Opinião
- 10 de março de 2014
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Líderes para quê?
Para que formamos líderes? Acabo de preencher um formulário de recomendação para uma organização evangélica que respeito muito. Para minha surpresa, havia duas perguntas ao final acerca do suposto futuro potencial do candidato para “impactar a igreja global e a sua missão”. Desconcertado, hesitei em como responder. Não foi o exercício de “bola de cristal” que mais me incomodou. Foram as possíveis premissas por trás das perguntas que me fizeram duvidar dessa abordagem. Registro minhas dúvidas e preocupações em algumas breves considerações abaixo. Pense comigo.
Como meço impacto no reino de Deus?
Talvez alguém imagine mencionar as pessoas convertidas, o número de discípulos, a quantidade de leitores de um livro, a multidão alcançada pela mensagem pregada na igreja ou através da web, etc. Ainda assim, seria mesmo possível dizer que os números medem o impacto no Reino?
Às vezes vemos alguém realizando um ministério como se deve, inclusive podendo ser o melhor possível num determinado contexto. Mesmo assim talvez não consiga ver aparentes bons resultados vindos de seu esforço. Por outro lado, e isso é uma tragédia, é possível fazer algo de uma maneira errada, inclusive biblicamente falando, e ainda assim ver grandes números ou “resultados” desse tipo de trabalho.
Portanto, o meu ponto é: os números (ou os resultados) não nos contam toda a história. Temos de ser capazes de ler os números, interpretá-los, para que não sejamos levados por uma ideologia dentro da ênfase sobre os números. De certa forma, somos chamados a sermos fiéis, e não a sermos "bem sucedidos", sem nem bem saber o que essa última expressão significa.
Se não posso “medir” o impacto do trabalho de alguém no reino, mais difícil ainda seria prever o potencial e o impacto futuro da obra de alguém. De todo modo, preocupar-me com esse futuro traz suas próprias armadilhas. Isso porque eu não invisto minha vida em alguém para que ele ou ela venham a ser “grandes”, reconhecidos, mas para que sejam fiéis e instrumentos preciosos nas mãos de Deus. Só isso. Tudo isso.
É possível que estejamos estimulando motivações equivocadas?
Imagine que estabeleçamos um programa de formação com o objetivo de preparar “líderes de destaque” em qualquer contexto, seja nacional ou global. Que tipo de mensagem eu passo aos jovens que estão se preparando para servir melhor no Reino?
Meu ponto é que expressões como “líderes de impacto”, “vozes significantes” e “pessoas de destaque” não são expressões neutras em si. Elas são carregadas de conceitos e ideologias que lhes são associadas no mundo em que vivemos. Além disso, essa ideologia mundana não está só fora da igreja. Lamentavelmente, ela também está bastante imiscuída nos corredores das estruturas eclesiásticas onde nos congregamos e através das quais buscamos servir. Negar isso seria ingenuidade e entregar-nos à vil mentalidade do mundo.
Assim, cursos de formação de líderes em nosso contexto deveriam ter outro tipo de ênfase. Que sejam líderes formados para servir. Se devem crescer nos seus dons, ser mais eficientes, competentes e alcançar cada vez mais pessoas através do ministério em que estão envolvidos? Claro que sim! Se isso deve dar-se às custas de submeter-se às ideologias do poder, das supostas “avaliações objetivas” de impacto, da busca desmedida por reconhecimento público (leia-se, fama) e do perigo de serem descartados quando não são mais “eficientes”? Claro que não!
Líderes servos são, na maioria das vezes, anônimos. E é assim que eles devem continuar sendo. Como lidar então com o tipo de tensão apresentada por essa organização irmã na seleção de seus potenciais futuros líderes? Sugiro que sejam líderes formados com um profundo senso de privilégio por serem conscientes de que são recipientes da graça de Deus. Formados, não com a motivação para tornar-se “grandes líderes”, mas com uma paixão por servir onde quer que o Senhor os envie, em fidelidade humilde, e sem ambição de destaque ou reconhecimento humano. No final das contas, um “grande líder” é exatamente isso: alguém que chega a certas posições, ou provocando determinado impacto, justamente porque não ambicionou isso em primeiro lugar. Também inúmeras vezes nem chegaremos a ler as biografias de muitos “grandes líderes”. Porque eles podem ter servido, influenciado e promovido o reino de Deus em condições quase anônimas, sem holofotes, sem qualquer destaque ou reconhecimento. A motivação? A glória de Deus, o crescimento do outro e o avanço do reino. Foi nisso que eles colocaram seus corações. Daí a pergunta necessária: onde está o seu coração?
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Homens de Deus
Como meço impacto no reino de Deus?
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Às vezes vemos alguém realizando um ministério como se deve, inclusive podendo ser o melhor possível num determinado contexto. Mesmo assim talvez não consiga ver aparentes bons resultados vindos de seu esforço. Por outro lado, e isso é uma tragédia, é possível fazer algo de uma maneira errada, inclusive biblicamente falando, e ainda assim ver grandes números ou “resultados” desse tipo de trabalho.
Portanto, o meu ponto é: os números (ou os resultados) não nos contam toda a história. Temos de ser capazes de ler os números, interpretá-los, para que não sejamos levados por uma ideologia dentro da ênfase sobre os números. De certa forma, somos chamados a sermos fiéis, e não a sermos "bem sucedidos", sem nem bem saber o que essa última expressão significa.
Se não posso “medir” o impacto do trabalho de alguém no reino, mais difícil ainda seria prever o potencial e o impacto futuro da obra de alguém. De todo modo, preocupar-me com esse futuro traz suas próprias armadilhas. Isso porque eu não invisto minha vida em alguém para que ele ou ela venham a ser “grandes”, reconhecidos, mas para que sejam fiéis e instrumentos preciosos nas mãos de Deus. Só isso. Tudo isso.
É possível que estejamos estimulando motivações equivocadas?
Imagine que estabeleçamos um programa de formação com o objetivo de preparar “líderes de destaque” em qualquer contexto, seja nacional ou global. Que tipo de mensagem eu passo aos jovens que estão se preparando para servir melhor no Reino?
Meu ponto é que expressões como “líderes de impacto”, “vozes significantes” e “pessoas de destaque” não são expressões neutras em si. Elas são carregadas de conceitos e ideologias que lhes são associadas no mundo em que vivemos. Além disso, essa ideologia mundana não está só fora da igreja. Lamentavelmente, ela também está bastante imiscuída nos corredores das estruturas eclesiásticas onde nos congregamos e através das quais buscamos servir. Negar isso seria ingenuidade e entregar-nos à vil mentalidade do mundo.
Assim, cursos de formação de líderes em nosso contexto deveriam ter outro tipo de ênfase. Que sejam líderes formados para servir. Se devem crescer nos seus dons, ser mais eficientes, competentes e alcançar cada vez mais pessoas através do ministério em que estão envolvidos? Claro que sim! Se isso deve dar-se às custas de submeter-se às ideologias do poder, das supostas “avaliações objetivas” de impacto, da busca desmedida por reconhecimento público (leia-se, fama) e do perigo de serem descartados quando não são mais “eficientes”? Claro que não!
Líderes servos são, na maioria das vezes, anônimos. E é assim que eles devem continuar sendo. Como lidar então com o tipo de tensão apresentada por essa organização irmã na seleção de seus potenciais futuros líderes? Sugiro que sejam líderes formados com um profundo senso de privilégio por serem conscientes de que são recipientes da graça de Deus. Formados, não com a motivação para tornar-se “grandes líderes”, mas com uma paixão por servir onde quer que o Senhor os envie, em fidelidade humilde, e sem ambição de destaque ou reconhecimento humano. No final das contas, um “grande líder” é exatamente isso: alguém que chega a certas posições, ou provocando determinado impacto, justamente porque não ambicionou isso em primeiro lugar. Também inúmeras vezes nem chegaremos a ler as biografias de muitos “grandes líderes”. Porque eles podem ter servido, influenciado e promovido o reino de Deus em condições quase anônimas, sem holofotes, sem qualquer destaque ou reconhecimento. A motivação? A glória de Deus, o crescimento do outro e o avanço do reino. Foi nisso que eles colocaram seus corações. Daí a pergunta necessária: onde está o seu coração?
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Nem monge, nem executivo
Homens de Deus
É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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