Opinião
- 07 de janeiro de 2009
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Insuficiência da oração e ambivalência da experiência de fé (parte 1)
Anderson Clayton
Na concepção do teólogo Bernhard Häring, existe sempre uma “dimensão política” presente na antropologia da oração. Esta afirmação pode causar suspeita ou estranheza a alguns crentes. Mas, o que significa esta “dimensão política da oração”? A resposta mais provável seria que a oração é o instrumento da fé pelo qual se busca promover uma mudança qualitativa da realidade, tanto interna quanto externa ao ser humano.
Mas tanto nesta quanto naquela, é quase inevitável não admitirmos que haja na prática da oração uma intenção política orientando sua psicologia para a direção da realização de sua própria vocação: a de produzir mudanças na realidade vivida. Pensá-la como uma relação de amizade desprendida do evento desejado parece ser um discurso quimérico, sem efeito retórico nos dias atuais.
A oração, a partir do século 18, começa a ser entendida como sintoma de fragilidade cognitivo-racional. A atitude de oração significa, para Immanuel Kant, uma demonstração de “fraqueza racional”. O conceito de autonomia, no Ocidente pós-iluminista, legou sua chancela de “triunfalização da razão” autodeterminada. Para Ludwig Feuerbach, por exemplo, a oração ocupa uma função terapêutica de “aliviar” o coração oprimido e os segredos que angustiam a alma do cristão, a fim de possibilitar ao mesmo a “certeza da realização dos seus desejos”.
A secularização subjetiva de que nos fala o sociólogo Peter Berger despotenciou do imaginário da fé a angústia pela eternidade, deslocando a atenção do cidadão moderno para a imediaticidade que decorre do suor do trabalho empreendido pelo pragmatismo da nova geografia humana que figura o horizonte axiológico da chamada “tecnópolis” (Harvey Cox).
A psicologia da secularização tem eliminado, progressivamente, a possibilidade de se experimentar uma existência reflexiva na atitude de oração. A demanda por uma racionalidade funcional, capaz de produzir bons dividendos para um tempo que custa “dinheiro”, e que satisfaz as exigências de um sistema axiológico que prioriza os resultados imediatos, acaba criando um complexo de “inadequação” social naqueles que se submetem a uma outra compreensão de mundo, na qual se prospectiva o futuro do presente a partir da esperança da fé através da vida de oração. Por que a pratica da oração se tornou algo tão desinteressante mesmo para o crente que vive no mundo moderno? O que há nele que tornou supérflua a busca de uma vida de oração?
Uma das afirmações mais perspicazes da modernidade tecnocrática é a de que o advento da tecnologia prescinde a necessidade de se esperar por um milagre. Aliás, para alguns sociólogos, não é a religião, e sim a tecnociência a protagonista da realização de grandes milagres na sociedade moderna. As curas físicas, provenientes dos avanços tecnocientíficos, tem sido disponibilizadas àqueles que têm acesso a um bom planos de saúde, por exemplo, e que através dos mesmos podem ver suas necessidades reais serem supridas imediatamente através do uso deste recurso.
Na concepção do teólogo Bernhard Häring, existe sempre uma “dimensão política” presente na antropologia da oração. Esta afirmação pode causar suspeita ou estranheza a alguns crentes. Mas, o que significa esta “dimensão política da oração”? A resposta mais provável seria que a oração é o instrumento da fé pelo qual se busca promover uma mudança qualitativa da realidade, tanto interna quanto externa ao ser humano.
Mas tanto nesta quanto naquela, é quase inevitável não admitirmos que haja na prática da oração uma intenção política orientando sua psicologia para a direção da realização de sua própria vocação: a de produzir mudanças na realidade vivida. Pensá-la como uma relação de amizade desprendida do evento desejado parece ser um discurso quimérico, sem efeito retórico nos dias atuais.
A oração, a partir do século 18, começa a ser entendida como sintoma de fragilidade cognitivo-racional. A atitude de oração significa, para Immanuel Kant, uma demonstração de “fraqueza racional”. O conceito de autonomia, no Ocidente pós-iluminista, legou sua chancela de “triunfalização da razão” autodeterminada. Para Ludwig Feuerbach, por exemplo, a oração ocupa uma função terapêutica de “aliviar” o coração oprimido e os segredos que angustiam a alma do cristão, a fim de possibilitar ao mesmo a “certeza da realização dos seus desejos”.
A secularização subjetiva de que nos fala o sociólogo Peter Berger despotenciou do imaginário da fé a angústia pela eternidade, deslocando a atenção do cidadão moderno para a imediaticidade que decorre do suor do trabalho empreendido pelo pragmatismo da nova geografia humana que figura o horizonte axiológico da chamada “tecnópolis” (Harvey Cox).
A psicologia da secularização tem eliminado, progressivamente, a possibilidade de se experimentar uma existência reflexiva na atitude de oração. A demanda por uma racionalidade funcional, capaz de produzir bons dividendos para um tempo que custa “dinheiro”, e que satisfaz as exigências de um sistema axiológico que prioriza os resultados imediatos, acaba criando um complexo de “inadequação” social naqueles que se submetem a uma outra compreensão de mundo, na qual se prospectiva o futuro do presente a partir da esperança da fé através da vida de oração. Por que a pratica da oração se tornou algo tão desinteressante mesmo para o crente que vive no mundo moderno? O que há nele que tornou supérflua a busca de uma vida de oração?
Uma das afirmações mais perspicazes da modernidade tecnocrática é a de que o advento da tecnologia prescinde a necessidade de se esperar por um milagre. Aliás, para alguns sociólogos, não é a religião, e sim a tecnociência a protagonista da realização de grandes milagres na sociedade moderna. As curas físicas, provenientes dos avanços tecnocientíficos, tem sido disponibilizadas àqueles que têm acesso a um bom planos de saúde, por exemplo, e que através dos mesmos podem ver suas necessidades reais serem supridas imediatamente através do uso deste recurso.
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