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Jesus é Deus disfarçado de homem ou homem disfarçado de Deus?
Neste domingo, 6 de outubro de 2019, celebramos a vida e o legado do pastor e jornalista Elben César (1930-2016), fundador e diretor-redator da revista Ultimato até a sua morte, há exatos 3 anos.
O que você vai ler a seguir é parte do manuscrito no qual o pastor Elben César trabalhava naqueles dias de 2016. A sua “fixação” por Jesus Cristo era notável. E, assim como fez com os reformadores Lutero, em 2006, e Calvino, em 2014, nesse último trabalho, como uma espécie de ourives, ele criava mais uma “entrevista” com o seu biografado, agora o próprio Jesus Cristo.
Por Elben César
O trio de Jesus
Há 50 anos, escrevi o primeiro livro. É também o primeiro livro sobre Jesus. Seu título é A Grande Reconstrução, porque sobrepõe a retumbante declaração de João Batista – “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29) – à trágica declaração de Paulo – “Por um só homem entrou o pecado no mundo” (Rm 5.12).
Depois, foram surgindo outros: Não Perca Jesus de Vista (1977), A Pessoa Mais Importante do Mundo (2001) e o devocionário Refeições Diárias com Jesus (2010). Nesse período escrevi a coluna “Em Jesus você pode confiar” e várias matérias de capa sobre Jesus na revista Ultimato.
Especialmente por causa do meu sincero e contínuo entusiasmo pela pessoa de Jesus, me veio a vontade de escrever mais um livro sobre ele. É o que acabo de fazer.
A primeira ideia foi adotar o estilo de conversas com Jesus, o mesmo que usei nas biografias de William Carey (1993), A. G. Simonton (2009), Lutero (2006) e Calvino (2014). Mas fiquei com receio de ser irreverente com a pessoa do Senhor. Aí surgiu a segunda ideia: ter uma série de conversas (ou entrevistas) sobre Jesus com o trio de Jesus. Poderia ser com os escritores dos quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) ou somente com Lucas, que é um historiador de mão cheia. Fiz minha opção final por aqueles três homens mais próximos de Jesus: Pedro, Tiago e João. Os três eram pescadores e sócios de uma empresa de pesca junto ao mar da Galileia. Incluindo André, irmão de Pedro, os quatro são os primeiros discípulos (Mt 4.18-22) e os primeiros apóstolos do Senhor (Mt 10.1-4).
Jesus escolheu os doze para ficarem com ele, para viajarem com ele e para colaborarem com ele. Eles viram os seus milagres e ouviram as suas palavras. Eles comeram o que ele comia e dormiram onde ele dormia. Eles oravam com Jesus e eram perseguidos e rejeitados como ele. Foram três anos de convívio, de experiências, de correções, de ensino e de intensa atividade. Os doze tornaram-se testemunhas presenciais tanto da morte como da ressurreição e da ascensão do Senhor. Entre eles havia discípulos especiais, que viram e ouviram mais do que outros nove. Eram, portanto, mais responsáveis. Acho correto e muito bonito chamá-los de o Trio de Jesus.
Dois deles são autores de sete livros da Bíblia. Pedro escreveu duas cartas e João escreveu o quarto Evangelho (o mais teológico), três cartas e o Apocalipse.
Em sua Segunda Carta, Pedro faz questão de afirmar que ele e João não escreveram coisas inventadas, mas o que os seus próprios olhos viram e os seus próprios ouvidos ouviram por ocasião da transfiguração de Jesus (2Pe 1.16-18). Em sua Primeira Carta, João faz o mesmo: “Desde o primeiro dia, estávamos lá participando de tudo – ouvimos [eu, Pedro e meu irmão Tiago] com os nossos ouvidos, vimos com os próprios olhos, tocamos com as mãos” (1Jo 1.1, AM). Tanto o discurso de Pedro como o de João são ex-cathedra, por não se tratar de algo que eles ouviram falar, que poderia ser verdadeiro ou não, que poderia ter acréscimos ou cortes. Pedro, Tiago e João são testemunhas responsáveis que merecem absoluta confiança. Eles não somente viram, ouviram e apalparam. Além disso, eles falaram, anunciaram e escreveram. E, agora, vamos conversar sobre Jesus exatamente com o Trio de Jesus.
O Deus conosco
Jesus é Deus disfarçado de homem ou homem disfarçado de Deus?
João – Nem uma coisa nem outra. O Senhor não é apenas divino nem apenas humano. Ele tem a natureza divina e a natureza humana.
Pedro – Ele é Deus e é homem ao mesmo tempo. Ele não deixa de ser divino para ser humano quando toma a forma humana. Tão pouco deixa de ser humano para ser divino quando ressuscita dentre os mortos e volta para o Pai.
Como assim?
Pedro – Se examinasse as Escrituras, você ficaria surpreso porque o próprio Jesus ora se apresenta como Filho de Deus (Jo 5.25; 17.1) ora como Filho do Homem (Mt 24.27; 26.2). Só no capítulo 26 de Mateus, o segundo nome aparece cinco vezes.
João – Além disso, Deus mesmo chama o Senhor de Filho de Deus, como, por exemplo, na cerimônia de batismo (Mt 17.5). Registro no Evangelho que leva o meu nome que “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crê, não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Tiago – Mais ainda: as Cartas escritas às igrejas recém organizadas por nosso irmão Paulo e por sua equipe referem-se a Jesus como o Filho de Deus. Quando os olhos do alto funcionário da rainha da Etiópia são abertos, ele confessa a Filipe: “Eu creio que Jesus é o Filho de Deus” (At 8.37)
O comportamento de Jesus era um como Filho de Deus e outro como Filho do Homem?
João – Não é bom fazer essa dicotomia, pois Jesus é um só: Deus Homem. Mas, respondo dizendo que Jesus por ser, como escreve Paulo, “a revelação visível do Deus invisível” (Cl 1.15), está acima de todas as leis que regem o universo. Por isso, sem gastar o mínimo esforço, ele acalma as ondas do mar e a fúria do vento, caminha por sobre a superfície líquida do mar da Galileia, transforma 600 litros de água em vinho da melhor qualidade, seca com apenas um gesto uma figueira sem frutos, em duas ocasiões distintas multiplica pães e peixes. Faço questão de acrescentar que, por não ter perdido nem reduzido sua divindade, Jesus, segundo Mateus “ia curando toda espécie de mal e doenças do povo” (Mt 4.23).
Tiago – E é bom que se saiba que as curas por ele operadas não eram simples dores de cabeça. Jesus curou uma mulher por 12 anos hemorrágica, outra por 18 anos encurvada e um paralítico por 38 anos.
Pedro – Não devemos esquecer o reimplante da orelha daquele soldado que eu decepei com minha espada no Getsêmani.
João – Por ser homem e Deus ao mesmo tempo, Jesus ressuscita tanto uma adolescente que acaba de morrer, como um rapaz que está sendo levado ao cemitério e como um adulto já sepultado e já em decomposição.
Tiago – Vale lembrar que nenhuma dessas ressurreições é mais difícil ou mais fácil do que a outra. Tanto a filha de Jairo como aquele rapaz de Naim e como o irmão de Maria e Marta já tinham atravessado a linha da vida e estavam clinicamente mortos.
Pedro – Eu ainda não terminei. Porque “em Cristo, como ser humano, está presente toda a natureza de Deus”, no dizer de Paulo (Cl 2.9), o Senhor expulsa tanto os sete demônios de Maria Madalena na Galileia como a legião de demônios daquele infeliz em Gadara. Não há limites de espécie nenhuma para o Filho de Deus e o Filho do Homem.
João – A verdade é que, por ocupar um corpo humano igualzinho ao nosso, Jesus torna-se vivível, audível e palpável. E como tal, ele precisa comer, precisa beber e precisa dormir, pois tem fome, tem sede, e tem sono. À nossa semelhança, Jesus passa por privações (falta de dinheiro, de hospedagem e de roupa). Mais ainda, Jesus chora algumas vezes e tem necessidade tremenda de orar.
Pedro – O que mais me impressiona é aquele registro de que “temos um grande Sacerdote que foi tentado do mesmo modo que nós” (Hb 4.15).
E, como nós, ele cede à tentação?
Pedro – De forma alguma! Jesus não faz nada que o Diabo sugere naquela tentação pouco antes de iniciar seu ministério. O Maligno leva Jesus do deserto até Jerusalém e de Jerusalém a um monte muito alto num esforço titânico para fazê-lo pecar. Mas, o Senhor fala com ele: “Vá embora Satanás!” E ele vai (Mt 4.10-11)
João – A impressão que eu tenho é que a tentação mais forte, mais ousada, mais louca foi aquela que acontece no Jardim do Getsêmani, na noite que antecede a sua morte. Tomado de uma tristeza agonizante, o Filho de Deus prosta-se diante do Pai e suplica: “Meu Pai, se há algum meio, livra-me! Afasta este cálice de mim. Mas, por favor, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres” (Mt 26.39) .A salvação esteve por um triz. Graças a essa cláusula “seja feito como tu queres”, tudo mais não vai por água abaixo. Nós três estávamos lá e não o ajudamos como ele mesmo nos pediu (Mt 26.36-46). Agradecemos o seu perdão por isso.
Diga-me uma coisa: qual a idade do Filho de Deus e a idade do Filho de Homem?
João – Outra vez você faz separação entre o Filho de Deus e o Filho do Homem, como se fossem dois Jesus. Eu começo o quarto Evangelho com essas solenes palavras: “No princípio era o Verbo [refiro-me a Jesus Cristo] e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). Pouco mais na frente, dou outra informação: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Como Filho de Deus, não é possível dizer as idades de Jesus, pois ele está fora do tempo e do espaço. Ele é “antes de todas as coisas”. Ele é o “Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio o Fim” (Ap 22.13). Como Filho de Deus, Jesus é o mais velho que Maria, sua mãe, e de todos os seus contemporâneos e antepassados. Mais velho que João Batista, que nasceu três meses antes; que Isaías, que viveu 700 anos antes; que Davi, que viveu 1.000 anos antes; que Moisés, que viveu 1.500 anos antes; e que Abraão, que viveu 2.000 anos antes
E como Filho do Homem?
Tiago – Eu respondo a essa pergunta. De modo explícito, os Evangelhos dizem que Jesus é circuncidado ao oitavo dia de vida (Lc 2.21), encontra-se com os mestres da lei aos 12 anos (Lc 2.42) e inicia seu ministério público com cerca de 30 anos (Lc 3.23).
Pedro – Para você entender tudo com mais facilidade, lembre-se de que um dos nomes dado a Jesus é Emanuel, que quer dizer “Deus conosco” (Mt 1.23)!
Leia também:
> Hoje eu não celebro sua vida. Lamento sua morte
> Elben César, 1930-2016. Lamento
O que você vai ler a seguir é parte do manuscrito no qual o pastor Elben César trabalhava naqueles dias de 2016. A sua “fixação” por Jesus Cristo era notável. E, assim como fez com os reformadores Lutero, em 2006, e Calvino, em 2014, nesse último trabalho, como uma espécie de ourives, ele criava mais uma “entrevista” com o seu biografado, agora o próprio Jesus Cristo.
Por Elben César
O trio de Jesus
Há 50 anos, escrevi o primeiro livro. É também o primeiro livro sobre Jesus. Seu título é A Grande Reconstrução, porque sobrepõe a retumbante declaração de João Batista – “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29) – à trágica declaração de Paulo – “Por um só homem entrou o pecado no mundo” (Rm 5.12).
Depois, foram surgindo outros: Não Perca Jesus de Vista (1977), A Pessoa Mais Importante do Mundo (2001) e o devocionário Refeições Diárias com Jesus (2010). Nesse período escrevi a coluna “Em Jesus você pode confiar” e várias matérias de capa sobre Jesus na revista Ultimato.
Especialmente por causa do meu sincero e contínuo entusiasmo pela pessoa de Jesus, me veio a vontade de escrever mais um livro sobre ele. É o que acabo de fazer.
A primeira ideia foi adotar o estilo de conversas com Jesus, o mesmo que usei nas biografias de William Carey (1993), A. G. Simonton (2009), Lutero (2006) e Calvino (2014). Mas fiquei com receio de ser irreverente com a pessoa do Senhor. Aí surgiu a segunda ideia: ter uma série de conversas (ou entrevistas) sobre Jesus com o trio de Jesus. Poderia ser com os escritores dos quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) ou somente com Lucas, que é um historiador de mão cheia. Fiz minha opção final por aqueles três homens mais próximos de Jesus: Pedro, Tiago e João. Os três eram pescadores e sócios de uma empresa de pesca junto ao mar da Galileia. Incluindo André, irmão de Pedro, os quatro são os primeiros discípulos (Mt 4.18-22) e os primeiros apóstolos do Senhor (Mt 10.1-4).
Jesus escolheu os doze para ficarem com ele, para viajarem com ele e para colaborarem com ele. Eles viram os seus milagres e ouviram as suas palavras. Eles comeram o que ele comia e dormiram onde ele dormia. Eles oravam com Jesus e eram perseguidos e rejeitados como ele. Foram três anos de convívio, de experiências, de correções, de ensino e de intensa atividade. Os doze tornaram-se testemunhas presenciais tanto da morte como da ressurreição e da ascensão do Senhor. Entre eles havia discípulos especiais, que viram e ouviram mais do que outros nove. Eram, portanto, mais responsáveis. Acho correto e muito bonito chamá-los de o Trio de Jesus.
Dois deles são autores de sete livros da Bíblia. Pedro escreveu duas cartas e João escreveu o quarto Evangelho (o mais teológico), três cartas e o Apocalipse.
Em sua Segunda Carta, Pedro faz questão de afirmar que ele e João não escreveram coisas inventadas, mas o que os seus próprios olhos viram e os seus próprios ouvidos ouviram por ocasião da transfiguração de Jesus (2Pe 1.16-18). Em sua Primeira Carta, João faz o mesmo: “Desde o primeiro dia, estávamos lá participando de tudo – ouvimos [eu, Pedro e meu irmão Tiago] com os nossos ouvidos, vimos com os próprios olhos, tocamos com as mãos” (1Jo 1.1, AM). Tanto o discurso de Pedro como o de João são ex-cathedra, por não se tratar de algo que eles ouviram falar, que poderia ser verdadeiro ou não, que poderia ter acréscimos ou cortes. Pedro, Tiago e João são testemunhas responsáveis que merecem absoluta confiança. Eles não somente viram, ouviram e apalparam. Além disso, eles falaram, anunciaram e escreveram. E, agora, vamos conversar sobre Jesus exatamente com o Trio de Jesus.
O Deus conosco
Jesus é Deus disfarçado de homem ou homem disfarçado de Deus?
João – Nem uma coisa nem outra. O Senhor não é apenas divino nem apenas humano. Ele tem a natureza divina e a natureza humana.
Pedro – Ele é Deus e é homem ao mesmo tempo. Ele não deixa de ser divino para ser humano quando toma a forma humana. Tão pouco deixa de ser humano para ser divino quando ressuscita dentre os mortos e volta para o Pai.
Como assim?
Pedro – Se examinasse as Escrituras, você ficaria surpreso porque o próprio Jesus ora se apresenta como Filho de Deus (Jo 5.25; 17.1) ora como Filho do Homem (Mt 24.27; 26.2). Só no capítulo 26 de Mateus, o segundo nome aparece cinco vezes.
João – Além disso, Deus mesmo chama o Senhor de Filho de Deus, como, por exemplo, na cerimônia de batismo (Mt 17.5). Registro no Evangelho que leva o meu nome que “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crê, não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Tiago – Mais ainda: as Cartas escritas às igrejas recém organizadas por nosso irmão Paulo e por sua equipe referem-se a Jesus como o Filho de Deus. Quando os olhos do alto funcionário da rainha da Etiópia são abertos, ele confessa a Filipe: “Eu creio que Jesus é o Filho de Deus” (At 8.37)
O comportamento de Jesus era um como Filho de Deus e outro como Filho do Homem?
João – Não é bom fazer essa dicotomia, pois Jesus é um só: Deus Homem. Mas, respondo dizendo que Jesus por ser, como escreve Paulo, “a revelação visível do Deus invisível” (Cl 1.15), está acima de todas as leis que regem o universo. Por isso, sem gastar o mínimo esforço, ele acalma as ondas do mar e a fúria do vento, caminha por sobre a superfície líquida do mar da Galileia, transforma 600 litros de água em vinho da melhor qualidade, seca com apenas um gesto uma figueira sem frutos, em duas ocasiões distintas multiplica pães e peixes. Faço questão de acrescentar que, por não ter perdido nem reduzido sua divindade, Jesus, segundo Mateus “ia curando toda espécie de mal e doenças do povo” (Mt 4.23).
Tiago – E é bom que se saiba que as curas por ele operadas não eram simples dores de cabeça. Jesus curou uma mulher por 12 anos hemorrágica, outra por 18 anos encurvada e um paralítico por 38 anos.
Pedro – Não devemos esquecer o reimplante da orelha daquele soldado que eu decepei com minha espada no Getsêmani.
João – Por ser homem e Deus ao mesmo tempo, Jesus ressuscita tanto uma adolescente que acaba de morrer, como um rapaz que está sendo levado ao cemitério e como um adulto já sepultado e já em decomposição.
Tiago – Vale lembrar que nenhuma dessas ressurreições é mais difícil ou mais fácil do que a outra. Tanto a filha de Jairo como aquele rapaz de Naim e como o irmão de Maria e Marta já tinham atravessado a linha da vida e estavam clinicamente mortos.
Pedro – Eu ainda não terminei. Porque “em Cristo, como ser humano, está presente toda a natureza de Deus”, no dizer de Paulo (Cl 2.9), o Senhor expulsa tanto os sete demônios de Maria Madalena na Galileia como a legião de demônios daquele infeliz em Gadara. Não há limites de espécie nenhuma para o Filho de Deus e o Filho do Homem.
João – A verdade é que, por ocupar um corpo humano igualzinho ao nosso, Jesus torna-se vivível, audível e palpável. E como tal, ele precisa comer, precisa beber e precisa dormir, pois tem fome, tem sede, e tem sono. À nossa semelhança, Jesus passa por privações (falta de dinheiro, de hospedagem e de roupa). Mais ainda, Jesus chora algumas vezes e tem necessidade tremenda de orar.
Pedro – O que mais me impressiona é aquele registro de que “temos um grande Sacerdote que foi tentado do mesmo modo que nós” (Hb 4.15).
E, como nós, ele cede à tentação?
Pedro – De forma alguma! Jesus não faz nada que o Diabo sugere naquela tentação pouco antes de iniciar seu ministério. O Maligno leva Jesus do deserto até Jerusalém e de Jerusalém a um monte muito alto num esforço titânico para fazê-lo pecar. Mas, o Senhor fala com ele: “Vá embora Satanás!” E ele vai (Mt 4.10-11)
João – A impressão que eu tenho é que a tentação mais forte, mais ousada, mais louca foi aquela que acontece no Jardim do Getsêmani, na noite que antecede a sua morte. Tomado de uma tristeza agonizante, o Filho de Deus prosta-se diante do Pai e suplica: “Meu Pai, se há algum meio, livra-me! Afasta este cálice de mim. Mas, por favor, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres” (Mt 26.39) .A salvação esteve por um triz. Graças a essa cláusula “seja feito como tu queres”, tudo mais não vai por água abaixo. Nós três estávamos lá e não o ajudamos como ele mesmo nos pediu (Mt 26.36-46). Agradecemos o seu perdão por isso.
Diga-me uma coisa: qual a idade do Filho de Deus e a idade do Filho de Homem?
João – Outra vez você faz separação entre o Filho de Deus e o Filho do Homem, como se fossem dois Jesus. Eu começo o quarto Evangelho com essas solenes palavras: “No princípio era o Verbo [refiro-me a Jesus Cristo] e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). Pouco mais na frente, dou outra informação: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Como Filho de Deus, não é possível dizer as idades de Jesus, pois ele está fora do tempo e do espaço. Ele é “antes de todas as coisas”. Ele é o “Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio o Fim” (Ap 22.13). Como Filho de Deus, Jesus é o mais velho que Maria, sua mãe, e de todos os seus contemporâneos e antepassados. Mais velho que João Batista, que nasceu três meses antes; que Isaías, que viveu 700 anos antes; que Davi, que viveu 1.000 anos antes; que Moisés, que viveu 1.500 anos antes; e que Abraão, que viveu 2.000 anos antes
E como Filho do Homem?
Tiago – Eu respondo a essa pergunta. De modo explícito, os Evangelhos dizem que Jesus é circuncidado ao oitavo dia de vida (Lc 2.21), encontra-se com os mestres da lei aos 12 anos (Lc 2.42) e inicia seu ministério público com cerca de 30 anos (Lc 3.23).
Pedro – Para você entender tudo com mais facilidade, lembre-se de que um dos nomes dado a Jesus é Emanuel, que quer dizer “Deus conosco” (Mt 1.23)!
Leia também:
> Hoje eu não celebro sua vida. Lamento sua morte
> Elben César, 1930-2016. Lamento
Elben Magalhães Lenz César foi o fundador da Editora Ultimato e redator da revista Ultimato até a sua morte, em outubro de 2016. Fundador do Centro Evangélico de Missões e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Viçosa (IPV), é autor de, entre outros, Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero?, Refeições Diárias com Jesus, Mochila nas Costas e Diário na Mão, Para (Melhor) Enfrentar o Sofrimento, Conversas com Lutero, Refeições Diárias com os Profetas Menores, A Pessoa Mais Importante do Mundo, História da Evangelização do Brasil e Práticas Devocionais. Foi casado por sessenta anos com Djanira Momesso César, com quem teve cinco filhas, dez netos e quatro bisnetos.
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