Opinião
- 08 de maio de 2009
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Modelos para relacionar ciência e religião*
Gerações de escritores que promoveram o modelo do conflito tendem a se apoiar em exemplos históricos para sustentar sua tese. Episódios como o choque de Galileu com a Igreja em torno da teoria heliocêntrica, e a suposta oposição da Igreja à evolução Darwiniana são os exemplos costumeiros. Entretanto, apenas a extrema pobreza de conhecimento em literatura de história da ciência permite o emprego de tal material para sustentar o modelo do conflito. De fato, como discutiremos abaixo, a literatura em geral tende a subverter este modelo.10
Uma crítica do modelo do conflito
O grau de popularidade de uma ideia no domínio público é um critério pobre para julgar a sua veracidade. Teorias científicas são aceitas com base em dados, não por voto popular. Aqueles que desejam avaliar o modelo do conflito como cientistas devem estar mais interessados em evidências do que em popularidade.
O fato de o modelo do conflito ser largamente sustentado por opostos polares, nas margens mais extremas, tanto da comunidade científica como da religiosa, deveria nos fazer cautelosos. O fato é que o número de cientistas especializados em atacar a religião em nome da ciência é um minúsculo subconjunto da comunidade científica. Porém, com a atenção da mídia a voz dos extremistas é amplificada. Polos opostos têm mais em comum do que gostariam de admitir. Mais interessante, no entanto, é a questão das crenças religiosas dos cientistas. Se o modelo do conflito tivesse algum valor, poderíamos prever uma relação negativa entre a prática religiosa e a científica. Nos Estados Unidos, no entanto, os dados sugerem que a crença em um Deus pessoal que responde a orações permaneceu virtualmente inalterada, em torno de 40% dos cientistas entre 1916 e 1996.11 Além disso, há na Europa e nos Estados Unidos uma pletora de sociedades e periódicos envolvendo cientistas que desejam investigar as implicações de sua ciência para a sua fé, e tais atividades não indicam qualquer incompatibilidade intrínseca entre ciência e crença religiosa.12
Os abusos ideológicos da ciência contribuíram muito para o modelo do conflito, mas tais aplicações ideológicas não são intrínsecas às teorias. Não obstante, pessoas frequentemente usam o prestígio da ciência e das “Grandes Teorias”, particularmente, para fundamentar suas ideologias particulares. O fato de a teoria darwiniana, por exemplo, ter sido usada para apoiar o capitalismo, o comunismo, o racismo, o teísmo e o ateísmo deveria, ao menos, levar a uma pausa para reflexão.13
O que solapa o modelo do conflito, talvez mais do que qualquer outra coisa, é a contribuição da crença religiosa para a emergência histórica da ciência moderna. Muitos dos filósofos naturais com papéis chave na fundação das disciplinas científicas atuais viam a sua fé em Deus como uma motivação importante para a exploração e a compreensão do mundo criado por ele.14 A emergência de aspectos específicos da inquirição científica foi nutrida pela fé cristã. A atitude empírica (= experimental), por exemplo, tão central para desenvolvimento da ciência moderna, foi estimulada pela noção de um relacionamento contingente entre Deus e a ordem criada, de modo que as propriedades da matéria poderiam ser determinadas apenas experimentalmente, ao invés de deduzidas de primeiros princípios. A ideia de leis científicas, articulada claramente pela primeira vez nos escritos de Newton, Boyle e Descartes, foi nutrida pela ideia bíblica de Deus como legislador. Hoje nenhum historiador da ciência crê que o modelo do conflito forneça uma estrutura abrangente e satisfatória para explicar as interações históricas entre ciência e religião. Quando a fricção ocorria, tratava-se mais de rusgas entre primos de primeiro grau, e jamais aquele tipo de inimizade que nasce da incompatibilidade essencial.15
2. O modelo “MNI”
Stephen Jay Gould popularizou a noção de que ciência e religião pertenceriam a “Magistérios Não-Interferentes”, ou MNI, em sua obra “Rocks of Ages”.16 Segundo ele, ciência e religião operam em compartimentos separados, lidando com questões de tipos muito diferentes; assim, por definição, não pode haver conflito entre elas.
Uma crítica do modelo do conflito
O grau de popularidade de uma ideia no domínio público é um critério pobre para julgar a sua veracidade. Teorias científicas são aceitas com base em dados, não por voto popular. Aqueles que desejam avaliar o modelo do conflito como cientistas devem estar mais interessados em evidências do que em popularidade.
O fato de o modelo do conflito ser largamente sustentado por opostos polares, nas margens mais extremas, tanto da comunidade científica como da religiosa, deveria nos fazer cautelosos. O fato é que o número de cientistas especializados em atacar a religião em nome da ciência é um minúsculo subconjunto da comunidade científica. Porém, com a atenção da mídia a voz dos extremistas é amplificada. Polos opostos têm mais em comum do que gostariam de admitir. Mais interessante, no entanto, é a questão das crenças religiosas dos cientistas. Se o modelo do conflito tivesse algum valor, poderíamos prever uma relação negativa entre a prática religiosa e a científica. Nos Estados Unidos, no entanto, os dados sugerem que a crença em um Deus pessoal que responde a orações permaneceu virtualmente inalterada, em torno de 40% dos cientistas entre 1916 e 1996.11 Além disso, há na Europa e nos Estados Unidos uma pletora de sociedades e periódicos envolvendo cientistas que desejam investigar as implicações de sua ciência para a sua fé, e tais atividades não indicam qualquer incompatibilidade intrínseca entre ciência e crença religiosa.12
Os abusos ideológicos da ciência contribuíram muito para o modelo do conflito, mas tais aplicações ideológicas não são intrínsecas às teorias. Não obstante, pessoas frequentemente usam o prestígio da ciência e das “Grandes Teorias”, particularmente, para fundamentar suas ideologias particulares. O fato de a teoria darwiniana, por exemplo, ter sido usada para apoiar o capitalismo, o comunismo, o racismo, o teísmo e o ateísmo deveria, ao menos, levar a uma pausa para reflexão.13
O que solapa o modelo do conflito, talvez mais do que qualquer outra coisa, é a contribuição da crença religiosa para a emergência histórica da ciência moderna. Muitos dos filósofos naturais com papéis chave na fundação das disciplinas científicas atuais viam a sua fé em Deus como uma motivação importante para a exploração e a compreensão do mundo criado por ele.14 A emergência de aspectos específicos da inquirição científica foi nutrida pela fé cristã. A atitude empírica (= experimental), por exemplo, tão central para desenvolvimento da ciência moderna, foi estimulada pela noção de um relacionamento contingente entre Deus e a ordem criada, de modo que as propriedades da matéria poderiam ser determinadas apenas experimentalmente, ao invés de deduzidas de primeiros princípios. A ideia de leis científicas, articulada claramente pela primeira vez nos escritos de Newton, Boyle e Descartes, foi nutrida pela ideia bíblica de Deus como legislador. Hoje nenhum historiador da ciência crê que o modelo do conflito forneça uma estrutura abrangente e satisfatória para explicar as interações históricas entre ciência e religião. Quando a fricção ocorria, tratava-se mais de rusgas entre primos de primeiro grau, e jamais aquele tipo de inimizade que nasce da incompatibilidade essencial.15
2. O modelo “MNI”
Stephen Jay Gould popularizou a noção de que ciência e religião pertenceriam a “Magistérios Não-Interferentes”, ou MNI, em sua obra “Rocks of Ages”.16 Segundo ele, ciência e religião operam em compartimentos separados, lidando com questões de tipos muito diferentes; assim, por definição, não pode haver conflito entre elas.
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