Opinião
- 15 de março de 2017
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Jesus iria a uma “campanha de vitória”?
Por Luiz Fernando dos Santos
Os essenciais na fé cristã
“Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas” (1 Pedro 2.21).
A vida cristã não se resume em seus postulados, em suas doutrinas, em sua ética ou em sua liturgia. Essas coisas são importantes, são partes inerentes do todo da vida cristã. Contudo, nesses dias em preparação para a Páscoa nada é mais importante do que nos voltarmos todos para os essenciais de nossa fé.
Ser cristão é seguir e imitar o exemplo de Jesus. O discípulo fala o que ouve do seu mestre, imita as suas ações, redefine-se a partir daquilo mesmo que encontra no caráter na personalidade do mestre. Não se trata de aprender belas lições de vida, de haurir uma sabedoria arcana, saber interpretar a própria sorte à luz de conhecimentos psicológicos e etc., ainda que em algum momento isso possa acontecer e até servir para alguma coisa, não é disso que trata o discipulado.
Todos os cristãos são convocados para a cruz. Todos, sem exceções, somos convocados a abraçar a cruz do seguimento de Cristo, numa vida de negação ao nosso ego inchado e doentio, no exercício cotidiano da paciência e da humildade, saindo de nosso ensimesmamento e abrindo-nos aos outros em amor e serviço.
Por que as campanhas são sempre de vitória e não de abnegação?
Os cristãos parecem estar esquecendo essas verdades fundamentais. Por que você não encontra igrejas – em especial essas midiáticas, com grandes impérios de comunicação social ou com presença quase onipresente na TV brasileira e mundial –, fazendo uma campanha com o slogam: “40 dias assumindo a sua cruz com alegria e mansidão”, ou então: “Semana poderosa de abnegação de si mesmo e desapego em favor do pobre”, ou quem sabe “Grande reunião de oração por humildade e amor sacrificial”? As campanhas dizem respeito às chamadas vitórias que nada mais são do que a negação da cruz, a busca desenfreada de satisfazer o ego cobiçoso, o desejo doentio de buscar segurança nos bens, nas posses e a tentação de se manipular Deus pondo-o a prova.
Jesus Cristo no episódio do evangelho de Mateus, capítulo quatro, foi convidado por Satanás a realizar e frequentar campanhas parecidas com essas que vemos todos os dias por aí. Foi convidado a sacudir o jugo da obediência ao Pai que pelo Espírito Santo o havia conduzido para o deserto. Foi instado a abandonar essa cruz da confiança, dependência, submissão e satisfação nos planos do Pai e sacrificar no altar do imediatismo e do pragmatismo a sua relação de filho amado. O diabo também convidou Jesus para a campanha de “reivindique seus direitos de filho e coloque o Pai à prova, coloque Deus numa situação e limite, e você verá que Ele não pode trair, vai ter que cumprir a sua palavra”. Jesus respondeu dizendo que não tentaria a Deus. Não faria chantagem, não negociaria as condições da obediência, não seria leviano a ponto de supervalorizar a sua vida e condição em face da vontade de Deus. Recusou-se a querer tornar Deus refém emocional de suas carências e não pulou do pináculo.
Como Jesus resistiu a uma “campanha de prosperidade”
E por ultimo, não satisfeito ainda, o diabo propõe nova campanha, dessa vez, uma campanha explícita de prosperidade. Mentindo, oferece o que não pode dar e que nem mesmo o Senhor havia oferecido, promete a glória desse mundo, poder, riqueza, dominação, status, reconhecimento, fama. Jesus não cede. Jesus não se curva aos ídolos desse mundo – a trindade dinheiro, prazer, poder – e não se curva diante daquele que está por traz deles para mentir, matar, roubar e destruir sempre apelando para a cobiça tácita do coração humano.
Jesus saiu vitorioso dessas tentações. Jesus suportou a cruz daquele teste a que foi submetido pelo Pai. Estrategicamente o diabo se retirou e mais tarde, voltaria a novas cargas para que Jesus recusasse a cruz, agora aquela de madeira, tenebrosa, horripilante da maldição de Deus. Foi tentado a descer da cruz. Foi zombado como médico que a outros pode curar e a si mesmo não pode salvar. Jesus permaneceu na cruz que carregou durante toda a sua vida. Negou-se. Não negou, porém o amor. Sacrificou-se para dar vida. Feriu-se para curar. Em tudo confiou no seu Pai e não cedeu à tentação do mal. O caminho do discipulado e a preparação para a Páscoa se encontram justamente aqui, no carregar a cruz todos os dias e no seguir a Jesus.
• Luiz Fernando dos Santos é Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira.
Leia mais
O custo do não-discipulado
A tentação política e a ética da renúncia
Como não transformar pedras em pães
Refeições Diárias com Jesus [Elben César]
Imagem: Geralt / Pixabay.com.
Os essenciais na fé cristã
“Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas” (1 Pedro 2.21).
A vida cristã não se resume em seus postulados, em suas doutrinas, em sua ética ou em sua liturgia. Essas coisas são importantes, são partes inerentes do todo da vida cristã. Contudo, nesses dias em preparação para a Páscoa nada é mais importante do que nos voltarmos todos para os essenciais de nossa fé.
Ser cristão é seguir e imitar o exemplo de Jesus. O discípulo fala o que ouve do seu mestre, imita as suas ações, redefine-se a partir daquilo mesmo que encontra no caráter na personalidade do mestre. Não se trata de aprender belas lições de vida, de haurir uma sabedoria arcana, saber interpretar a própria sorte à luz de conhecimentos psicológicos e etc., ainda que em algum momento isso possa acontecer e até servir para alguma coisa, não é disso que trata o discipulado.
Todos os cristãos são convocados para a cruz. Todos, sem exceções, somos convocados a abraçar a cruz do seguimento de Cristo, numa vida de negação ao nosso ego inchado e doentio, no exercício cotidiano da paciência e da humildade, saindo de nosso ensimesmamento e abrindo-nos aos outros em amor e serviço.
Por que as campanhas são sempre de vitória e não de abnegação?
Os cristãos parecem estar esquecendo essas verdades fundamentais. Por que você não encontra igrejas – em especial essas midiáticas, com grandes impérios de comunicação social ou com presença quase onipresente na TV brasileira e mundial –, fazendo uma campanha com o slogam: “40 dias assumindo a sua cruz com alegria e mansidão”, ou então: “Semana poderosa de abnegação de si mesmo e desapego em favor do pobre”, ou quem sabe “Grande reunião de oração por humildade e amor sacrificial”? As campanhas dizem respeito às chamadas vitórias que nada mais são do que a negação da cruz, a busca desenfreada de satisfazer o ego cobiçoso, o desejo doentio de buscar segurança nos bens, nas posses e a tentação de se manipular Deus pondo-o a prova.
Jesus Cristo no episódio do evangelho de Mateus, capítulo quatro, foi convidado por Satanás a realizar e frequentar campanhas parecidas com essas que vemos todos os dias por aí. Foi convidado a sacudir o jugo da obediência ao Pai que pelo Espírito Santo o havia conduzido para o deserto. Foi instado a abandonar essa cruz da confiança, dependência, submissão e satisfação nos planos do Pai e sacrificar no altar do imediatismo e do pragmatismo a sua relação de filho amado. O diabo também convidou Jesus para a campanha de “reivindique seus direitos de filho e coloque o Pai à prova, coloque Deus numa situação e limite, e você verá que Ele não pode trair, vai ter que cumprir a sua palavra”. Jesus respondeu dizendo que não tentaria a Deus. Não faria chantagem, não negociaria as condições da obediência, não seria leviano a ponto de supervalorizar a sua vida e condição em face da vontade de Deus. Recusou-se a querer tornar Deus refém emocional de suas carências e não pulou do pináculo.
Como Jesus resistiu a uma “campanha de prosperidade”
E por ultimo, não satisfeito ainda, o diabo propõe nova campanha, dessa vez, uma campanha explícita de prosperidade. Mentindo, oferece o que não pode dar e que nem mesmo o Senhor havia oferecido, promete a glória desse mundo, poder, riqueza, dominação, status, reconhecimento, fama. Jesus não cede. Jesus não se curva aos ídolos desse mundo – a trindade dinheiro, prazer, poder – e não se curva diante daquele que está por traz deles para mentir, matar, roubar e destruir sempre apelando para a cobiça tácita do coração humano.
Jesus saiu vitorioso dessas tentações. Jesus suportou a cruz daquele teste a que foi submetido pelo Pai. Estrategicamente o diabo se retirou e mais tarde, voltaria a novas cargas para que Jesus recusasse a cruz, agora aquela de madeira, tenebrosa, horripilante da maldição de Deus. Foi tentado a descer da cruz. Foi zombado como médico que a outros pode curar e a si mesmo não pode salvar. Jesus permaneceu na cruz que carregou durante toda a sua vida. Negou-se. Não negou, porém o amor. Sacrificou-se para dar vida. Feriu-se para curar. Em tudo confiou no seu Pai e não cedeu à tentação do mal. O caminho do discipulado e a preparação para a Páscoa se encontram justamente aqui, no carregar a cruz todos os dias e no seguir a Jesus.
• Luiz Fernando dos Santos é Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira.
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O custo do não-discipulado
A tentação política e a ética da renúncia
Como não transformar pedras em pães
Refeições Diárias com Jesus [Elben César]
Imagem: Geralt / Pixabay.com.
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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