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Opinião

Não precisamos de mais livros apologéticos

Por Paulo F. Ribeiro

O título dessa resenha foi motivado primeiramente por um profundo sentimento de tristeza pelo descrédito com que o Cristianismo é percebido pela sociedade em geral. Hoje, a mensagem de Cristo está resumida em grande parte ao evangelho da prosperidade, do conforto, dos pseudovalores familiares, e até mesmo de apoio a determinado grupo político. Os livros mais populares falam de um evangelismo comercial, consumismo, segurança ou enriquecimento pessoal.

C. S. Lewis escreveu algo revolucionário que pode chocar alguns leitores, mas que está na essência da missão redentora e transformadora do Evangelho, no que diz respeito à publicação de livros:

Creio que um cristão qualificado para escrever um bom livro popular sobre qualquer ciência pode atingir muito mais resultados por meio disso do que diretamente por meio de alguma obra apologética.
A dificuldade que enfrentamos é esta: nós até conseguimos fazer com que as pessoas (muitas vezes) levem a sério o ponto de vista cristão por mais ou menos meia hora; porém, no momento em que a palestra ou a leitura do artigo termina, elas mergulham de volta em um mundo do qual se espera uma posição oposta. Enquanto esta situação existir, o êxito geral é simplesmente impossível.
Temos de atacar a linha de comunicação do inimigo. O que queremos não é mais pequenos livros sobre cristianismo, mas pequenos livros escritos por cristãos sobre outros assuntos — com o cristianismo latente. Entendemos isso com mais facilidade quando consideramos o oposto. Nossa fé não é muito suscetível de ser abalada por livros sobre o hinduísmo, por exemplo. Contudo, se, pela leitura de um livro elementar sobre geologia, botânica, política ou astronomia, descobríssemos que suas implicações são hindus, isso nos estremeceria.
Não são os livros escritos em defesa direta do materialismo que transformam o homem moderno em materialista, mas os pressupostos materialistas presentes em todos os outros livros. Da mesma maneira, não são os livros sobre cristianismo que realmente o inquietarão. No entanto, ele se inquietaria caso, quando buscasse uma introdução popular a determinada ciência, a melhor obra no mercado tivesse sido escrita por um cristão.1


Recentemente conclui a edição de um livro com amigos cristãos sobre as implicações sociais da prática da engenharia. Sei que o livro não irá converter ninguém ao cristianismo, mas quero crer que o seu conteúdo, que cobre aspectos sociais, econômicos, ambientais, etc., possa levar alguns leitores a refletir mais profundamente sobre nossa responsabilidade de cuidar e manter a criação – nosso Mandato Cultural: “E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” (Gn 2.15).

E Lewis é ainda mais contundente:

O primeiro passo para a reconversão deste país é uma série, produzida por cristãos, que consiga superar a Penguin e a Thinkers Library nos próprios termos destas. O cristianismo dessa série precisaria ser latente, não explícito; e, claro, a ciência nela contida deveria ser completamente honesta. Uma ciência distorcida em favor da apologética seria pecado e loucura. Contudo, preciso voltar ao meu assunto principal. Nosso dever é apresentar aquilo que é atemporal — o mesmo ontem, hoje e amanhã (Hb 13.8) — na linguagem específica de nossa própria época.
O mau pregador faz exatamente o oposto: ele toma as ideias de nossa época e as ornamenta com a linguagem tradicional do cristianismo. Assim, por exemplo, ele talvez pense sobre o Relatório Beveridge* e fale sobre a vinda do Reino. O núcleo de seu pensamento é meramente contemporâneo; apenas a superfície é tradicional. Porém, o ensinamento deve ser atemporal em seu cerne e ter uma aparência moderna.2


Que Deus tenha misericórdia de nós.

Notas: 
1. Lewis, C. S.. Deus no banco dos réus (Clássicos C.S. Lewis) (pp. 87-88). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.
2. Lewis, C. S.. Deus no banco dos réus (Clássicos C.S. Lewis) (p. 88). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.
* BEVERIDGE, William H. Social Insurance and Allied Services. “Command Paper” 6404, sessão parlamentar 1942—1943. Londres: H. M. Stationery Office, 1942. O “Relatório Beveridge” foi um projeto para o sistema de Segurança Social na Grã-Bretanha.

Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, foi Professor em Universidades nos Estados Unidos, Nova Zelândia e Holanda, e Pesquisador em Centros de Pesquisa (EPRI, NASA). Atualmente é Professor Titular Livre na Universidade Federal de Itajubá, MG. É originário do Vale do Pajeú e torcedor do Santa Cruz.
>> http://lattes.cnpq.br/2049448948386214
>> https://scholar.google.com/citations?user=38c88BoAAAAJ&hl=en&oi=ao

Pesquisa publicada recentemente aponta os cientistas destacados entre o “top” 2% dos pesquisadores de maior influência no mundo, nas diversas áreas do conhecimento. Destes, 600 cientistas são de Instituições Brasileiras. O Professor Paulo F. Ribeiro foi incluído nesta lista relacionado a área de Engenharia Elétrica.
  • Textos publicados: 73 [ver]

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