Prateleira
- 30 de março de 2007
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Não estamos de luto e a semana continua santa
A propósito da Semana Santa e das sombrias procissões espalhadas pelo país, instaladas por aqui desde a chegada de Pedro Álvares Cabral, ilustre cavaleiro da Ordem de Cristo, Ultimatoonline coloca na Prateleira três artigos especiais.
Abrimos com "Cruz vazada, mas não esvaziada!", para entendermos melhor o espírito macambúzio desses dias. Para os que insistem em comemorar e guardar a sexta-feira e se esquecem do que aconteceu no domingo, vale repetir que "Não estamos de luto". E, para os que reconhecem Jesus como mais um personagem ilustre da história, publicamos "O Jesus do evangelho não é mártir!" Acesse os dois últimos artigos no final desta página e envie para amigos ou publique na sua comunidade.
Cruz vazada, mas não esvaziada!
Elben César
Em artigo publicado no Jornal do Brasil a propósito do manuscrito recém-descoberto sobre Judas Iscariotes, a escritora Anna Ramalho recorda a procissão da Sexta-feira Santa de sua meninice: “Aquela procissão tão pobrinha, tão modesta, encantava a menina que eu era. Adorava aquele cortejo roxo, triste, com o Jesus da comunidade carregando sua cruz, cercado de centuriões e caindo e levantando naquela via-crúcis de interior. Na Semana Santa meu lado mórbido ficava na maior saliência e eu acabava preferindo a tristeza da Paixão ao regozijo do Domingo da Páscoa, que trazia os ovos, e alegrias, um almoço caprichadíssimo e, de quebra, o anúncio da ressurreição na missa solene” (JB, 15/04/06, p. 8).
À semelhança da menina Anna Ramalho, o mundo cristão, principalmente o hispânico, dá mais importância ao sofrimento e à morte de Jesus do que à sua glória e ressurreição. E isso precisa mudar, porque é histórica e teologicamente incorreto e injusto. Por conceder apenas alguns segundos à ressurreição do Senhor, o filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, está na mesma linha e reforça o tal lado mórbido mencionado pela escritora. Aliás, o crítico A. O. Scott, do jornal New York Times, disse que a A Paixão de Cristo não mostra com clareza o objetivo de tanto sofrimento e de tanto sangue no desenrolar do filme. Além de não se envergonharem de dizer que a morte de Jesus foi vicária, os celebrantes da Semana da Paixão têm a obrigação de levar o povo da sexta-feira ao domingo, do Gólgota ao Jardim de Arimatéia, do sepultamento de Jesus à sua ressurreição. O evangelho completo, o evangelho que Paulo recebeu e passou adiante, ensina que Cristo morreu pelos nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia e apareceu a várias pessoas (1 Co 15.3-8). Não podemos alimentar apenas o lado mórbido, principalmente em matéria de fé. É preciso dar maior ênfase ao lado saudável da Paixão, que passa pela morte e termina na ressurreição. Especialmente porque a nossa ressurreição depende da ressurreição do Senhor (1 Co 15.17).
A morte continua sendo o nosso pavor maior. No livro A Máquina de Ser (Nova Fronteira, 2006), o escritor brasileiro João Gilberto Noll foi bastante honesto: “Eu não posso agüentar ou conviver bem com a idéia de que determinada pessoa, que eu conheço e gosto, está dentro de uma caixa de madeira sendo enterrada, e que o enterro vai acabar e ela vai ficar ali”. O filósofo francês Frabrice Hadjadj, autor do livro Réussir sa Mort (Vencer a morte), em entrevista ao jornal católico La Croix, fez uma acusação muito séria: “Não se prega suficientemente a ressurreição” (O Lutador, 21/11/06, p. 4). O silêncio cristão sobre a ressurreição deixa um tremendo vazio que as novelas da rede Globo, o espiritismo, o budismo, o hinduísmo e muitos outros credos religiosos tentam preencher com a doutrina da reencarnação. Como se pode ver, a não-caminhada entre a cruz e o túmulo vazio tem implicações muito sérias e causa muitos estragos.
Não é para tirar a Sexta-feira da Semana Santa e deixar só o Domingo de Páscoa. Não é para satisfazer apenas o lado mórbido da natureza humana, mas também o seu lado saudável. Foi para chamar a atenção tanto para a morte como para a ressurreição de Jesus que o escultor americano Jay J. Dugan criou a cruz vazada: “Essa cruz é a minha modesta contribuição... Eu removi qualquer vestígio de seu sangue e agonia ao remover o corpo débil de Jesus. A cruz é literal o suficiente para retratar sua crucificação. No lugar deste, eu apliquei uma silhueta abstrata de seu corpo, uma declaração poderosa de que o Senhor deixou a cruz e este mundo para preparar e aguardar o nosso reencontro com ele no céu”.
A cruz está vazada porque Jesus ressuscitou, mas ela não foi e jamais pode ser esvaziada de seu significado!
Leia o que Ultimato publicou sobre o assunto
• O Jesus do evangelho não é martir, edição n. 263
• Não estamos de luto, edição n. 287
Leia o livro
• Cristianismo Básico, John Sttot
• A Pessoa Mais Importante do Mundo, Elben César
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Abrimos com "Cruz vazada, mas não esvaziada!", para entendermos melhor o espírito macambúzio desses dias. Para os que insistem em comemorar e guardar a sexta-feira e se esquecem do que aconteceu no domingo, vale repetir que "Não estamos de luto". E, para os que reconhecem Jesus como mais um personagem ilustre da história, publicamos "O Jesus do evangelho não é mártir!" Acesse os dois últimos artigos no final desta página e envie para amigos ou publique na sua comunidade.
Cruz vazada, mas não esvaziada!
Elben César
Em artigo publicado no Jornal do Brasil a propósito do manuscrito recém-descoberto sobre Judas Iscariotes, a escritora Anna Ramalho recorda a procissão da Sexta-feira Santa de sua meninice: “Aquela procissão tão pobrinha, tão modesta, encantava a menina que eu era. Adorava aquele cortejo roxo, triste, com o Jesus da comunidade carregando sua cruz, cercado de centuriões e caindo e levantando naquela via-crúcis de interior. Na Semana Santa meu lado mórbido ficava na maior saliência e eu acabava preferindo a tristeza da Paixão ao regozijo do Domingo da Páscoa, que trazia os ovos, e alegrias, um almoço caprichadíssimo e, de quebra, o anúncio da ressurreição na missa solene” (JB, 15/04/06, p. 8).
À semelhança da menina Anna Ramalho, o mundo cristão, principalmente o hispânico, dá mais importância ao sofrimento e à morte de Jesus do que à sua glória e ressurreição. E isso precisa mudar, porque é histórica e teologicamente incorreto e injusto. Por conceder apenas alguns segundos à ressurreição do Senhor, o filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, está na mesma linha e reforça o tal lado mórbido mencionado pela escritora. Aliás, o crítico A. O. Scott, do jornal New York Times, disse que a A Paixão de Cristo não mostra com clareza o objetivo de tanto sofrimento e de tanto sangue no desenrolar do filme. Além de não se envergonharem de dizer que a morte de Jesus foi vicária, os celebrantes da Semana da Paixão têm a obrigação de levar o povo da sexta-feira ao domingo, do Gólgota ao Jardim de Arimatéia, do sepultamento de Jesus à sua ressurreição. O evangelho completo, o evangelho que Paulo recebeu e passou adiante, ensina que Cristo morreu pelos nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia e apareceu a várias pessoas (1 Co 15.3-8). Não podemos alimentar apenas o lado mórbido, principalmente em matéria de fé. É preciso dar maior ênfase ao lado saudável da Paixão, que passa pela morte e termina na ressurreição. Especialmente porque a nossa ressurreição depende da ressurreição do Senhor (1 Co 15.17).
A morte continua sendo o nosso pavor maior. No livro A Máquina de Ser (Nova Fronteira, 2006), o escritor brasileiro João Gilberto Noll foi bastante honesto: “Eu não posso agüentar ou conviver bem com a idéia de que determinada pessoa, que eu conheço e gosto, está dentro de uma caixa de madeira sendo enterrada, e que o enterro vai acabar e ela vai ficar ali”. O filósofo francês Frabrice Hadjadj, autor do livro Réussir sa Mort (Vencer a morte), em entrevista ao jornal católico La Croix, fez uma acusação muito séria: “Não se prega suficientemente a ressurreição” (O Lutador, 21/11/06, p. 4). O silêncio cristão sobre a ressurreição deixa um tremendo vazio que as novelas da rede Globo, o espiritismo, o budismo, o hinduísmo e muitos outros credos religiosos tentam preencher com a doutrina da reencarnação. Como se pode ver, a não-caminhada entre a cruz e o túmulo vazio tem implicações muito sérias e causa muitos estragos.
Não é para tirar a Sexta-feira da Semana Santa e deixar só o Domingo de Páscoa. Não é para satisfazer apenas o lado mórbido da natureza humana, mas também o seu lado saudável. Foi para chamar a atenção tanto para a morte como para a ressurreição de Jesus que o escultor americano Jay J. Dugan criou a cruz vazada: “Essa cruz é a minha modesta contribuição... Eu removi qualquer vestígio de seu sangue e agonia ao remover o corpo débil de Jesus. A cruz é literal o suficiente para retratar sua crucificação. No lugar deste, eu apliquei uma silhueta abstrata de seu corpo, uma declaração poderosa de que o Senhor deixou a cruz e este mundo para preparar e aguardar o nosso reencontro com ele no céu”.
A cruz está vazada porque Jesus ressuscitou, mas ela não foi e jamais pode ser esvaziada de seu significado!
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