Opinião
- 10 de abril de 2019
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Masculinidade: responsabilidade, humildade e amor
Por Myrian Goulart Caldas
Em Efésios 5:23, Paulo diz que o homem é o cabeça da mulher. Isso significa que o homem é autoridade sobre a mulher no casamento, ao qual a mulher escolhe submeter-se voluntariamente. Cada um, ou cada cultura tem uma noção de autoridade. Aliás, em nossa cultura, tanto as ideias de submissão quanto as de autoridade se encontram bastante desgastadas. Mas gostaria de falar sobre o que é autoridade na Bíblia. Adianto que está longe de ser um lugar de privilégios ou de autoritarismo. Autoridade no livro da capa preta tem a ver com tomar a responsabilidade para si. Ser responsável por algo. Quando Paulo diz que o homem é o cabeça ele atrela isso a Cristo que deu a vida pela igreja. Jesus como a maior autoridade, sendo Deus, o Rei dos reis, se esvaziou de sua glória e morreu no lugar de uma noiva impura e culposa, para cuidar dela e fazê-la gloriosa. Ele tomou a responsabilidade que era dela para si, e não só dela, mas tomou para si a responsabilidade de redimir toda a criação. Esse é o modelo de autoridade a seguir.
A autoridade bíblica carrega em seu significado o conceito de responsabilidade. Podemos dizer, portanto, que esse texto de Paulo faz um contraponto claro com a atitude errônea do homem caído: Adão. Que quando questionado por Deus sobre ter comido do fruto proibido, não toma a responsabilidade do acontecimento para si, mas joga a culpa na mulher e no próprio Deus: “foi a mulher que Tu me deste” (Genesis 3:12). A responsabilidade dos homens, contudo, não se restringe à que eles têm sobre suas esposas e seus filhos quando são casados, mas também ao dever de cuidar do mundo e cultivá-lo (Gênesis 2:15). O Homem tem responsabilidade sobre toda a Terra. Portanto, a força que foi dada ao sexo masculino por graça deve servir única e exclusivamente para proteger aquilo que é do próprio Deus, que lhe foi confiado, sendo ele destinado como mordomo do mundo e do outro. Por isso, em vez de querer cobiçá-los e apoderar-se indevidamente deles, deve presar pela criação e pela humanidade. Para isso, o homem precisa sair de si e olhar para sua volta e identificar o que há para ser lavrado, cuidado, protegido e construído tanto nas pessoas que o rodeiam, como no mundo físico em que vive e tomar isso como sua responsabilidade. E nisso, introduz-se o próximo ponto sobre a identidade masculina: a humildade.
Ao amaldiçoar Adão e Eva pelo seu pecado, Deus lhes empregou palavras diferentes. E ao homem disse: “Tu és pó. E ao pó voltarás” (Gênesis 3:19). Diante dessas palavras, podemos dizer que a remissão do homem caído, amaldiçoado, que se perdeu da imagem e semelhança de Deus, é descobrir que, por si, “ontologicamente” falando, ele não tem nada e que o suor de seu rosto e o vigor dos seus braços não o sustenta, não o faz ser quem ele é, não é o que define a sua identidade. O maior medo do homem é descobrir que sua força não é suficiente para ter o controle de tudo em suas mãos, descobrir sua fraqueza, sua impotência frente à realidade e frente a si mesmo. Mas a verdade é que somos fracos, vazios em nós mesmos e tudo que temos vem de Deus. (II Coríntios 13:4).
Confesso que o ideal pregado pela nossa sociedade de que ser alguém é ‘prezar somente pelo seu sucesso e pelo seu prazer e adentrar cada vez mais nos seus desejos corrompidos’ tem sido mais prejudicial para os homens que para as mulheres, talvez porque isso é mais reforçado para aquele sexo que para este. O homem, portanto, precisa descobrir que é na sua fraqueza que ele se torna forte, em Cristo (II Coríntios 12:9,10). É respeitando os seus limites que ele conseguirá ver o tamanho da sua força e daí poder usá-la para o Bem. O homem só será homem o dia que ele reconhecer isto: que ele é pó, que a sua força não é suficiente para lhe dar toda segurança que precisa, mas que sendo imagem e semelhança de Deus e se encontrando Nele, ele verá a beleza e a dádiva de ser homem, humano, e só assim ele será capaz de sair de si e amar o mundo e o outro. O que nos leva a terceira característica: o amor.
O que é amar alguém? A Trindade nos ensina. O Deus trino amou o mundo de tal maneira que o Pai deu o seu único Filho e o Filho se entregou pelo mundo e o Espírito de Deus testifica isso em nós. Dar e se entregar, isso é amar. O homem precisa olhar não só para uma mulher, mas para o mundo como algo pelo o qual ele deve se entregar, se doar. Os maiores exemplos que temos de homens na história são aqueles que se entregaram pela justiça, pela paz, pelo seu povo, pelos seus amigos, pelos seus filhos e pela sua esposa. Como Cristo fez. Ser homem não tem a ver com deter a maior quantidade de conhecimento, ou ter o carro mais caro, ou o cargo mais alto de uma empresa, ou a mulher mais bonita, isso é ser idólatra. Ser homem é sair de si, é sair do seu individualismo, é sair da área de “conforto” (coloco entre aspas, porque esse conforto tem trazido muito desconforto, sofrimento e solidão para muitos irmãos) e olhar à sua volta e amar. Quanto mais cedo os homens entenderem isso, mais cedo eles vão se encontrar, mais rápido se tornarão plenos e logo contribuirão para construir um mundo que clama pela sua manifestação todos os dias. Mais cedo eles mudarão a história de suas vidas e contribuirão para mudar a história da humanidade ou de parte dela.
Em vista de tudo isso, é necessário, portanto, se casar para ser homem? Não. Deus fez seres completos, à sua imagem e semelhança. Deus nos dá o outro como dádiva para sermos lapidados e voltarmos à completude pela graça. Ser homem não tem a ver intrinsicamente com o casamento (o que vale também para a mulher, e como poderia ser diferente, não é mesmo?). Ser homem tem a ver com sua postura frente à realidade, ao mundo e ao outro. Para amar alguém não é necessário se casar. É necessário perder sua vida. “Aquele que perder a sua vida por amor de Cristo, ganhá-la-á”. Se um homem que já estiver com o seu olhar e a sua identidade descoberta em Cristo vier a se casar, ele só continuará sendo homem. E aquilo já é suficiente para ser um bom filho, um bom irmão, um bom amigo, um bom colega, um bom cidadão, um bom trabalhador, um bom esposo, um bom pai e um grande homem.
Logo, avante homens! Que Deus esteja com todos vocês! Essa é minha oração! Estamos juntos nessa caminhada. No caminho estreito, mas que leva à salvação!
• Myrian Goulart Caldas é cristã protestante, membro da Igreja Esperança, médica e aspirante à psiquiatria. Ama aprender, conhecer e discorrer sobre o ser humano e suas complexidades.
Leia mais
» O que significa ser homem?
Em Efésios 5:23, Paulo diz que o homem é o cabeça da mulher. Isso significa que o homem é autoridade sobre a mulher no casamento, ao qual a mulher escolhe submeter-se voluntariamente. Cada um, ou cada cultura tem uma noção de autoridade. Aliás, em nossa cultura, tanto as ideias de submissão quanto as de autoridade se encontram bastante desgastadas. Mas gostaria de falar sobre o que é autoridade na Bíblia. Adianto que está longe de ser um lugar de privilégios ou de autoritarismo. Autoridade no livro da capa preta tem a ver com tomar a responsabilidade para si. Ser responsável por algo. Quando Paulo diz que o homem é o cabeça ele atrela isso a Cristo que deu a vida pela igreja. Jesus como a maior autoridade, sendo Deus, o Rei dos reis, se esvaziou de sua glória e morreu no lugar de uma noiva impura e culposa, para cuidar dela e fazê-la gloriosa. Ele tomou a responsabilidade que era dela para si, e não só dela, mas tomou para si a responsabilidade de redimir toda a criação. Esse é o modelo de autoridade a seguir.
A autoridade bíblica carrega em seu significado o conceito de responsabilidade. Podemos dizer, portanto, que esse texto de Paulo faz um contraponto claro com a atitude errônea do homem caído: Adão. Que quando questionado por Deus sobre ter comido do fruto proibido, não toma a responsabilidade do acontecimento para si, mas joga a culpa na mulher e no próprio Deus: “foi a mulher que Tu me deste” (Genesis 3:12). A responsabilidade dos homens, contudo, não se restringe à que eles têm sobre suas esposas e seus filhos quando são casados, mas também ao dever de cuidar do mundo e cultivá-lo (Gênesis 2:15). O Homem tem responsabilidade sobre toda a Terra. Portanto, a força que foi dada ao sexo masculino por graça deve servir única e exclusivamente para proteger aquilo que é do próprio Deus, que lhe foi confiado, sendo ele destinado como mordomo do mundo e do outro. Por isso, em vez de querer cobiçá-los e apoderar-se indevidamente deles, deve presar pela criação e pela humanidade. Para isso, o homem precisa sair de si e olhar para sua volta e identificar o que há para ser lavrado, cuidado, protegido e construído tanto nas pessoas que o rodeiam, como no mundo físico em que vive e tomar isso como sua responsabilidade. E nisso, introduz-se o próximo ponto sobre a identidade masculina: a humildade.
Ao amaldiçoar Adão e Eva pelo seu pecado, Deus lhes empregou palavras diferentes. E ao homem disse: “Tu és pó. E ao pó voltarás” (Gênesis 3:19). Diante dessas palavras, podemos dizer que a remissão do homem caído, amaldiçoado, que se perdeu da imagem e semelhança de Deus, é descobrir que, por si, “ontologicamente” falando, ele não tem nada e que o suor de seu rosto e o vigor dos seus braços não o sustenta, não o faz ser quem ele é, não é o que define a sua identidade. O maior medo do homem é descobrir que sua força não é suficiente para ter o controle de tudo em suas mãos, descobrir sua fraqueza, sua impotência frente à realidade e frente a si mesmo. Mas a verdade é que somos fracos, vazios em nós mesmos e tudo que temos vem de Deus. (II Coríntios 13:4).
Confesso que o ideal pregado pela nossa sociedade de que ser alguém é ‘prezar somente pelo seu sucesso e pelo seu prazer e adentrar cada vez mais nos seus desejos corrompidos’ tem sido mais prejudicial para os homens que para as mulheres, talvez porque isso é mais reforçado para aquele sexo que para este. O homem, portanto, precisa descobrir que é na sua fraqueza que ele se torna forte, em Cristo (II Coríntios 12:9,10). É respeitando os seus limites que ele conseguirá ver o tamanho da sua força e daí poder usá-la para o Bem. O homem só será homem o dia que ele reconhecer isto: que ele é pó, que a sua força não é suficiente para lhe dar toda segurança que precisa, mas que sendo imagem e semelhança de Deus e se encontrando Nele, ele verá a beleza e a dádiva de ser homem, humano, e só assim ele será capaz de sair de si e amar o mundo e o outro. O que nos leva a terceira característica: o amor.
O que é amar alguém? A Trindade nos ensina. O Deus trino amou o mundo de tal maneira que o Pai deu o seu único Filho e o Filho se entregou pelo mundo e o Espírito de Deus testifica isso em nós. Dar e se entregar, isso é amar. O homem precisa olhar não só para uma mulher, mas para o mundo como algo pelo o qual ele deve se entregar, se doar. Os maiores exemplos que temos de homens na história são aqueles que se entregaram pela justiça, pela paz, pelo seu povo, pelos seus amigos, pelos seus filhos e pela sua esposa. Como Cristo fez. Ser homem não tem a ver com deter a maior quantidade de conhecimento, ou ter o carro mais caro, ou o cargo mais alto de uma empresa, ou a mulher mais bonita, isso é ser idólatra. Ser homem é sair de si, é sair do seu individualismo, é sair da área de “conforto” (coloco entre aspas, porque esse conforto tem trazido muito desconforto, sofrimento e solidão para muitos irmãos) e olhar à sua volta e amar. Quanto mais cedo os homens entenderem isso, mais cedo eles vão se encontrar, mais rápido se tornarão plenos e logo contribuirão para construir um mundo que clama pela sua manifestação todos os dias. Mais cedo eles mudarão a história de suas vidas e contribuirão para mudar a história da humanidade ou de parte dela.
Em vista de tudo isso, é necessário, portanto, se casar para ser homem? Não. Deus fez seres completos, à sua imagem e semelhança. Deus nos dá o outro como dádiva para sermos lapidados e voltarmos à completude pela graça. Ser homem não tem a ver intrinsicamente com o casamento (o que vale também para a mulher, e como poderia ser diferente, não é mesmo?). Ser homem tem a ver com sua postura frente à realidade, ao mundo e ao outro. Para amar alguém não é necessário se casar. É necessário perder sua vida. “Aquele que perder a sua vida por amor de Cristo, ganhá-la-á”. Se um homem que já estiver com o seu olhar e a sua identidade descoberta em Cristo vier a se casar, ele só continuará sendo homem. E aquilo já é suficiente para ser um bom filho, um bom irmão, um bom amigo, um bom colega, um bom cidadão, um bom trabalhador, um bom esposo, um bom pai e um grande homem.
Logo, avante homens! Que Deus esteja com todos vocês! Essa é minha oração! Estamos juntos nessa caminhada. No caminho estreito, mas que leva à salvação!
• Myrian Goulart Caldas é cristã protestante, membro da Igreja Esperança, médica e aspirante à psiquiatria. Ama aprender, conhecer e discorrer sobre o ser humano e suas complexidades.
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