Opinião
- 26 de novembro de 2013
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Mentoria, um budista e um fusquinha verde
“Por favor, poderia dar exemplos concretos de mentoria?”. Dessa maneira um bom amigo do Quênia me estimulou a compartilhar algo de minha história. Era nesse programa de formação onde há pessoas de diferentes regiões do mundo, com discussões sempre bem interessantes. Antes de contar qual foi minha resposta ao amigo do outro lado do Atlântico, deixe-me revelar algo de nossa interação prévia nesse fórum.
Basicamente, discorríamos sobre o fato de que mentores são aquelas pessoas que nos ajudam a discernir quem somos, onde estamos e para onde queremos ir. Walter Wright, quem escreveu excelentes livros sobre o assunto, diz que há três perguntas básicas importantes:
- O que você crê ser mais importante na vida?
- Pensando no final de sua vida, por que razão você gostaria de ser lembrado?
- Nesse momento de sua vida, o que você precisa aprender para preparar-se para a próxima etapa?
Alguns poderiam dizer que mentoria é somente uma palavra da moda, que o discipulado e a relação entre mestre e discípulo são coisas que sempre existiram. De todo modo, creio que a atenção atual em torno do tema pode ter seus efeitos benéficos. Claro que há limitações na busca de um modelo que seja útil em todas as situações e culturas. Mas vale o esforço em refletir sobre o que pode funcionar para o meu próprio crescimento e como posso ser usado para o desenvolvimento de outros.
Muitos definem a mentoria como uma relação intencional, exclusiva, intensiva e voluntária entre duas pessoas. Tem a ver também com mutualidade e uma grande dose de responsabilidade nas mãos da pessoa mentoreada. Em minha experiência, é o mentoreado quem deve tomar a iniciativa de buscar ajuda, e em grande parte está em suas mãos a capacidade de determinar se aquela relação será de ajuda e florescimento, ou não.
Entre os variados e possíveis tipos de função que um mentor pode desempenhar na vida de outro, estão o de professor, guia, orientador, conselheiro, modelo, entre outros. Para mim, o que mais me atrai é o rol de motivador. Mentores devem saber encorajar, porque se um mentoreado se sente oprimido e desanimado nessa relação, então falhamos como mentores. Mentoria deve-se dar sempre desde uma perspectiva da esperança, daquilo que alguém pode vir a ser, a se tornar, e não se sentindo engessado naquilo que a pessoa já é, como se não pudesse crescer ou tentar algo novo na vida.
Voltando à pergunta de meu amigo queniano. Eu lhe contei sobre um professor que tive e algo acerca de meu fusca verde. A primeira foi essa grande experiência de mentoria que eu tive em meu último ano na universidade. Naquela época eu era bolsista de iniciação científica, sendo que meu orientador era um estimado professor japonês. Para tentar encurtar a história, eu estava em uma crise vocacional, pensando em ir a uma faculdade de teologia ou talvez me envolver com o ministério entre estudantes depois que eu me formasse.
Sabendo que meu professor esperava que eu ingressasse em um programa de mestrado sob orientação dele, eu sabia que tinha que lhe contar sobre meus outros planos. Para minha surpresa, ele me disse que já sabia que eu tinha uma vocação diferente. Então começou a fazer-me perguntas importantes, como:
- O que você está pensando em fazer?
- Como você pensa em se preparar bem para realizar isso?
- Onde você se vê em 5 ou 10 anos, e como você pensa em continuar preparando-se bem para seguir crescendo e alcançar essas metas?
Ele foi capaz de fazer esse tipo de questões cruciais que me fizeram pensar melhor a respeito de meu futuro ministério cristão e sobre a preparação contínua que eu deveria experimentar.
Duas observações interessantes sobre meu professor. Ele era o professor de genética, e eu caminhando na formação da carreira como engenheiro agrônomo. Ele também era budista.
Sim, eu sei, soa estranho que meu primeiro mentor ajudando-me nessa transição para o ministério não era nem mesmo cristão. Mas tendo buscado antes ajuda com amigos crentes e pastores, em verdade ele foi o primeiro quem entendeu bem o que acontecia comigo e quem me fez as questões que me ajudaram a organizar a próxima etapa da vida. Eu agradeço a Deus por seus caminhos misteriosos.
Também contei a meu amigo do Quênia sobre a mentoria do fusquinha verde (meu primeiro carro). Basicamente, tive o privilégio de convidar a estudantes para viagens ministeriais por esse Brasil, numa época de expansão do ministério da ABU (Aliança Bíblica Universitária do Brasil) nos anos 90. O venerável Volkswagen azeitona foi testemunha de longas conversas onde abríamos a vida, ouvíamos uns aos outros e nos divertíamos juntos. Tenho a alegria de ver hoje alguns daqueles estudantes em posições chave de diferentes ministérios no país. São bons amigos, do coração, até hoje. Me alegro porque aprendi com eles uma maneira não convencional de mentoria, numa via de mão dupla, que produziu efeitos que perduraram.
E você, se sente encorajado a buscar um mentor ou a mentorear alguém? Espero que sim. Seja através de um professor zen ou buscando sobreviver em um fusquinha estrada afora, espero que você também encontre os caminhos que preparem você (ou outros) para as próximas etapas de suas vidas.
Leia mais
Conselhos de Paulo aos jovens pastores
Refeições diárias com os discípulos
O Discípulo Radical (edição premium)
Basicamente, discorríamos sobre o fato de que mentores são aquelas pessoas que nos ajudam a discernir quem somos, onde estamos e para onde queremos ir. Walter Wright, quem escreveu excelentes livros sobre o assunto, diz que há três perguntas básicas importantes:
- O que você crê ser mais importante na vida?
- Pensando no final de sua vida, por que razão você gostaria de ser lembrado?
- Nesse momento de sua vida, o que você precisa aprender para preparar-se para a próxima etapa?
Alguns poderiam dizer que mentoria é somente uma palavra da moda, que o discipulado e a relação entre mestre e discípulo são coisas que sempre existiram. De todo modo, creio que a atenção atual em torno do tema pode ter seus efeitos benéficos. Claro que há limitações na busca de um modelo que seja útil em todas as situações e culturas. Mas vale o esforço em refletir sobre o que pode funcionar para o meu próprio crescimento e como posso ser usado para o desenvolvimento de outros.
Muitos definem a mentoria como uma relação intencional, exclusiva, intensiva e voluntária entre duas pessoas. Tem a ver também com mutualidade e uma grande dose de responsabilidade nas mãos da pessoa mentoreada. Em minha experiência, é o mentoreado quem deve tomar a iniciativa de buscar ajuda, e em grande parte está em suas mãos a capacidade de determinar se aquela relação será de ajuda e florescimento, ou não.
Entre os variados e possíveis tipos de função que um mentor pode desempenhar na vida de outro, estão o de professor, guia, orientador, conselheiro, modelo, entre outros. Para mim, o que mais me atrai é o rol de motivador. Mentores devem saber encorajar, porque se um mentoreado se sente oprimido e desanimado nessa relação, então falhamos como mentores. Mentoria deve-se dar sempre desde uma perspectiva da esperança, daquilo que alguém pode vir a ser, a se tornar, e não se sentindo engessado naquilo que a pessoa já é, como se não pudesse crescer ou tentar algo novo na vida.
Voltando à pergunta de meu amigo queniano. Eu lhe contei sobre um professor que tive e algo acerca de meu fusca verde. A primeira foi essa grande experiência de mentoria que eu tive em meu último ano na universidade. Naquela época eu era bolsista de iniciação científica, sendo que meu orientador era um estimado professor japonês. Para tentar encurtar a história, eu estava em uma crise vocacional, pensando em ir a uma faculdade de teologia ou talvez me envolver com o ministério entre estudantes depois que eu me formasse.
Sabendo que meu professor esperava que eu ingressasse em um programa de mestrado sob orientação dele, eu sabia que tinha que lhe contar sobre meus outros planos. Para minha surpresa, ele me disse que já sabia que eu tinha uma vocação diferente. Então começou a fazer-me perguntas importantes, como:
- O que você está pensando em fazer?
- Como você pensa em se preparar bem para realizar isso?
- Onde você se vê em 5 ou 10 anos, e como você pensa em continuar preparando-se bem para seguir crescendo e alcançar essas metas?
Ele foi capaz de fazer esse tipo de questões cruciais que me fizeram pensar melhor a respeito de meu futuro ministério cristão e sobre a preparação contínua que eu deveria experimentar.
Duas observações interessantes sobre meu professor. Ele era o professor de genética, e eu caminhando na formação da carreira como engenheiro agrônomo. Ele também era budista.
Sim, eu sei, soa estranho que meu primeiro mentor ajudando-me nessa transição para o ministério não era nem mesmo cristão. Mas tendo buscado antes ajuda com amigos crentes e pastores, em verdade ele foi o primeiro quem entendeu bem o que acontecia comigo e quem me fez as questões que me ajudaram a organizar a próxima etapa da vida. Eu agradeço a Deus por seus caminhos misteriosos.
Também contei a meu amigo do Quênia sobre a mentoria do fusquinha verde (meu primeiro carro). Basicamente, tive o privilégio de convidar a estudantes para viagens ministeriais por esse Brasil, numa época de expansão do ministério da ABU (Aliança Bíblica Universitária do Brasil) nos anos 90. O venerável Volkswagen azeitona foi testemunha de longas conversas onde abríamos a vida, ouvíamos uns aos outros e nos divertíamos juntos. Tenho a alegria de ver hoje alguns daqueles estudantes em posições chave de diferentes ministérios no país. São bons amigos, do coração, até hoje. Me alegro porque aprendi com eles uma maneira não convencional de mentoria, numa via de mão dupla, que produziu efeitos que perduraram.
E você, se sente encorajado a buscar um mentor ou a mentorear alguém? Espero que sim. Seja através de um professor zen ou buscando sobreviver em um fusquinha estrada afora, espero que você também encontre os caminhos que preparem você (ou outros) para as próximas etapas de suas vidas.
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O Discípulo Radical (edição premium)
É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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