Opinião
- 30 de janeiro de 2009
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Lixo em horário nobre
Marcos Inhauser
É impressionante a capacidade que a Rede Globo de Televisão tem de jogar lixo nas casas brasileiras. E eles vão e voltam em uma constância tal, que acaba uma onda e começa outra.
Refiro-me não somente a mais uma edição do BBB, mas também às novelas. Sou alérgico a elas. E de uma alergia tão intensa que me faz mal. No entanto, é impossível não acompanhar o que nelas vai ocorrendo, mesmo quando me nego a assisti-las. Na televisão o que assisto com regularidade são os jornais e os jogos de futebol, assim mesmo os do meu time. Porém, os comerciais das novelas invadem estes horários e sou forçado a saber o que está acontecendo, mesmo contrariado. Não pretendo ser o pai de uma amiga que ficava com o controle remoto à mão e cada vez que via uma cena que era, a seu critério, imprópria, mudava de canal.
Foi assim que fiquei sabendo da trama absurda da novela anterior em que duas irmãs gêmeas, criadas em famílias diferentes e com valores morais distintos, eram confundidas e não reconhecidas nem mesmo por pessoas íntimas. O absurdo chegou ao ponto em que a má se passou pela boazinha sem que o marido percebesse a troca. Valha-me Deus. Isto é um absurdo que só mesmo a produção doentia de uma rede monopólica pode produzir e uma nação bovinamente domesticada pode aceitar.
Não bastasse o absurdo deste lixo em horário nobre, vem outra em que a figura central faz e acontece, mata e rouba, sem que nenhuma investigação policial a alcance (ainda que isto possa ser a realidade brasileira). No entanto, chegar ao cúmulo de a personagem sociopata ser levada para o palco de um teatro, confessar seus crimes à oponente, ser assistida por uma platéia e não se dar conta de onde estava e da presença “novelescamente silenciosa” da turba que a assistia, para mim é um atestado de irrealismo idiota.
Se querem chegar a estes requintes de surrealismo ou de ficção, que o façam sob outro gênero. Fazê-lo em meio a tramas recheadas de fatos e acontecimentos é, a meu ver, escarnear. Ao que parece, Dias Gomes deixou discípulos muito mal treinados ou seguidores de péssima qualidade. Ao menos ele soube tomar e escarnear a realidade dos políticos e das figuras influentes com o seu Odorico Paraguassu.
Não bastassem as duas últimas, agora vem a glamourização da Índia, do sistema de castas e quejandas. A Índia que a Globo mostra não é a das fotos dos meus amigos e de outros viajantes, onde a miséria, a sujeira e a poluição do Ganges são cartões postais não mostrados.
• Marcos Inhauser é pastor, presidente da Igreja da Irmandade e colunista do jornal Correio Popular. www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br
É impressionante a capacidade que a Rede Globo de Televisão tem de jogar lixo nas casas brasileiras. E eles vão e voltam em uma constância tal, que acaba uma onda e começa outra.
Refiro-me não somente a mais uma edição do BBB, mas também às novelas. Sou alérgico a elas. E de uma alergia tão intensa que me faz mal. No entanto, é impossível não acompanhar o que nelas vai ocorrendo, mesmo quando me nego a assisti-las. Na televisão o que assisto com regularidade são os jornais e os jogos de futebol, assim mesmo os do meu time. Porém, os comerciais das novelas invadem estes horários e sou forçado a saber o que está acontecendo, mesmo contrariado. Não pretendo ser o pai de uma amiga que ficava com o controle remoto à mão e cada vez que via uma cena que era, a seu critério, imprópria, mudava de canal.
Foi assim que fiquei sabendo da trama absurda da novela anterior em que duas irmãs gêmeas, criadas em famílias diferentes e com valores morais distintos, eram confundidas e não reconhecidas nem mesmo por pessoas íntimas. O absurdo chegou ao ponto em que a má se passou pela boazinha sem que o marido percebesse a troca. Valha-me Deus. Isto é um absurdo que só mesmo a produção doentia de uma rede monopólica pode produzir e uma nação bovinamente domesticada pode aceitar.
Não bastasse o absurdo deste lixo em horário nobre, vem outra em que a figura central faz e acontece, mata e rouba, sem que nenhuma investigação policial a alcance (ainda que isto possa ser a realidade brasileira). No entanto, chegar ao cúmulo de a personagem sociopata ser levada para o palco de um teatro, confessar seus crimes à oponente, ser assistida por uma platéia e não se dar conta de onde estava e da presença “novelescamente silenciosa” da turba que a assistia, para mim é um atestado de irrealismo idiota.
Se querem chegar a estes requintes de surrealismo ou de ficção, que o façam sob outro gênero. Fazê-lo em meio a tramas recheadas de fatos e acontecimentos é, a meu ver, escarnear. Ao que parece, Dias Gomes deixou discípulos muito mal treinados ou seguidores de péssima qualidade. Ao menos ele soube tomar e escarnear a realidade dos políticos e das figuras influentes com o seu Odorico Paraguassu.
Não bastassem as duas últimas, agora vem a glamourização da Índia, do sistema de castas e quejandas. A Índia que a Globo mostra não é a das fotos dos meus amigos e de outros viajantes, onde a miséria, a sujeira e a poluição do Ganges são cartões postais não mostrados.
• Marcos Inhauser é pastor, presidente da Igreja da Irmandade e colunista do jornal Correio Popular. www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br
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