Opinião
- 03 de abril de 2013
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Já fomos mais unidos
Em 1934 as principais denominações evangélicas existentes no Brasil, representadas por suas lideranças, fundaram a CEB – Confederação Evangélica do Brasil. Sua história e memória ainda precisam ser mais estudadas, divulgadas e conhecidas por parte das novas gerações de cristãos. Entretanto, não ela, mas os ciclos de unidade e divisão que se refletem até hoje em nossa história.
O número de evangélicos protestantes no país era muito pequeno, chegando a menos de 3%. Mas as igrejas implantadas estavam em todas as capitais e principais cidades do país. Era uma minoria religiosa articulada que começava a ameaçar a hegemonia católica, enchendo o país de igrejas, escolas e fortalecendo instituições comuns como as sociedades bíblicas e as associações cristãs de moços. Silenciosamente ou com muito “barulho”, mas ignorados, os pentecostais teciam suas próprias formas de ser evangélico insurgindo-se nas periferias.
Uma das marcas deste período foi o espírito de cooperação e de unidade entre as igrejas. Os desdobramentos do Congresso do Panamá em 1916, de onde surgiu um Comitê de Cooperação para a América Latina, foram uma evidência disso. Ele tinha a responsabilidade de unir esforços visando a evangelização do Brasil e do continente latino-americano.
Formava-se, contudo, no interior deste movimento, uma consciência maior das nacionalidades e das culturas latinas, em distinção e até antagonismos às formas e às mentalidades norte-americanas e europeias. Fortalecia-se também a ideia oposta ao diagnóstico do Congresso de Edimburgo (Escócia 1910), de que a América Latina já era um continente “cristão”, em função da presença secular da Igreja Católica Romana.
No entanto, o “pequeno” mundo evangélico contava com lideranças predominantemente estrangeiras, gerindo os recursos, as políticas e impondo as ortodoxias. Não foi sem razão que da década de 1930 em diante aconteceu um processo de nacionalização em cada igreja instituída (denominações), com lideranças nativas assumindo os seus comandos.
Por sua vez, o movimento de cooperação e de unidade reagia ao denominacionalismo importado com suas cisões e verdades particulares, camuflando as intolerâncias. O ano de 1903 já havia marcado a ruptura interna presbiteriana com o surgimento da Igreja Presbiteriana do Brasil e a Independente. Em 1911, uma igreja batista em Belém se dividiu pela presença de dois suecos fundando as Assembleias de Deus. Em 1913 foi publicado no Rio de Janeiro o sermão de um pastor congregacional intitulado “A túnica rasgada de Cristo”, denunciando as divisões trazidas pelas denominações. A capa da pequena publicação representava Jesus Cristo com uma grande túnica costurada em suas partes com os nomes de cada denominação.
O Comitê, dentre outras ações, desenvolveu um forte movimento em torno das escolas dominicais. Isto porque o engajamento na educação como meio para instrução, civilização e conversão das populações, sobretudo empobrecidas, levou ao intenso investimento por parte das igrejas em material pedagógico, edifícios educacionais, formação e preparação de professores. Grandes missionárias pedagogas vieram para o Brasil implantar novas metodologias de ensino. Mais tarde, a CEB chegou a publicar uma revista comum para todas as igrejas utilizarem aos domingos, junto com o hinário evangélico.
A educação foi, portanto, o campo que uniu as diferentes igrejas. Em 1932, no Rio de Janeiro, reuniram-se cerca de 1800 pessoas de diversas partes do mundo para um congresso mundial das Escolas Dominicais. O Brasil vivia os dias recentes da “revolução” paulista em reação ao golpe de 1930 com Getúlio Vargas. O presidente que reabrira o espaço do governo para o retorno da Igreja Católica, agora abria os braços para os protestantes no Teatro Municipal, palco do congresso.
A CEB foi possível também por causa do empenho de Erasmo Braga, um intelectual presbiteriano, professor e líder do Comitê de Cooperação. Braga faleceu antes da fundação da confederação, que foi o primeiro organismo de unidade das igrejas protestantes evangélicas no Brasil. O auge de seu percurso aconteceu em 1962, quando o seu Setor de Responsabilidade Social realizou a Conferência do Nordeste com o tema “Cristo e o processo revolucionário Brasileiro”, em Recife (PE), que completou cinquenta anos em 2012.
A CEB sobreviveu até pouco após o golpe de 1964, quando algumas lideranças foram alvo de investigações do regime militar. De lá pra cá, a história tem sido outra. A década de 1960 foi a mais divisionista da curta história do protestantismo brasileiro.
Precisamos de um novo ciclo de unidade, pois permanecemos mais divididos que unidos.
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Lyndon de Araújo Santos é historiador, professor universitário e pastor da Igreja Evangélica Congregacional em São Luís, MA. Faz parte da Fraternidade Teológica Latino-americana - Setor Brasil (FTL-Br).
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