Opinião
08 de maio de 2009
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Modelos para relacionar ciência e religião*
Essa cosmovisão vem alimentando livros que sugerem que a mecânica quântica, por exemplo, se encaixa particularmente com o pensamento religioso oriental, exemplificando assim a abordagem de “fusão”.20 A teologia do processo tem alguma afinidade com os sistemas monistas de pensamento, e em sua “versão forte” exemplifica o modelo de fusão.21 Vindo da direção oposta, os criacionistas apresentam convicções religiosas como se fossem ciência, buscando fundir conhecimento científico e religioso pela priorização das crenças religiosas.
Apoio para os modelos de fusão
A diversidade entre as tentativas de fundir conhecimento científico e religioso é tal que precisaríamos tratar cada caso separadamente, o que nosso espaço não permite. Mas em geral, os modelos de fusão têm o mérito de usualmente (mas nem sempre) levarem a sério tanto a ciência como a religião; tanto que gostariam de lançar mão das convicções de uma para construir elementos da outra. Tais tentativas devem ser claramente diferenciadas da teologia natural, para a qual certas propriedades da natureza, reveladas pela ciência, expressam a existência e/ou a natureza de Deus. Os modelos de fusão vão além da teologia natural propondo que o próprio conteúdo da ciência informe o conteúdo da crença religiosa, e vice-versa.
Uma crítica dos modelos de fusão
Duas críticas mais importantes podem ser feitas aos modelos de fusão. A primeira advém da importante decisão tomada pelos fundadores da Royal Society, com sua divisa: “Nullius in verba” (“a mera palavra não é suficiente”), para focalizar a filosofia natural e evitar discutir religião em seus eventos. A decisão não se deveu de modo algum à ausência de convicções cristãs por sua parte -- longe disso -- mas ao seu reconhecimento de que o sucesso no estudo da criação requer um foco em suas propriedades, ao invés do foco em seu sentido supremo. Em retrospecto, a decisão parece ter desempenhado um importante papel, ao encorajar o desenvolvimento da ciência como um corpo distinto de conhecimento sobre o mundo, marcadamente separado, no que tange ao conteúdo de suas publicações, dos mundos da política e da religião. De um ponto de vista pragmático, foi um enorme avanço. Uma grande força da comunidade científica é o fato de pessoas de qualquer fé ou nenhuma poderem cooperar na realização de certos objetivos limitados usando métodos, técnicas e veículos de publicação padronizados. Ademais, uma forte tendência à perda de clareza é o que se obtém quando conceitos científicos e religiosos são misturados confusamente no mesmo discurso.
A segunda crítica dirige-se às tentativas de construir as crenças religiosas a partir da ciência corrente. O problema com essa abordagem é que a ciência se move muito rápido. As teorias da moda de hoje são os restos de amanhã. Os que fundamentam suas crenças religiosas em teorias científicas talvez se descubram edificando sobre a areia.
4. O modelo da complementaridade
Este modelo sustenta que a ciência e a religião referem-se à mesma realidade a partir de diferentes perspectivas, provendo explanações complementares, de modo algum rivais. A linguagem da complementaridade foi originalmente introduzida pelo físico Niels Bohr para relacionar as descrições da matéria como partícula e como onda; foi necessário sustentar ambas simultaneamente para fazer justiça aos dados. Desde o tempo de Bohr a ideia de complementaridade vem sendo grandemente ampliada, no interior do diálogo entre religião e ciência, de modo a incluir qualquer entidade que requeira múltiplos níveis de explicação para dar conta de sua complexidade.
Apoio para os modelos de fusão
A diversidade entre as tentativas de fundir conhecimento científico e religioso é tal que precisaríamos tratar cada caso separadamente, o que nosso espaço não permite. Mas em geral, os modelos de fusão têm o mérito de usualmente (mas nem sempre) levarem a sério tanto a ciência como a religião; tanto que gostariam de lançar mão das convicções de uma para construir elementos da outra. Tais tentativas devem ser claramente diferenciadas da teologia natural, para a qual certas propriedades da natureza, reveladas pela ciência, expressam a existência e/ou a natureza de Deus. Os modelos de fusão vão além da teologia natural propondo que o próprio conteúdo da ciência informe o conteúdo da crença religiosa, e vice-versa.
Uma crítica dos modelos de fusão
Duas críticas mais importantes podem ser feitas aos modelos de fusão. A primeira advém da importante decisão tomada pelos fundadores da Royal Society, com sua divisa: “Nullius in verba” (“a mera palavra não é suficiente”), para focalizar a filosofia natural e evitar discutir religião em seus eventos. A decisão não se deveu de modo algum à ausência de convicções cristãs por sua parte -- longe disso -- mas ao seu reconhecimento de que o sucesso no estudo da criação requer um foco em suas propriedades, ao invés do foco em seu sentido supremo. Em retrospecto, a decisão parece ter desempenhado um importante papel, ao encorajar o desenvolvimento da ciência como um corpo distinto de conhecimento sobre o mundo, marcadamente separado, no que tange ao conteúdo de suas publicações, dos mundos da política e da religião. De um ponto de vista pragmático, foi um enorme avanço. Uma grande força da comunidade científica é o fato de pessoas de qualquer fé ou nenhuma poderem cooperar na realização de certos objetivos limitados usando métodos, técnicas e veículos de publicação padronizados. Ademais, uma forte tendência à perda de clareza é o que se obtém quando conceitos científicos e religiosos são misturados confusamente no mesmo discurso.
A segunda crítica dirige-se às tentativas de construir as crenças religiosas a partir da ciência corrente. O problema com essa abordagem é que a ciência se move muito rápido. As teorias da moda de hoje são os restos de amanhã. Os que fundamentam suas crenças religiosas em teorias científicas talvez se descubram edificando sobre a areia.
4. O modelo da complementaridade
Este modelo sustenta que a ciência e a religião referem-se à mesma realidade a partir de diferentes perspectivas, provendo explanações complementares, de modo algum rivais. A linguagem da complementaridade foi originalmente introduzida pelo físico Niels Bohr para relacionar as descrições da matéria como partícula e como onda; foi necessário sustentar ambas simultaneamente para fazer justiça aos dados. Desde o tempo de Bohr a ideia de complementaridade vem sendo grandemente ampliada, no interior do diálogo entre religião e ciência, de modo a incluir qualquer entidade que requeira múltiplos níveis de explicação para dar conta de sua complexidade.
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