Opinião
- 15 de agosto de 2012
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Livres para servir
Há poucos dias recebi, via internet, a seguinte historinha (autor desconhecido) que não “deletei” da minha mente tão rápido como muitas outras informações.
Um filho se dirige à mãe:
- Mamãe, meu coração tá doendo, passa pomada?
Preocupada a mãe pergunta,
- Seu coração, filho? Como assim? O que aconteceu?
- Não aconteceu nada mamãe, começou a doer do nada, mas tá doendo muito, passa a pomadinha!
- Não tem como passar pomada no coração, filho. O que você estava fazendo quando começou a doer?
- Eu estava conversando com a Laura, lá no balanço da escolinha. Aí ela me contou que gostava do Hugo, aquele meu amigo que vem sempre aqui em casa. Aí quando ele passou perto dela, ela levantou do balanço e foi atrás dele e me deixou sozinho. Aí o meu coração começou a doer, e tá doendo até agora.
A mãe, assustada, não sabia o que dizer ao filho e então simplesmente o abraçou e sussurrou no ouvido dele:
- Filho, você conheceu o amor.
O filho, meio sem entender, perguntou:
- O amor? Mas você sempre disse que o amor era uma coisa boa, e então por que ele está machucando meu coração?
- Não são todos os que sabem valorizar o amor. Quando esse amor se oferece para alguém e esse alguém não dá valor, o amor fica triste e volta pra sua casinha, que é o coração. E para o amor entrar de novo no coração, deixa um machucado bem grande nele. Esse machucado que fica no coração se chama decepção.
A historinha mostra como bem cedo na nossa vida podemos experimentar sentimentos como o amor e a decepção.
Poderíamos desejar e esperar que algo especial e diferente do resto do mundo acontecesse dentro da nossa família. Mas também ali decepcionamos e experimentamos decepção. E lá no fundo somos agradecidos pela história de José do Egito. Foi traído por seus irmãos, mas deu a volta por cima. Puxa vida! Que irmãos são esses? Abomináveis, não? No entanto, nada mais nada menos, aqueles que se tornariam os patriarcas das doze tribos de Israel! Ainda bem que Deus fez história com eles. Isso me faz acreditar que Ele pode fazer história comigo também, com minha família, apesar de todos os pesares.
Crescemos e começamos participar ativamente de uma comunidade cristã. Logo percebemos que a estrutura está montada e o caminho apontado: é seguir ou desistir. Contrariados, podemos partir para o confronto e até afrontar. Ou para não perder o terreno conquistado, vamos dissimulando nosso verdadeiro “eu” e minimizando nossos anseios e dons. Não, não foi para isso que Jesus veio a este mundo e ofereceu sua vida. Ele nos chamou para aceitarmos tão somente o seu jugo e sermos livres, experimentarmos vida, e vida plena.
Mas Jesus também nos alertou que no mundo teríamos aflições. Problemas são inerentes à condição humana em todas as esferas. Puxa vida! De novo! Se eu fosse mais atenta teria aprendido mais com as revelações de Deus através do apóstolo João. Na mensagem à Igreja de Éfeso, problemas não são ocultos: sofrimentos, pessoas más, mentirosos, manipuladores etc. Mas o apelo final é que não abandonemos a Deus, não deixemos de amar, como no princípio.
Podemos até esquecer a historinha do início, mas não vamos deletar a mensagem de resistência, de superação. Conhecendo o amor (“agape”) e assumindo os riscos da caminhada, vamos nos pôr de pé, ainda que sobre joelhos vacilantes, certos de que Ele nos fortalecerá. Nossos caminhos serão iluminados e poderemos servir na seara do Senhor com liberdade e alegria.
________
Neiva Maria Galvão Penno, professora aposentada, esposa de pastor luterano, é autora do livro Senhoras de suas histórias (Editora Reflexão).
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