Opinião
- 12 de novembro de 2024
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Inteiros perante e para Deus
"Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus"
Por Jacira Monteiro
Na sexta bem-aventurança, Jesus diz que quem procurar a pureza de coração verá a Deus. A expressão “pureza de coração”, segundo o teólogo John Stott, tem a ver com sinceridade. “Significa que, em nossos relacionamentos tanto com Deus como com os outros, estamos livres de falsidade. Toda a nossa vida, pública e privada, é transparente. Tudo a nosso respeito, incluindo nossos pensamentos e motivos, é puro, não se mistura com o que é malicioso ou dissimulado. Hipocrisia e engano não encontram lugar em nós; somos totalmente sinceros”.1 Deus procura os sinceros de coração, os que buscam uma vida plena, uma vida pela Shalom, a plenitude de Deus.
Muitas ofertas nos são feitas para vivermos de maneira dupla, para vivermos uma espiritualidade desconectada do dia a dia. Essa insinceridade leva-nos a uma vida de hipocrisia e de impureza do coração que nem sempre é consciente. E, em última instância, leva-nos a viver desalinhados em relação ao propósito que o Senhor tem para nós. O perigo da falsidade e impureza do coração é o nosso coração acostumar-se e, assim, tornarmo-nos imprudentes e incautos.
Todas as leis do Senhor têm por finalidade proteger-nos dos perigos. Elas não são postas para nos proibir de viver o melhor da terra, mas para que possamos desfrutar o melhor dela em segurança e longe das aflições que o pecado impõe aos homens. Os puros de coração verão a Deus, pois andarão segundo os seus estatutos e somente assim poderão contemplá-lo, vivendo segundo o que ele postulou. E a maior recompensa que podemos ter não é o que Deus nos oferece, mas é ele mesmo.
Quando fala daqueles que têm o coração puro, Jesus tem em mente como a cultura judaica funcionava. Falar do coração era falar do ser por inteiro: pensamentos, emoções e ações. Ao comentar sobre os puros de coração, o teólogo J. C. Ryle diz: “Esses não se satisfazem com a mera exibição externa de religiosidade. Antes, esforçam-se para manter o coração e a consciência isentos de ofensa, desejando servir a Deus com o espírito e com o homem interior”.2 O que Jesus tem em mente é uma pessoa integral que, seja de modo público ou privado, procura viver em integridade e, assim, em plenitude perante Deus.
Na Reforma Protestante, os reformadores postularam a expressão coram Deo, que segundo o teólogo R. C. Sproul significa literalmente “perante a face de Deus”. A ideia é que, mesmo que a face de Deus seja invisível, vivemos cada segundo da nossa vida “perante a sua face”3. Desconfio que a bem-aventurança da pureza de coração tenha relação direta com a doutrina da onipresença de Deus, de sabermos que em todo momento estamos perante a face de Deus, estamos coram Deo.
No momento em que sabemos que estamos perante o Senhor e conhecemos a santidade dele, procuramos viver do modo que ele deseja para nós, em santidade e pureza. E é conhecendo quem Deus é que seremos capazes de saber que ele é amoroso e zeloso, um Deus que se preocupa plenamente com o nosso bem-estar; assim teremos ciência que ele quer o bem para nós, em suas leis. É seguindo as suas leis, perante ele, em pureza de coração, que alcançaremos o bem supremo que é estar plenamente com ele. Não há bem maior que ter ao Senhor.
“Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele” (Jo 14.21, NVI).
Notas
1. STOTT, John. Lendo o Sermão do Monte com John Stott. Trad. Valéria Lamim Delgado Fernandes. Série Lendo a Bíblia com John Stott. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2018. p. 26.
2. RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Mateus. 2. ed. Org. Tiago J. Santos Filho. São José dos Campos, SP: Editora FIEL, 2018. p. 45.
3. SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em 1 e 2 Pedro. 1. ed. Trad. Markus Hediger. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2016. p. 45.
Artigo publicado originalmente na edição 409 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO – BÍBLIA: REVELAÇÃO E LITERATURA
Ultimato mostra, entre outras coisas, a riqueza das Escrituras quando lidas como literatura, sem diminuir o seu caráter sagrado — a sua inspiração divina.
E reafirmamos o que publicamos em outra edição recente: A Bíblia Ainda Fala — “As Escrituras contêm a narrativa que dá sentido, esclarece e comunica a soberania e sabedoria de Deus. A lealdade ao que está exposto no Livro deve ser a marca dos cristãos”.
É disso que trata a matéria de capa da edição 410 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
» Lendo o Sermão do Monte com John Stott, John Stott
» Ser é o Bastante – Felicidade à luz do Sermão do Monte, Carlos Queiroz
» Meditações Diárias Para Todas as Estações, Elben César
Por Jacira Monteiro
Na sexta bem-aventurança, Jesus diz que quem procurar a pureza de coração verá a Deus. A expressão “pureza de coração”, segundo o teólogo John Stott, tem a ver com sinceridade. “Significa que, em nossos relacionamentos tanto com Deus como com os outros, estamos livres de falsidade. Toda a nossa vida, pública e privada, é transparente. Tudo a nosso respeito, incluindo nossos pensamentos e motivos, é puro, não se mistura com o que é malicioso ou dissimulado. Hipocrisia e engano não encontram lugar em nós; somos totalmente sinceros”.1 Deus procura os sinceros de coração, os que buscam uma vida plena, uma vida pela Shalom, a plenitude de Deus.
Muitas ofertas nos são feitas para vivermos de maneira dupla, para vivermos uma espiritualidade desconectada do dia a dia. Essa insinceridade leva-nos a uma vida de hipocrisia e de impureza do coração que nem sempre é consciente. E, em última instância, leva-nos a viver desalinhados em relação ao propósito que o Senhor tem para nós. O perigo da falsidade e impureza do coração é o nosso coração acostumar-se e, assim, tornarmo-nos imprudentes e incautos.
Todas as leis do Senhor têm por finalidade proteger-nos dos perigos. Elas não são postas para nos proibir de viver o melhor da terra, mas para que possamos desfrutar o melhor dela em segurança e longe das aflições que o pecado impõe aos homens. Os puros de coração verão a Deus, pois andarão segundo os seus estatutos e somente assim poderão contemplá-lo, vivendo segundo o que ele postulou. E a maior recompensa que podemos ter não é o que Deus nos oferece, mas é ele mesmo.
Quando fala daqueles que têm o coração puro, Jesus tem em mente como a cultura judaica funcionava. Falar do coração era falar do ser por inteiro: pensamentos, emoções e ações. Ao comentar sobre os puros de coração, o teólogo J. C. Ryle diz: “Esses não se satisfazem com a mera exibição externa de religiosidade. Antes, esforçam-se para manter o coração e a consciência isentos de ofensa, desejando servir a Deus com o espírito e com o homem interior”.2 O que Jesus tem em mente é uma pessoa integral que, seja de modo público ou privado, procura viver em integridade e, assim, em plenitude perante Deus.
Na Reforma Protestante, os reformadores postularam a expressão coram Deo, que segundo o teólogo R. C. Sproul significa literalmente “perante a face de Deus”. A ideia é que, mesmo que a face de Deus seja invisível, vivemos cada segundo da nossa vida “perante a sua face”3. Desconfio que a bem-aventurança da pureza de coração tenha relação direta com a doutrina da onipresença de Deus, de sabermos que em todo momento estamos perante a face de Deus, estamos coram Deo.
No momento em que sabemos que estamos perante o Senhor e conhecemos a santidade dele, procuramos viver do modo que ele deseja para nós, em santidade e pureza. E é conhecendo quem Deus é que seremos capazes de saber que ele é amoroso e zeloso, um Deus que se preocupa plenamente com o nosso bem-estar; assim teremos ciência que ele quer o bem para nós, em suas leis. É seguindo as suas leis, perante ele, em pureza de coração, que alcançaremos o bem supremo que é estar plenamente com ele. Não há bem maior que ter ao Senhor.
“Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele” (Jo 14.21, NVI).
Notas
1. STOTT, John. Lendo o Sermão do Monte com John Stott. Trad. Valéria Lamim Delgado Fernandes. Série Lendo a Bíblia com John Stott. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2018. p. 26.
2. RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Mateus. 2. ed. Org. Tiago J. Santos Filho. São José dos Campos, SP: Editora FIEL, 2018. p. 45.
3. SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em 1 e 2 Pedro. 1. ed. Trad. Markus Hediger. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2016. p. 45.
- Jacira Monteiro é mestranda em educação, arte e história da cultura, e pós-graduanda em teologia bíblica e exegética do Novo Testamento. É autora de O Estigma da Cor. @jacirapvm.
Artigo publicado originalmente na edição 409 de Ultimato.
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Ultimato mostra, entre outras coisas, a riqueza das Escrituras quando lidas como literatura, sem diminuir o seu caráter sagrado — a sua inspiração divina.
E reafirmamos o que publicamos em outra edição recente: A Bíblia Ainda Fala — “As Escrituras contêm a narrativa que dá sentido, esclarece e comunica a soberania e sabedoria de Deus. A lealdade ao que está exposto no Livro deve ser a marca dos cristãos”.
É disso que trata a matéria de capa da edição 410 da revista Ultimato. Para assinar, clique aqui.
Saiba mais:
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