Opinião
- 02 de maio de 2012
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Irrigando desertos estudantis
Tive oportunidade no mês que se passou de falar sobre o meu tema predileto em diversas universidades da cidade de Fortaleza (CE). O evento “calourada pela paz”¹, foi organizado pela missão Alfa e Ômega, cuja visão missionária é voltada para o meio estudantil. Uma das bênçãos recebidas foi que se obteve amplo apoio da reitoria da Universidade Federal do Ceará.
É claro que falei da importância da imaginação e do imaginário na literatura como forma de combater o racionalismo presente, principalmente no mundo acadêmico. Também toquei no problema da educação e no que C. S. Lewis pensava a respeito. A palestra intitulou-se “Irrigando desertos: a utilização da literatura imaginária para a educação”.
Além das frases sobre imaginação e alguns conceitos, concluímos que não há pensador que não tenha tentado definir a imaginação e ninguém que tenha conseguido fazê-lo a contento. Parece que o conflito entre as opiniões de que ela seja uma ajuda para o ser humano se salvar de várias “doenças” como o marasmo, o tédio, o snobismo (o personagem Eustáquio quem o diga), a falta de esperança um mundo cada vez mais ermo e ressecado; e que ela seja “perigosa”, posição esta defendida principalmente por pais, professores e governantes, parece não ter fim.
Lewis tinha a profunda convicção de que o mundo da educação não aguenta mais viver no deserto. Ele acreditava que já chega de “derrubar florestas”. É necessário “irrigar desertos”. Desde a sua época, e suas experiências terríveis nas escolas experimentais em que o seu pai o colocou (veja a autobiografia “Surpreendido pela Alegria”) até os dias de hoje, posso dizer que muito mais florestas já foram derrubadas.
Não sei se é legítimo fazer uma analogia da educação com a devastação ambiental como um todo que assola o planeta, mas penso que a imagem lewisiana continua sendo poderosa e profundamente verdadeira. Ele acreditava que a educação tem a finalidade de formar pessoas para uma vida eticamente boa. Formação, aqui, entende-se como “bildung”, que no alemão é a “formação” no sentido clássico e a educação das artes liberais. E ela está profundamente ligada a “bild”, que é precisamente “imagem”. A educação serve para identificar no educando a imagem do que era para ele ser no projeto criacional divino. É simples assim. “Educere” não é nada mais do que isso – extrair para fora o ser que existe em cada um. É preciso, numa perspectiva integral, unir razão, imaginação e emoção em torno do ser, sem perder o “pé” da realidade externa. É preciso envolver todos os sujeitos participantes do processo de formação em sua integralidade (mente, coração e espírito) e não apenas sua mente racional. É preciso promover o casamento entre a reflexão crítica com a imaginação poética.
E a literatura tem muito a contribuir como mediadora desse processo, principalmente a literatura que chamo de imaginativa (mitos, contos de fada, histórias folclóricas, etc.). Não sei se todos entenderam bem o que eu estava dizendo, mas os olhos brilhantes, as perguntas oportunas e os acenos sinalizavam-me que eu estava, naquele mesmo instante, sendo usada para unir algo fragmentado e divorciado no mundo acadêmico: a teoria e a prática. Era possível ouvir o solo absorvendo a desesperadamente esperada água. Graças a Deus!
A outra palestra foi intitulada “Falando em Paz em tempos de Guerra”. Mas isso já dá outro artigo. Prometo abordá-lo na próxima oportunidade. E também fizemos uma oficina sobre “A Viagem do Peregrino da Alvorada”, e “O Leão a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, além de outra palestra com o professor Glauco, autor de vários livros sobre Lewis, que valem outro artigo. Mas ninguém aqui está com pressa, está?
É mestre e doutora em educação (USP) e doutora em estudos da tradução (UFSC). É autora de O Senhor dos Anéis: da fantasia à ética e tradutora de Um Ano com C.S. Lewis e Deus em Questão. Costuma se identificar como missionária no mundo acadêmico. É criadora e editora do site www.cslewis.com.br
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