Opinião
- 24 de maio de 2017
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Não há nada de feio na adoção
Por Angélica Garcia
Sempre soube que fui adotada
Fui adotada com um ano e oito meses. Não me lembro de muita coisa daqueles primeiros dias, mas sempre senti o amor da minha família enquanto ia percebendo que pertencia àquele lar. Quando me perguntam quando e como meus pais contaram sobre minha adoção, digo que eu não sei. Eu só sei que sempre soube.
Sou a única filha não biológica de casa e cresci ouvindo meus pais contarem sobre o nascimento das três filhas com a mesma naturalidade, intensidade, alegria, paixão e emoção. Cada uma com seus detalhes, ricos e únicos, porém todas com o mesmo amor. Eles jamais evitaram a minha presença ao lidar com o assunto de minha chegada, que vinha à tona sempre de maneira natural e leve. Então, para mim, ser biológica ou adotada sempre teve o mesmo significado: ser filha.
Falar a verdade abertamente e com naturalidade ajuda a criança adotada a amar a si mesma, perceber-se parte e ser grata a Deus por sua história. Também a liberta dos preconceitos contra adoção. Por outro lado, esconder de seu filho que ele foi adotado valida tais preconceitos, pois, que matéria seria assim tão proibida, mesmo no ambiente seguro do lar, se não algo terrível?
Seu filho tem o direito de conhecer sua própria história
Algumas pessoas me perguntam; Devo contar para meu filho sobre sua adoção? Qual é o momento certo? Não seria melhor ele crescer sem saber? Eu o tenho como meu filho, seria mesmo necessário contar-lhe? Outras me procuram pedindo conselhos de como contar a verdade a seu filho de mais idade, que ainda não sabe de sua adoção; ou pior, desconfia, mas não tem certeza.
A primeira coisa que digo é que sempre há um elemento libertador na verdade. E é melhor para todos que seja dita cedo do que tarde. Entendo que a verdade, nesse caso, tenha ao menos dois fatores: pense que seu filho tem o direito de conhecer sua própria história e que você ficará livre do risco e da preocupação de algum desavisado deixar escapar a verdade.
Não há idade certa para se contar a respeito da adoção. Deve-se falar naturalmente e sempre sobre o assunto, afinal, a criança deve saber e não pode esquecer de sua adoção!
Meu filho logo completará três anos, tendo se tornado parte da família aos oito meses de idade. Desde o dia em que o recebemos, mesmo sem planejar, semanalmente, ou a cada quinze dias falamos da sua chegada e de quão especial foi conhecê-lo e nos tornarmos seus pais.
Compartilho algumas dicas para lhe ajudar a enfrentar esse desafio e ser livre.
• Caso você esteja no processo de adoção, desde já escreva um diário narrando como tem sido a espera, a expectativa, as emoções e as convicções. Meus pais fizeram isso com as três e amamos ler aquelas páginas. Fotografe e filme a chegada de seu filho, para que futuramente ele não apenas ouça, mas veja e assista como foi emocionante sua sonhada chegada ao lar.
• Se seu filho tem meses, ou ainda não chegou à idade da maturidade infantil, comece a agradecer a Deus pela vida dele e por sua chegada ao lar durante as orações familiares, de forma que ele participe deste momento com naturalidade.
• Quando passarem em frente ao hospital em que ele nasceu, em frente à casa de acolhimento, ou qualquer outro local marcante da adoção, comente algum fato que traga a história dele à tona, sempre de maneira apaixonante, fazendo que ele se perceba especial por ter vivido aquele momento. Sou a filha mais nova e sempre ouvi que completei a família.
• Não toque no assunto apenas uma vez, buscando evitá-lo no futuro como se fosse algo perigoso. Não há nada de feio na adoção – ela é linda e seu filho precisa saber disso! Fale de sua chegada com naturalidade, cada vez que o assunto vier à tona no dia a dia.
• Desde cedo separe um tempo para olharem as fotos de como tudo começou, contando e recontando a história com paixão, do ponto de vista mais belo que você possa captar; e quanta beleza há ali!! Mesmo que seu filho seja um bebê, faça esses momentos acontecerem e, assim como eu, ele saberá e amará quem é e o modo como chegou à sua família.
• Caso seu filho seja um pouco mais velho, e você já esteja sofrendo o desgaste de mantê-lo afastado da verdade, sugiro que trate o assunto com mais objetividade, sempre levando em conta a personalidade de seu filho. Que tal assistirem vídeos e filmes que falem sobre adoção de uma forma bela e positiva? Depois de terem assistido, converse sobre o assunto e fale de como você acha a adoção linda. Antes de prosseguir, imagine a pior reação que ele possa ter e prepare-se para enfrentá-la com graça e amor, sem qualquer tipo de crise; afinal, você quer consertar, não piorar a situação. Eventualmente, no momento que perceber oportuno, peça perdão pela demora em tratar do assunto e conte como foi para você receber esse presente de Deus. Não se descontrole, tampouco tenha vergonha de chorar – afinal, a história do nascimento de um filho é sempre emocionante.
Uma adotada que adota
Durante todo o processo de espera, chegada, adaptação e pelo resto da vida, tenha certeza que você poderá contar com algumas pessoas sensíveis, que lhe apoiarão e amarão seu filho tanto quanto você. Porém, infelizmente, haverá aquelas que dirão coisas negativas, dosadas com o amargor da insensibilidade. Prepare-se para estes momentos e esteja pronto para reagir de forma positiva. Veja algumas respostas que podem lhe ajudar.
Sou uma adotada que adota, realizada em todos os sentidos e cheia de histórias lindas para contar, mas um de meus momentos mais especiais, ainda na puberdade, foi quando li na Bíblia, em Efésios 1.5, que Deus... “Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade”.
• Angélica Garcia de Carvalho tem 27 anos é casada com Anderson e mãe do Pedro. É blogueira e mora em Parnaíba (PI).
Leia mais
A respeito da adoção
Acontece nas Melhores Famílias [Carlos “Catito” Grzybowski e Jorge E. Maldonado]
Confira a participação de Angélica em uma reportagem sobre adoção produzida pelo Jornal Nacional. (Parte 1 | Parte 2 )
Foto: Designed by Freepik
Sempre soube que fui adotada
Fui adotada com um ano e oito meses. Não me lembro de muita coisa daqueles primeiros dias, mas sempre senti o amor da minha família enquanto ia percebendo que pertencia àquele lar. Quando me perguntam quando e como meus pais contaram sobre minha adoção, digo que eu não sei. Eu só sei que sempre soube.
Sou a única filha não biológica de casa e cresci ouvindo meus pais contarem sobre o nascimento das três filhas com a mesma naturalidade, intensidade, alegria, paixão e emoção. Cada uma com seus detalhes, ricos e únicos, porém todas com o mesmo amor. Eles jamais evitaram a minha presença ao lidar com o assunto de minha chegada, que vinha à tona sempre de maneira natural e leve. Então, para mim, ser biológica ou adotada sempre teve o mesmo significado: ser filha.
Falar a verdade abertamente e com naturalidade ajuda a criança adotada a amar a si mesma, perceber-se parte e ser grata a Deus por sua história. Também a liberta dos preconceitos contra adoção. Por outro lado, esconder de seu filho que ele foi adotado valida tais preconceitos, pois, que matéria seria assim tão proibida, mesmo no ambiente seguro do lar, se não algo terrível?
Seu filho tem o direito de conhecer sua própria história
Algumas pessoas me perguntam; Devo contar para meu filho sobre sua adoção? Qual é o momento certo? Não seria melhor ele crescer sem saber? Eu o tenho como meu filho, seria mesmo necessário contar-lhe? Outras me procuram pedindo conselhos de como contar a verdade a seu filho de mais idade, que ainda não sabe de sua adoção; ou pior, desconfia, mas não tem certeza.
A primeira coisa que digo é que sempre há um elemento libertador na verdade. E é melhor para todos que seja dita cedo do que tarde. Entendo que a verdade, nesse caso, tenha ao menos dois fatores: pense que seu filho tem o direito de conhecer sua própria história e que você ficará livre do risco e da preocupação de algum desavisado deixar escapar a verdade.
Não há idade certa para se contar a respeito da adoção. Deve-se falar naturalmente e sempre sobre o assunto, afinal, a criança deve saber e não pode esquecer de sua adoção!
Meu filho logo completará três anos, tendo se tornado parte da família aos oito meses de idade. Desde o dia em que o recebemos, mesmo sem planejar, semanalmente, ou a cada quinze dias falamos da sua chegada e de quão especial foi conhecê-lo e nos tornarmos seus pais.
Compartilho algumas dicas para lhe ajudar a enfrentar esse desafio e ser livre.
• Caso você esteja no processo de adoção, desde já escreva um diário narrando como tem sido a espera, a expectativa, as emoções e as convicções. Meus pais fizeram isso com as três e amamos ler aquelas páginas. Fotografe e filme a chegada de seu filho, para que futuramente ele não apenas ouça, mas veja e assista como foi emocionante sua sonhada chegada ao lar.
• Se seu filho tem meses, ou ainda não chegou à idade da maturidade infantil, comece a agradecer a Deus pela vida dele e por sua chegada ao lar durante as orações familiares, de forma que ele participe deste momento com naturalidade.
• Quando passarem em frente ao hospital em que ele nasceu, em frente à casa de acolhimento, ou qualquer outro local marcante da adoção, comente algum fato que traga a história dele à tona, sempre de maneira apaixonante, fazendo que ele se perceba especial por ter vivido aquele momento. Sou a filha mais nova e sempre ouvi que completei a família.
• Não toque no assunto apenas uma vez, buscando evitá-lo no futuro como se fosse algo perigoso. Não há nada de feio na adoção – ela é linda e seu filho precisa saber disso! Fale de sua chegada com naturalidade, cada vez que o assunto vier à tona no dia a dia.
• Desde cedo separe um tempo para olharem as fotos de como tudo começou, contando e recontando a história com paixão, do ponto de vista mais belo que você possa captar; e quanta beleza há ali!! Mesmo que seu filho seja um bebê, faça esses momentos acontecerem e, assim como eu, ele saberá e amará quem é e o modo como chegou à sua família.
• Caso seu filho seja um pouco mais velho, e você já esteja sofrendo o desgaste de mantê-lo afastado da verdade, sugiro que trate o assunto com mais objetividade, sempre levando em conta a personalidade de seu filho. Que tal assistirem vídeos e filmes que falem sobre adoção de uma forma bela e positiva? Depois de terem assistido, converse sobre o assunto e fale de como você acha a adoção linda. Antes de prosseguir, imagine a pior reação que ele possa ter e prepare-se para enfrentá-la com graça e amor, sem qualquer tipo de crise; afinal, você quer consertar, não piorar a situação. Eventualmente, no momento que perceber oportuno, peça perdão pela demora em tratar do assunto e conte como foi para você receber esse presente de Deus. Não se descontrole, tampouco tenha vergonha de chorar – afinal, a história do nascimento de um filho é sempre emocionante.
Uma adotada que adota
Durante todo o processo de espera, chegada, adaptação e pelo resto da vida, tenha certeza que você poderá contar com algumas pessoas sensíveis, que lhe apoiarão e amarão seu filho tanto quanto você. Porém, infelizmente, haverá aquelas que dirão coisas negativas, dosadas com o amargor da insensibilidade. Prepare-se para estes momentos e esteja pronto para reagir de forma positiva. Veja algumas respostas que podem lhe ajudar.
Sou uma adotada que adota, realizada em todos os sentidos e cheia de histórias lindas para contar, mas um de meus momentos mais especiais, ainda na puberdade, foi quando li na Bíblia, em Efésios 1.5, que Deus... “Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade”.
• Angélica Garcia de Carvalho tem 27 anos é casada com Anderson e mãe do Pedro. É blogueira e mora em Parnaíba (PI).
Leia mais
A respeito da adoção
Acontece nas Melhores Famílias [Carlos “Catito” Grzybowski e Jorge E. Maldonado]
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