Opinião
- 24 de novembro de 2023
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Luz amarela para o movimento missionário brasileiro
O sucesso no campo é potencialmente proporcional ao preparo pré-campo
Em conversas com líderes brasileiros de agências missionárias com sede no Brasil e acompanhando companheiros que deixei no campo transcultural, fica evidente um crescente número de transtornos emocionais entre os obreiros brasileiros. Muitos retornam à pátria antes do projetado para serem cuidados, outros permanecem adoecidos, adoecendo outros e agravando sua própria situação.
Pesquisas na área são urgentes. Enquanto os dados não são tabulados, observamos dois fatores que coincidem com esse fenômeno: a pandemia e o decréscimo dos treinamentos missiológicos no Brasil.
A curva de transtornos psíquicos aumentou significativamente pós pandemia e as agências naturalmente sugerem que colhemos hoje na vida dos missionários o resultado do que eles enfrentaram no caos global gerado pelo Covid-19. Particularmente, não creio nisso. A situação gerada pela pandemia somente agravou um outro problema que acredito ser a causa primária.
Nos últimos anos, presenciamos a redução da carga horária dos cursos de preparação de missionários, a terceirização das agências para instituições de ensino e até o fim dos treinamentos no Brasil com a promessa de oferecer ao vocacionado uma formação no campo. Pragmaticamente, essas ações foram excelentes: menor custo da formação, menos barreiras para a pessoa chegar ao campo, prazo mais curto para enviar pessoas e o aumento de missionários brasileiros fora do país. Mas o resultado em médio prazo já é perceptível, e olhando para os anos vindouros suspeitamos de frutos ainda mais amargos. Há uma preconização de vocações. Na urgência de alcançarmos os não alcançados, lançamos ao front pessoas sem as condições devidas.
Minha hipótese para a razão do aumento de desordens mentais e espirituais entre missionários brasileiros nos últimos anos não é a pandemia – esta foi apenas um meio mais favorável para proliferação do problema – mas a severa diminuição do preparo para a vida missionária antes da saída do Brasil.
Acredito que o sucesso no campo é potencialmente proporcional ao preparo pré campo. Sabemos que na vida humana há muitas complexidades e a vida como trabalhador transcultural não é uma ciência exata. Há sempre exceções, mas também há tendências. A experiência nos mostra que a tendência de pessoas mais preparadas serem mais bem-sucedidas é um fato. O indivíduo que sai do país natal falando dois idiomas, aprenderá a língua local mais rapidamente. O obreiro que tem uma formação profissional relevante terá uma identidade mais sólida. Aquele que conhece melhor a cultura alvo, que já experimentou imersões, terá um choque reduzido. Aquele que domina as ferramentas da antropologia entenderá melhor a nova realidade. O autoconhecimento reduz atritos com os colegas e produz uma experiência psicologicamente mais saudável. Enfim, vocacionados bem-preparados possuem, naturalmente, maior probabilidade de serem obreiros frutíferos.
Acredito que a falência no campo é mais provável entre pessoas menos preparadas. Missionários menos preparados podem ficar no campo, mas, sem antropologia, não compreendem a cultura. Podem se adaptar e sobreviver, mas não se aculturam profundamente. Sem preparo linguístico, podem se comunicar minimamente e iludir as visitas que ficam alguns dias no país, afinal eles não sabem uma palavra do idioma, mas não podem enganar os locais ao redor que não poderão ouvir o Evangelho daquele que possui tão pouco da língua. Não se capacitar com ferramentas de evangelização dificultará o compartilhar da fé e produzirá uma falsa impressão de que as pessoas estão fechadas para Jesus, quando muitas vezes, simplesmente, o missionário não estudou e não aprendeu a melhor forma de construir uma ponte entre os corações. As enfermidades psíquicas são mais prováveis em obreiros menos preparados a gerirem suas rotinas e naqueles que não conhecem seus limites e fraquezas. Não conhecer a religião do povo para o qual se está indo pode levar a ofensas graves. Conheci um missionário no Oriente Médio que quando chegou em um país árabe muçulmano, não sabia quais eram os cinco pilares do Islã.
O preparo no campo é utópico. Sim, não podemos ensinar equação de segundo grau para alguém que não domina operações simples de adição e multiplicação. Ao chegar no campo, uma pessoa lidará com medos, saudades, incertezas, lutas espirituais, ajustes e até privações financeiras, choque cultural, adaptação à equipe, aprendizado de idiomas e uma série de desafios que certamente reduzirão as condições de aprendizado efetivo de questões importantes da missiologia. Acredito que o preparo prévio minimiza os desafios iniciais e torna o obreiro apto para aprender questões mais profundas.
Enfim, me parece ser um caminho perigoso o fim dos treinamentos em nome da urgência. Ao final, se obreiros menos preparados retornam mais prematuramente ou permanecem sem a capacidade de ser efetivos, teremos menos resultados efetivos. Pelo contrário, pessoas bem-preparadas fazem mais, por mais tempo e melhor. Elas também estão aptas para receberem treinamentos avançados para crescerem no serviço do Reino.
Artigo publicado no site Martureo. Reproduzido com permissão.
REVISTA ULTIMATO | ENVELHECEMOS: A ARTE DE CONTINUAR
Não são todos os que alcançam a longevidade. Precisamos assimilar que a velhice é uma estação tão natural quanto às estações do ano e que cada fase da vida tem suas especificidades e belezas próprias. Ao publicar esta matéria de capa, Ultimato deseja encorajar um novo olhar para a velhice: um novo olhar dos idosos para eles mesmos e um novo olhar para os idosos por parte da igreja e da sociedade.
É disso que trata a matéria de capa da edição 404 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais
» Eu, um Missionário? - Quando o jovem cristão leva a sério o seu chamado, Antonia Leonora van der Meer
» O Propósito de Deus e a nossa Vocação – Uma teologia bíblica da missão toda, Timóteo Carriker
» A Missão da Igreja Hoje – A Bíblia, a história e as questões contemporâneas, Michael W. Goheen
» Uma Nova Introdução ao Islã – Origens, tendências e práticas muçulmanas no mundo contemporâneo, Daniel W. Brown
Em conversas com líderes brasileiros de agências missionárias com sede no Brasil e acompanhando companheiros que deixei no campo transcultural, fica evidente um crescente número de transtornos emocionais entre os obreiros brasileiros. Muitos retornam à pátria antes do projetado para serem cuidados, outros permanecem adoecidos, adoecendo outros e agravando sua própria situação.
Pesquisas na área são urgentes. Enquanto os dados não são tabulados, observamos dois fatores que coincidem com esse fenômeno: a pandemia e o decréscimo dos treinamentos missiológicos no Brasil.
A curva de transtornos psíquicos aumentou significativamente pós pandemia e as agências naturalmente sugerem que colhemos hoje na vida dos missionários o resultado do que eles enfrentaram no caos global gerado pelo Covid-19. Particularmente, não creio nisso. A situação gerada pela pandemia somente agravou um outro problema que acredito ser a causa primária.
Nos últimos anos, presenciamos a redução da carga horária dos cursos de preparação de missionários, a terceirização das agências para instituições de ensino e até o fim dos treinamentos no Brasil com a promessa de oferecer ao vocacionado uma formação no campo. Pragmaticamente, essas ações foram excelentes: menor custo da formação, menos barreiras para a pessoa chegar ao campo, prazo mais curto para enviar pessoas e o aumento de missionários brasileiros fora do país. Mas o resultado em médio prazo já é perceptível, e olhando para os anos vindouros suspeitamos de frutos ainda mais amargos. Há uma preconização de vocações. Na urgência de alcançarmos os não alcançados, lançamos ao front pessoas sem as condições devidas.
Minha hipótese para a razão do aumento de desordens mentais e espirituais entre missionários brasileiros nos últimos anos não é a pandemia – esta foi apenas um meio mais favorável para proliferação do problema – mas a severa diminuição do preparo para a vida missionária antes da saída do Brasil.
Acredito que o sucesso no campo é potencialmente proporcional ao preparo pré campo. Sabemos que na vida humana há muitas complexidades e a vida como trabalhador transcultural não é uma ciência exata. Há sempre exceções, mas também há tendências. A experiência nos mostra que a tendência de pessoas mais preparadas serem mais bem-sucedidas é um fato. O indivíduo que sai do país natal falando dois idiomas, aprenderá a língua local mais rapidamente. O obreiro que tem uma formação profissional relevante terá uma identidade mais sólida. Aquele que conhece melhor a cultura alvo, que já experimentou imersões, terá um choque reduzido. Aquele que domina as ferramentas da antropologia entenderá melhor a nova realidade. O autoconhecimento reduz atritos com os colegas e produz uma experiência psicologicamente mais saudável. Enfim, vocacionados bem-preparados possuem, naturalmente, maior probabilidade de serem obreiros frutíferos.
Acredito que a falência no campo é mais provável entre pessoas menos preparadas. Missionários menos preparados podem ficar no campo, mas, sem antropologia, não compreendem a cultura. Podem se adaptar e sobreviver, mas não se aculturam profundamente. Sem preparo linguístico, podem se comunicar minimamente e iludir as visitas que ficam alguns dias no país, afinal eles não sabem uma palavra do idioma, mas não podem enganar os locais ao redor que não poderão ouvir o Evangelho daquele que possui tão pouco da língua. Não se capacitar com ferramentas de evangelização dificultará o compartilhar da fé e produzirá uma falsa impressão de que as pessoas estão fechadas para Jesus, quando muitas vezes, simplesmente, o missionário não estudou e não aprendeu a melhor forma de construir uma ponte entre os corações. As enfermidades psíquicas são mais prováveis em obreiros menos preparados a gerirem suas rotinas e naqueles que não conhecem seus limites e fraquezas. Não conhecer a religião do povo para o qual se está indo pode levar a ofensas graves. Conheci um missionário no Oriente Médio que quando chegou em um país árabe muçulmano, não sabia quais eram os cinco pilares do Islã.
O preparo no campo é utópico. Sim, não podemos ensinar equação de segundo grau para alguém que não domina operações simples de adição e multiplicação. Ao chegar no campo, uma pessoa lidará com medos, saudades, incertezas, lutas espirituais, ajustes e até privações financeiras, choque cultural, adaptação à equipe, aprendizado de idiomas e uma série de desafios que certamente reduzirão as condições de aprendizado efetivo de questões importantes da missiologia. Acredito que o preparo prévio minimiza os desafios iniciais e torna o obreiro apto para aprender questões mais profundas.
Enfim, me parece ser um caminho perigoso o fim dos treinamentos em nome da urgência. Ao final, se obreiros menos preparados retornam mais prematuramente ou permanecem sem a capacidade de ser efetivos, teremos menos resultados efetivos. Pelo contrário, pessoas bem-preparadas fazem mais, por mais tempo e melhor. Elas também estão aptas para receberem treinamentos avançados para crescerem no serviço do Reino.
Artigo publicado no site Martureo. Reproduzido com permissão.
REVISTA ULTIMATO | ENVELHECEMOS: A ARTE DE CONTINUAR
Não são todos os que alcançam a longevidade. Precisamos assimilar que a velhice é uma estação tão natural quanto às estações do ano e que cada fase da vida tem suas especificidades e belezas próprias. Ao publicar esta matéria de capa, Ultimato deseja encorajar um novo olhar para a velhice: um novo olhar dos idosos para eles mesmos e um novo olhar para os idosos por parte da igreja e da sociedade.
É disso que trata a matéria de capa da edição 404 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
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» Eu, um Missionário? - Quando o jovem cristão leva a sério o seu chamado, Antonia Leonora van der Meer
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