Opinião
- 14 de julho de 2009
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Michael Jackson: um funeral sem crise de consciência
Derval Dasilio
Aí está uma séria questão. Nossos parâmetros não são humanistas. Porém, quando se trata de uma grande comoção, como a morte de um ídolo/símbolo desses tempos de hipermodernidade (tudo é exacerbado -- até o esparadrapo na consciência coletiva ferida é grande demais), Michael Jackson representa um dos maiores anseios do ser humano: imortalizar-se. Contudo, até os deuses morrem, e é preciso achar um Olimpo para eternizar a memória idealizada de poder acima da morte. Observe bem: nos dominam a vontade de poder, de ter, de destruir valores essenciais; enfim, que rompam a cortina do tempo e da pré-história da humanidade. Vida instintiva, atavismos, como queria Carl Jung. Diante dessa crise fomos capazes até de decretar a morte de Deus. E disseram que Nietzsche tinha enlouquecido quando disse tal coisa de nós.
Tudo isso não passa da luta entre a morte e a vida. E a morte, como símbolo maior de tudo que nos oprime, quer se impor a cada dia, com nosso assentimento, senão pela conivência. É preciso, portanto, pensar com o apóstolo Paulo: “Porque Cristo ressuscitou, nós ressuscitamos com ele”.
Alguém colocou uma entrevista na internet como publicada em um grande jornal, mas que era evidentemente apócrifa: “Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução, como? Só viria com muitos bilhões gastos organizadamente, com um governo de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral. Se bobear, os políticos vão roubar até do crime organizado [...], e os juízes também, que impedem punições e vendem sentenças impunemente”.
Hoje, podemos perguntar-nos como se constrói uma identidade nacional. Como a massa tão interessada em espetáculos midiáticos (funeral de Michael Jackson), CPIs hipócritas, futebol e carnaval, se transformaria num povo que ouve e vê além das encenações que encobrem a realidade dolorosa da morte contra a vida (Norman O. Brawn). Miséria das massas populares (conhecemos políticos evangélicos que vendem a alma por um mandato). Pós-industrialização, pós-modernidade, que é isso? Quando se falará da pós-fome, pós-miséria, pós-insalubridade, pós-deseducação, pós-desemprego em massa? Até lá, viveremos a cultura da violência institucional, paralela à do crime organizado e corrupção dentro das próprias instituições que nos governam, enquanto comentamos e nos comovemos, com reverência, o funeral da celebridade.
Ajudados pela tecnologia, satélites, celulares, “chips”, “megabytes” e “laptops”, nos assemelhamos aos que se recusavam a ouvir Jesus e a necessidade de entender as intenções do Deus Salvador e Libertador: “Eu sou a ressurreição e a vida...”. São terríveis revelações sobre as visões que temos de nós mesmos, enquanto elegemos a morte ao invés da vida. Escolhemos os piores para representar-nos, na igreja e na política. A quem reverenciaremos? A mídia, que transforma um funeral num espetáculo mundial de vitória da morte?
A exposição constante da corrupção nos legislativos e executivos parece comprovar que as consciências imediatistas dos bem-postos também estão sendo bem atendidas. Vai além das duas bacias simbólicas do Congresso Nacional: uma aberta, côncava, para “receber” benesses; outra convexa, para “esconder” as falcatruas dos nossos representantes? Niemeyer -- centenário e brilhante -- e Lúcio Costa nunca pensaram nesses simbolismos quando as projetaram. Dá arrepios saber que políticos evangélicos participam com a competência de Mefistófeles na corrupção geral: o senador, o pastor, falcatruas, processos em cima de processos... Também está nos jornais de hoje: nunca aprenderemos. No próximo ano elegeremos os mesmos ditos “servos de Deus” para representar-nos no Congresso. Por falar nisso, Michael Jackson também não será sepultado. E Elvis, então, é substituído. Estarei enganado?
Aí está uma séria questão. Nossos parâmetros não são humanistas. Porém, quando se trata de uma grande comoção, como a morte de um ídolo/símbolo desses tempos de hipermodernidade (tudo é exacerbado -- até o esparadrapo na consciência coletiva ferida é grande demais), Michael Jackson representa um dos maiores anseios do ser humano: imortalizar-se. Contudo, até os deuses morrem, e é preciso achar um Olimpo para eternizar a memória idealizada de poder acima da morte. Observe bem: nos dominam a vontade de poder, de ter, de destruir valores essenciais; enfim, que rompam a cortina do tempo e da pré-história da humanidade. Vida instintiva, atavismos, como queria Carl Jung. Diante dessa crise fomos capazes até de decretar a morte de Deus. E disseram que Nietzsche tinha enlouquecido quando disse tal coisa de nós.
Tudo isso não passa da luta entre a morte e a vida. E a morte, como símbolo maior de tudo que nos oprime, quer se impor a cada dia, com nosso assentimento, senão pela conivência. É preciso, portanto, pensar com o apóstolo Paulo: “Porque Cristo ressuscitou, nós ressuscitamos com ele”.
Alguém colocou uma entrevista na internet como publicada em um grande jornal, mas que era evidentemente apócrifa: “Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução, como? Só viria com muitos bilhões gastos organizadamente, com um governo de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral. Se bobear, os políticos vão roubar até do crime organizado [...], e os juízes também, que impedem punições e vendem sentenças impunemente”.
Hoje, podemos perguntar-nos como se constrói uma identidade nacional. Como a massa tão interessada em espetáculos midiáticos (funeral de Michael Jackson), CPIs hipócritas, futebol e carnaval, se transformaria num povo que ouve e vê além das encenações que encobrem a realidade dolorosa da morte contra a vida (Norman O. Brawn). Miséria das massas populares (conhecemos políticos evangélicos que vendem a alma por um mandato). Pós-industrialização, pós-modernidade, que é isso? Quando se falará da pós-fome, pós-miséria, pós-insalubridade, pós-deseducação, pós-desemprego em massa? Até lá, viveremos a cultura da violência institucional, paralela à do crime organizado e corrupção dentro das próprias instituições que nos governam, enquanto comentamos e nos comovemos, com reverência, o funeral da celebridade.
Ajudados pela tecnologia, satélites, celulares, “chips”, “megabytes” e “laptops”, nos assemelhamos aos que se recusavam a ouvir Jesus e a necessidade de entender as intenções do Deus Salvador e Libertador: “Eu sou a ressurreição e a vida...”. São terríveis revelações sobre as visões que temos de nós mesmos, enquanto elegemos a morte ao invés da vida. Escolhemos os piores para representar-nos, na igreja e na política. A quem reverenciaremos? A mídia, que transforma um funeral num espetáculo mundial de vitória da morte?
A exposição constante da corrupção nos legislativos e executivos parece comprovar que as consciências imediatistas dos bem-postos também estão sendo bem atendidas. Vai além das duas bacias simbólicas do Congresso Nacional: uma aberta, côncava, para “receber” benesses; outra convexa, para “esconder” as falcatruas dos nossos representantes? Niemeyer -- centenário e brilhante -- e Lúcio Costa nunca pensaram nesses simbolismos quando as projetaram. Dá arrepios saber que políticos evangélicos participam com a competência de Mefistófeles na corrupção geral: o senador, o pastor, falcatruas, processos em cima de processos... Também está nos jornais de hoje: nunca aprenderemos. No próximo ano elegeremos os mesmos ditos “servos de Deus” para representar-nos no Congresso. Por falar nisso, Michael Jackson também não será sepultado. E Elvis, então, é substituído. Estarei enganado?
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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