Opinião
- 27 de março de 2007
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Não quero o direito de ser homofóbica
No momento que estamos vivendo no Brasil hoje, temos de saber pesar nossas palavras como Igreja. Não é nosso papel legislar a moral. Deus criou a lei moral a partir de seu próprio coração, refletindo seu amor e cuidado com aqueles que ele criou e que conhece muito bem.
É sua intenção que nossa sexualidade reflita a profundidade e a intimidade do relacionamento que ele quer ter conosco. É sua intenção que nossa sexualidade seja responsável, monogâmica, comprometida por toda a vida, gerando o núcleo da família, filhos que vão encher a terra e conhecer parte de seu amor através do amor que seus pais em família são capazes de gerar. É sua intenção que nossa sexualidade seja heterossexual, para poder cumprir as duas outras intenções mencionadas: um amor que se encontra nas diferenças -- e não na igualdade -- e capaz de gerar biologicamente, fisicamente completo.
Deus é o criador do sexo e do prazer sexual. No entanto, apesar do maravilhoso projeto para a família, ele não se ilude a respeito do mau uso que podia ser feito dessa sua invenção: o sexo. Há páginas e páginas na Bíblia sobre com que e com quem não devemos fazer sexo. Não faça com sua irmã, com seu irmão, com seu pai, com sua mãe, com outro homem se você é homem, com outra mulher se você é mulher, com animais etc. Deus não presumiu que, por haver um ideal, estaríamos todos compelidos a ele. Ele estabeleceu sanções claras para que Israel, como toda sociedade sadia, tivesse como reforçar o padrão social estabelecido por ele. De outro modo, esse padrão se perderia completamente em poucas gerações.
Como igreja cristã, vivemos hoje no Brasil uma encruzilhada moral e cultural. É nosso dever e nosso ideal cristão viver os princípios de Deus para a família. Infelizmente vivemos esses valores de forma pífia. A Bíblia enfatiza mais o adultério do que as perversões, defendendo os limites da família com veemência. Nós cristãos não damos ao adultério a mesma importância. Justificamos, entendemos e até “defendemos” adultérios em nome da felicidade pessoal e do hedonismo que tempera nossa religião com o mesmo sabor do mundo.
Mas e a homossexualidade? Esse, sim, é um pecado gravíssimo e sobre o qual nos desesperamos para ter voz. Infelizmente não sabemos nem por que lutar. Que tipo de voz queremos? Uma voz moral? Queremos que as leis brasileiras reflitam as leis morais de Deus? Que os homossexuais sejam apedrejados? Penso que o bom senso nos diz que não. Então queremos que o Estado brasileiro se conforme mais aos padrões de Deus e não permita a união homossexual legal? Seria um clamor mais razoável e teríamos de trabalhar um tempo com a sociedade para verificar se esse é o desejo da maioria. Mas também não teríamos tratado o problema principal.
Como disse a estudiosa da Bíblia Landa Cope, que tive o privilégio de ouvir recentemente, de acordo com a Palavra de Deus a responsabilidade de legitimar casamentos não é do Estado. O Estado pode casar dois homens, um homem com duas mulheres, três homens com uma mulher, dois porcos, que para Deus não faz diferença. Essa responsabilidade também não foi dada à Igreja. Numa sociedade que vive princípios bíblicos essa responsabilidade é da família. É no dominío das famílias que se legitima e se fortalece a união de dois jovens, a formação de uma nova família. Na Bíblia não vemos nem um casamento feito ou legitimado pela Igreja ou pelo Estado.
Como acontece até hoje nas sociedades tribais e muçulmanas, as famílias dos noivos se juntam, entram em acordo e se comprometem a nutrir e abençoar a constituição de uma nova família.
Se o Estado acha por bem legitimar a união homossexual e a população do país concorda, não há nada que podemos fazer como cristãos. Não é o ideal para sociedade nenhuma. Como cristãos, se nos for dado o direito de voto, diremos não, mas será que vai fazer muita diferença? Infelizmente, hoje mais de 50, 60% dos casamentos heterossexuais estão se desfazendo. Eu duvido que os casamentos gays tenham chance de durar mais.
Como cristã também tenho de dar a mão à palmatória e reconhecer que a confusão entre moralidade e leis governamentais não é de Deus. Misturar Deus e Estado foi um erro na época de Constantino e continua sendo um erro hoje.
Um Estado justo e que reflete os valores de Deus afirma para cada indivíduo o direito às suas escolhas individuais desde que elas não firam o direito de outros. Muitos evangélicos estão na expectativa de uma espécie de “sharia” cristã em que a moralidade cristã seja reforçada pelo Estado. Além de ser injusta e absurda, esta “sharia” não mudaria o coração dos homens, que definitivamente só é mudado de dentro pra fora.
Como discutir então a questão homossexual no Brasil hoje?
Temos o dever cristão de lutar contra a homofobia. A discriminação de pessoas com base na sua preferência sexual é tão ruim como a discriminação com base na sua crença religiosa. A voz anti-homofobia deveria ter sido ouvida primeiro da nossa boca, como um grito de amor em favor do aflito. O homossexual é gente. Tem direito a emprego, tratamento médico, a ter o seu espaço. Se tivéssemos liderado essa luta é provável que não teríamos de viver hoje o desconforto da imposição da agenda homossexual. Teríamos nos aliado a eles pelo amor de Cristo, e não nos levantado contra eles numa cruzada de ódio e preconceito. O amor faz toda a diferença. O reino de Deus se ganha perdendo...
Mas agora é quase tarde demais. O pacote gay está no Congresso e está pesado. Agora quem está sendo roubado de direitos somos nós. Se o pacote for aprovado como está não teremos mais o direito de expressar nossos valores morais, e teremos de engolir uma educação homossexualizante imposta nas escolas a pretexto de “prevenção anti-homofobia”. O que fazer?
Imagino que se erguêssemos nossa voz agora de maneira racional, se nos uníssemos pelo verdadeiro desejo de que os direitos de todos -- os nossos e os deles -- sejam respeitados, quem sabe ainda poderíamos mandar uma delegação para o “Grupo de Trabalho” da senadora Fátima Cleide e ser ouvidos. Se nossa voz for amor, for respeito, seremos respeitados também. Vamos orar por isto!
• Bráulia Ribeiro, articulista de Ultimato, é missionária em Porto Velho, RO, e presidente da JOCUM -- Jovens com Uma Missão. braulia_ribeiro@yahoo.com
Os pontos de vista da autora são pessoais, não da JOCUM.
Leia o livro
• Religião e Política, sim; Igreja e Estado, não, Paul Freston
É sua intenção que nossa sexualidade reflita a profundidade e a intimidade do relacionamento que ele quer ter conosco. É sua intenção que nossa sexualidade seja responsável, monogâmica, comprometida por toda a vida, gerando o núcleo da família, filhos que vão encher a terra e conhecer parte de seu amor através do amor que seus pais em família são capazes de gerar. É sua intenção que nossa sexualidade seja heterossexual, para poder cumprir as duas outras intenções mencionadas: um amor que se encontra nas diferenças -- e não na igualdade -- e capaz de gerar biologicamente, fisicamente completo.
Deus é o criador do sexo e do prazer sexual. No entanto, apesar do maravilhoso projeto para a família, ele não se ilude a respeito do mau uso que podia ser feito dessa sua invenção: o sexo. Há páginas e páginas na Bíblia sobre com que e com quem não devemos fazer sexo. Não faça com sua irmã, com seu irmão, com seu pai, com sua mãe, com outro homem se você é homem, com outra mulher se você é mulher, com animais etc. Deus não presumiu que, por haver um ideal, estaríamos todos compelidos a ele. Ele estabeleceu sanções claras para que Israel, como toda sociedade sadia, tivesse como reforçar o padrão social estabelecido por ele. De outro modo, esse padrão se perderia completamente em poucas gerações.
Como igreja cristã, vivemos hoje no Brasil uma encruzilhada moral e cultural. É nosso dever e nosso ideal cristão viver os princípios de Deus para a família. Infelizmente vivemos esses valores de forma pífia. A Bíblia enfatiza mais o adultério do que as perversões, defendendo os limites da família com veemência. Nós cristãos não damos ao adultério a mesma importância. Justificamos, entendemos e até “defendemos” adultérios em nome da felicidade pessoal e do hedonismo que tempera nossa religião com o mesmo sabor do mundo.
Mas e a homossexualidade? Esse, sim, é um pecado gravíssimo e sobre o qual nos desesperamos para ter voz. Infelizmente não sabemos nem por que lutar. Que tipo de voz queremos? Uma voz moral? Queremos que as leis brasileiras reflitam as leis morais de Deus? Que os homossexuais sejam apedrejados? Penso que o bom senso nos diz que não. Então queremos que o Estado brasileiro se conforme mais aos padrões de Deus e não permita a união homossexual legal? Seria um clamor mais razoável e teríamos de trabalhar um tempo com a sociedade para verificar se esse é o desejo da maioria. Mas também não teríamos tratado o problema principal.
Como disse a estudiosa da Bíblia Landa Cope, que tive o privilégio de ouvir recentemente, de acordo com a Palavra de Deus a responsabilidade de legitimar casamentos não é do Estado. O Estado pode casar dois homens, um homem com duas mulheres, três homens com uma mulher, dois porcos, que para Deus não faz diferença. Essa responsabilidade também não foi dada à Igreja. Numa sociedade que vive princípios bíblicos essa responsabilidade é da família. É no dominío das famílias que se legitima e se fortalece a união de dois jovens, a formação de uma nova família. Na Bíblia não vemos nem um casamento feito ou legitimado pela Igreja ou pelo Estado.
Como acontece até hoje nas sociedades tribais e muçulmanas, as famílias dos noivos se juntam, entram em acordo e se comprometem a nutrir e abençoar a constituição de uma nova família.
Se o Estado acha por bem legitimar a união homossexual e a população do país concorda, não há nada que podemos fazer como cristãos. Não é o ideal para sociedade nenhuma. Como cristãos, se nos for dado o direito de voto, diremos não, mas será que vai fazer muita diferença? Infelizmente, hoje mais de 50, 60% dos casamentos heterossexuais estão se desfazendo. Eu duvido que os casamentos gays tenham chance de durar mais.
Como cristã também tenho de dar a mão à palmatória e reconhecer que a confusão entre moralidade e leis governamentais não é de Deus. Misturar Deus e Estado foi um erro na época de Constantino e continua sendo um erro hoje.
Um Estado justo e que reflete os valores de Deus afirma para cada indivíduo o direito às suas escolhas individuais desde que elas não firam o direito de outros. Muitos evangélicos estão na expectativa de uma espécie de “sharia” cristã em que a moralidade cristã seja reforçada pelo Estado. Além de ser injusta e absurda, esta “sharia” não mudaria o coração dos homens, que definitivamente só é mudado de dentro pra fora.
Como discutir então a questão homossexual no Brasil hoje?
Temos o dever cristão de lutar contra a homofobia. A discriminação de pessoas com base na sua preferência sexual é tão ruim como a discriminação com base na sua crença religiosa. A voz anti-homofobia deveria ter sido ouvida primeiro da nossa boca, como um grito de amor em favor do aflito. O homossexual é gente. Tem direito a emprego, tratamento médico, a ter o seu espaço. Se tivéssemos liderado essa luta é provável que não teríamos de viver hoje o desconforto da imposição da agenda homossexual. Teríamos nos aliado a eles pelo amor de Cristo, e não nos levantado contra eles numa cruzada de ódio e preconceito. O amor faz toda a diferença. O reino de Deus se ganha perdendo...
Mas agora é quase tarde demais. O pacote gay está no Congresso e está pesado. Agora quem está sendo roubado de direitos somos nós. Se o pacote for aprovado como está não teremos mais o direito de expressar nossos valores morais, e teremos de engolir uma educação homossexualizante imposta nas escolas a pretexto de “prevenção anti-homofobia”. O que fazer?
Imagino que se erguêssemos nossa voz agora de maneira racional, se nos uníssemos pelo verdadeiro desejo de que os direitos de todos -- os nossos e os deles -- sejam respeitados, quem sabe ainda poderíamos mandar uma delegação para o “Grupo de Trabalho” da senadora Fátima Cleide e ser ouvidos. Se nossa voz for amor, for respeito, seremos respeitados também. Vamos orar por isto!
• Bráulia Ribeiro, articulista de Ultimato, é missionária em Porto Velho, RO, e presidente da JOCUM -- Jovens com Uma Missão. braulia_ribeiro@yahoo.com
Os pontos de vista da autora são pessoais, não da JOCUM.
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