tirasse aquele hábito. Pediu, suplicou, crendo que estava pedindo de acordo com a vontade de Deus. Mas sua inclinação seguia no mesmo caminho. Ele continuava sentindo vontade de beber.
Até que um dia, enquanto orava e ia, sem perceber, engrossando os calos em seus joelhos, acreditou ter ouvido Deus sussurrar em seus ouvidos: não tenho prazer em tirar, mas em receber. Dê-me de presente esse prazer que você tem ao beber.
Ao ouvir aquilo, sua percepção espiritual mudou completamente. Depois de refletir por vários dias, decidiu. E fez uma oração diferente de todas:
“Senhor, quero hoje te oferecer, como um presente, o prazer que eu sinto ao beber. Eu decido neste dia te entregar esse meu hábito, e nunca mais tomá-lo de volta. É teu”.
A entrega estava feita, mas ainda assim ele não estava bem certo do que aquilo tudo significava. Esta pessoa me conta que desde aquele dia, algum sistema interno em seu cérebro foi desconectado. Ele nunca mais levou um copo à boca. Não exigiu nenhum esforço. Ele simplesmente não sentia mais vontade.
Deus aceitou o presente.
Que oração espetacular!
Pedidos de gente grande. Que têm por intenção não o próprio deleite, a satisfação do ego, mas o seu esvaziamento.
• Marília de Camargo César é jornalista e escritora.
Leia mais
A oração é uma questão de lógica
A oração e a boa vontade de Deus
Súplicas de Um Necessitado [Elben César]
Imagem: Designed by Freepik
O que é mais difícil, pedir ou entregar? Quem pede, admite uma falta. Quem entrega, abre mão de algo, talvez, valioso.
Um discípulo de Jesus chamado Tiago escreveu que nós pedimos, mas não recebemos porque não sabemos pedir. “Vocês são crianças mimadas, cada um querendo as coisas do seu jeito”, ele diz (em sua carta no Novo testamento, versão de A Mensagem). Pedidos infantis.
Já viram crianças pedindo?
- Eu quero, é meu!
A criança pede, pensando somente em si mesma. Ela não vê nada além, não por maldade ou má fé, mas por ser criança. Crianças são egoístas por natureza. O início, o fim e o meio de suas existências, como naquela canção.
Pedidos infantis são sempre para o desfrute de quem pede. Quero aquela casa maior, quero um carro novo, quero aquele homem, que me encanta, aquela mulher, que me tira o fôlego. Me dá, Senhor, eu preciso. Agora!
Tiago, que também era irmão de Jesus Cristo, mas que em sua carta se apresenta apenas como “escravo de Deus e do Senhor Jesus”, nos ensina: “Vocês não têm, porque não pedem. E quando pedem, não recebem, pois pedem pelos motivos errados, para gastar em seus prazeres”.
Tiago era um homem cheio de sabedoria. Mas nem sempre foi assim. “Um profeta só não é importante em sua terra e em sua família”, afirmou o Mestre. Para Tiago, durante muito tempo o seu irmão mais velho não passou de um cara esquisito e cheio de si.
A sabedoria que ele alcançou, e que inspira a muitos ainda hoje, mais de dois mil anos depois de seus escritos, foi alcançada com dedicação e perseverança. Não veio num passe de mágica. Não há mágicas no caminho do discípulo. Esforço e disciplina são o nome do jogo. Alguém já disse: “O Evangelho é de graça, mas não é barato”.
Como posso saber isso? Aprendi com Eugene Peterson. Em sua paráfrase da Bíblia chamada A Mensagem, o autor nos conta que o apelido de Tiago era “Joelho de Camelo”. Ele ganhou esse codinome porque tinha calos grossos em seus joelhos, formados de tanto ficar de joelhos, em orações constantes ao longo dos anos.
De tanto orar, Tiago “Joelho de Camelo” alcançou sabedoria. Somente a sabedoria verdadeira nos leva a orar como convém, e a oração boa (aos ouvidos de Deus) recebe o que pediu. Pedidos amadurecidos.
Em geral, a oração de gente madura faz mais entregas que solicitações. Em vez de – Senhor, tira meu filho desse caminho mau – ela diz – Senhor, entrego meu filho em teu altar. Em vez de – Senhor, me ajude a passar no vestibular – ela diz – Deus, te entrego meu futuro e minha carreira, usa meus dons e talentos para ajudar em teu Reino.
Termino com a história de um amigo. Esta pessoa fez uma oração muito especial. Com ela, alcançou uma graça. Este amigo lutava contra um mau hábito – não chegava a ser um vício. Ele gostava muito de beber. Beber lhe trazia alegria, descontração, leveza. Nada de mal nisso. O vinho, diz Salomão, é para trazer alegria mesmo!
O que o incomodava era depender da bebida para ter alegria, descontração e leveza. No fundo, ele identificava ali um tipo de dependência. E a Palavra diz que não devemos ser escravos de nada.
Durante muitos anos, ele orou, pedindo a Deus que lhe tirasse aquele hábito. Pediu, suplicou, crendo que estava pedindo de acordo com a vontade de Deus. Mas sua inclinação seguia no mesmo caminho. Ele continuava sentindo vontade de beber.
Até que um dia, enquanto orava e ia, sem perceber, engrossando os calos em seus joelhos, acreditou ter ouvido Deus sussurrar em seus ouvidos: não tenho prazer em tirar, mas em receber. Dê-me de presente esse prazer que você tem ao beber.
Ao ouvir aquilo, sua percepção espiritual mudou completamente. Depois de refletir por vários dias, decidiu. E fez uma oração diferente de todas:
“Senhor, quero hoje te oferecer, como um presente, o prazer que eu sinto ao beber. Eu decido neste dia te entregar esse meu hábito, e nunca mais tomá-lo de volta. É teu”.
A entrega estava feita, mas ainda assim ele não estava bem certo do que aquilo tudo significava. Esta pessoa me conta que desde aquele dia, algum sistema interno em seu cérebro foi desconectado. Ele nunca mais levou um copo à boca. Não exigiu nenhum esforço. Ele simplesmente não sentia mais vontade.
Deus aceitou o presente.
Que oração espetacular!
Pedidos de gente grande. Que têm por intenção não o próprio deleite, a satisfação do ego, mas o seu esvaziamento.
• Marília de Camargo César é jornalista e escritora.
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A oração é uma questão de lógica
A oração e a boa vontade de Deus
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