Opinião
- 03 de junho de 2009
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Instituto Faraday lança documentário sobre religião e ciência
Guilherme de Carvalho
Não é de hoje que os líderes cristãos envolvidos com a integração entre fé e academia procuram subsídios pedagógicos realmente úteis -- que não pequem por amadorismo acadêmico ou de qualidade da produção.
Pois a resposta às orações de muita gente está chegando: o Instituto Faraday para Ciência e Religião está finalizando um programa especial de educação em religião e ciência para igrejas, que será lançado em 1º de julho deste ano. O programa, batizado de “Test of Faith: Resources for Churches from the Faraday Institute for Science and Religion” (O Teste da Fé: Recursos para Igrejas do Instituto Faraday de Ciência e Religião) visa prover igrejas e ministérios envolvidos com o trabalho acadêmico com vídeos e textos de alto nível e ampla acessibilidade.
Prêmio internacional
O filme já foi exibido para públicos restritos. Em 16 de março foi apresentado no Festival de Ciências de Cambridge, e noticiado em vários órgãos, como o Daily Telegraph. E já foi premiado antes mesmo do lançamento oficial: ganhou a prata como o melhor documentário do ano pela International Visual Communications Association.
O documentário será lançado oficialmente em julho, mas tive acesso antecipado ao filme, que terá legendas em português (além de francês, russo, espanhol, chinês, e dublagem em árabe e farsi). Assim, não poderia deixar de dar uma “canja” aos leitores.
Quem fez
O projeto foi concebido e dirigido pela geneticista Ruth Bancewicz, pesquisadora associada do Instituto Faraday desde a fundação, em 2006, com o apoio de James Crocker. O Faraday recebeu um financiamento especial de 1.901.068 dólares da John Templeton Foundation para desenvolver o projeto em parceria com a Contrapositive New Media.
Várias sumidades no campo das ciências e da teologia foram convidadas para as entrevistas, incluindo o físico-matemático de Cambridge e pastor anglicano John Polkinghorne, o físico Ard Louis, de Oxford, o neurocientista Bill Newsome, o teólogo Alister McGrath, o diretor do projeto Genoma Humano, Francis Collins e o historiador da ciência Peter Harrison, entre outros. O terceiro documentário tem a participação do biólogo molecular John Bryant -- muitos gostarão de saber o que ele me disse numa conversa informal: foi o encontro com Francis Schaeffer no L’Abri que salvou sua fé.
Os documentários
O programa é centralizado em três documentários que abordam as três frentes nas quais o debate sobre religião e ciência é mais intenso: a cosmologia, a biologia evolucionária e as neurociências.
No primeiro deles é apresentada uma exposição muito didática do conceito de “ajuste-fino cósmico” (fine-tunning), ou seja, a ideia de que o universo apresenta uma série de características singulares e surpreendentes que indicam a existência de um propósito e uma mente divina. O fenômeno do ajuste-fino cosmológico é a principal evidência para o que foi denominado “princípio cosmológico antrópico” -- o universo foi projetado para que enfim o ser humano viesse à existência. O documentário discute ainda o status da noção de “multiverso”, uma das saídas procuradas por cosmologistas não-cristãos para escapar das implicações do princípio antrópico.
O segundo documentário trata do problema da evolução biológica. A crítica ao criacionismo da terra jovem e ao Design Inteligente é respeitosa, mas incisiva. O roteiro apresenta uma defesa da compatibilidade essencial entre a ideia cristã de criação e a teoria da evolução. E o grande argumento em defesa da posição evolucionista teísta é a descoberta de Simon Conway Morris, paleobiólogo de Cambridge, de que o fenômeno da convergência evolucionária -- espécies separadas desenvolvendo características estruturalmente idênticas ou quase -- é muito mais extenso e capilar do que se imaginava.
Morris e outros relacionam esse fato ao argumento cosmológico antrópico, sugerindo que a teoria da evolução, corretamente interpretada, não seria evidência de que a vida surge “por acaso”. Antes, o mecanismo evolucionário seria na verdade um processo muitíssimo mais complexo e ainda insuficientemente compreendido de produzir complexidade. Ou seja: haveria evidência empírica de que a evolução foi dirigida por Deus. O segundo filme trata ainda do problema do mal, do aquecimento global e da vocação cristã de cuidar do planeta terra.
O terceiro documentário foca a questão da personalidade humana, no contexto das neurociências: seria possível, como alguns neurocientistas vêm alegando, que a personalidade, a consciência -- tudo aquilo que costumávamos chamar de “alma” -- seja meramente uma projeção de nosso cérebro físico, um epifenômeno? Vários cientistas cristãos são convocados para explicar por que essa alegação é gratuita: na verdade, cada movimento da personalidade humana tem uma contraparte neurológica, mas isso não prova que a personalidade seja uma ilusão, que o real seja apenas a química cerebral. Somos seres profundamente corporais, mas a mente é uma realidade emergente que transcende ao cérebro, e que é capaz de provocar mudanças reais no mundo físico. E porque nossas personalidades são reais, as questões de valores éticos também são reais, irredutíveis e insolúveis do ponto de vista da ciência do cérebro.
Além dos três filmes principais, os diretores produziram três sequências “bônus” com entrevistas com cientistas, teólogos e filósofos.
Materiais didáticos: O Brasil precisa!
Juntamente com os documentários a equipe desenvolveu um livro e outros materiais didáticos que serão lançados pela Paternoster na Inglaterra. Seria interessante se alguma editora brasileira manifestasse interesse pela tradução e publicação desses materiais de apoio no Brasil. Eles com certeza poderão ser úteis para a evangelização universitária e a educação cristã por essas terras, e carregarão consigo o peso de um documentário de alto nível.
Não é de hoje que os líderes cristãos envolvidos com a integração entre fé e academia procuram subsídios pedagógicos realmente úteis -- que não pequem por amadorismo acadêmico ou de qualidade da produção.
Pois a resposta às orações de muita gente está chegando: o Instituto Faraday para Ciência e Religião está finalizando um programa especial de educação em religião e ciência para igrejas, que será lançado em 1º de julho deste ano. O programa, batizado de “Test of Faith: Resources for Churches from the Faraday Institute for Science and Religion” (O Teste da Fé: Recursos para Igrejas do Instituto Faraday de Ciência e Religião) visa prover igrejas e ministérios envolvidos com o trabalho acadêmico com vídeos e textos de alto nível e ampla acessibilidade.
Prêmio internacional
O filme já foi exibido para públicos restritos. Em 16 de março foi apresentado no Festival de Ciências de Cambridge, e noticiado em vários órgãos, como o Daily Telegraph. E já foi premiado antes mesmo do lançamento oficial: ganhou a prata como o melhor documentário do ano pela International Visual Communications Association.
O documentário será lançado oficialmente em julho, mas tive acesso antecipado ao filme, que terá legendas em português (além de francês, russo, espanhol, chinês, e dublagem em árabe e farsi). Assim, não poderia deixar de dar uma “canja” aos leitores.
Quem fez
O projeto foi concebido e dirigido pela geneticista Ruth Bancewicz, pesquisadora associada do Instituto Faraday desde a fundação, em 2006, com o apoio de James Crocker. O Faraday recebeu um financiamento especial de 1.901.068 dólares da John Templeton Foundation para desenvolver o projeto em parceria com a Contrapositive New Media.
Várias sumidades no campo das ciências e da teologia foram convidadas para as entrevistas, incluindo o físico-matemático de Cambridge e pastor anglicano John Polkinghorne, o físico Ard Louis, de Oxford, o neurocientista Bill Newsome, o teólogo Alister McGrath, o diretor do projeto Genoma Humano, Francis Collins e o historiador da ciência Peter Harrison, entre outros. O terceiro documentário tem a participação do biólogo molecular John Bryant -- muitos gostarão de saber o que ele me disse numa conversa informal: foi o encontro com Francis Schaeffer no L’Abri que salvou sua fé.
Os documentários
O programa é centralizado em três documentários que abordam as três frentes nas quais o debate sobre religião e ciência é mais intenso: a cosmologia, a biologia evolucionária e as neurociências.
No primeiro deles é apresentada uma exposição muito didática do conceito de “ajuste-fino cósmico” (fine-tunning), ou seja, a ideia de que o universo apresenta uma série de características singulares e surpreendentes que indicam a existência de um propósito e uma mente divina. O fenômeno do ajuste-fino cosmológico é a principal evidência para o que foi denominado “princípio cosmológico antrópico” -- o universo foi projetado para que enfim o ser humano viesse à existência. O documentário discute ainda o status da noção de “multiverso”, uma das saídas procuradas por cosmologistas não-cristãos para escapar das implicações do princípio antrópico.
O segundo documentário trata do problema da evolução biológica. A crítica ao criacionismo da terra jovem e ao Design Inteligente é respeitosa, mas incisiva. O roteiro apresenta uma defesa da compatibilidade essencial entre a ideia cristã de criação e a teoria da evolução. E o grande argumento em defesa da posição evolucionista teísta é a descoberta de Simon Conway Morris, paleobiólogo de Cambridge, de que o fenômeno da convergência evolucionária -- espécies separadas desenvolvendo características estruturalmente idênticas ou quase -- é muito mais extenso e capilar do que se imaginava.
Morris e outros relacionam esse fato ao argumento cosmológico antrópico, sugerindo que a teoria da evolução, corretamente interpretada, não seria evidência de que a vida surge “por acaso”. Antes, o mecanismo evolucionário seria na verdade um processo muitíssimo mais complexo e ainda insuficientemente compreendido de produzir complexidade. Ou seja: haveria evidência empírica de que a evolução foi dirigida por Deus. O segundo filme trata ainda do problema do mal, do aquecimento global e da vocação cristã de cuidar do planeta terra.
O terceiro documentário foca a questão da personalidade humana, no contexto das neurociências: seria possível, como alguns neurocientistas vêm alegando, que a personalidade, a consciência -- tudo aquilo que costumávamos chamar de “alma” -- seja meramente uma projeção de nosso cérebro físico, um epifenômeno? Vários cientistas cristãos são convocados para explicar por que essa alegação é gratuita: na verdade, cada movimento da personalidade humana tem uma contraparte neurológica, mas isso não prova que a personalidade seja uma ilusão, que o real seja apenas a química cerebral. Somos seres profundamente corporais, mas a mente é uma realidade emergente que transcende ao cérebro, e que é capaz de provocar mudanças reais no mundo físico. E porque nossas personalidades são reais, as questões de valores éticos também são reais, irredutíveis e insolúveis do ponto de vista da ciência do cérebro.
Além dos três filmes principais, os diretores produziram três sequências “bônus” com entrevistas com cientistas, teólogos e filósofos.
Materiais didáticos: O Brasil precisa!
Juntamente com os documentários a equipe desenvolveu um livro e outros materiais didáticos que serão lançados pela Paternoster na Inglaterra. Seria interessante se alguma editora brasileira manifestasse interesse pela tradução e publicação desses materiais de apoio no Brasil. Eles com certeza poderão ser úteis para a evangelização universitária e a educação cristã por essas terras, e carregarão consigo o peso de um documentário de alto nível.
É teólogo, mestre em Ciências da Religião e diretor de L’Abri Fellowship Brasil. Pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte e presidente da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares, é também organizador e autor de Cosmovisão Cristã e Transformação e membro fundador da Associação Brasileira Cristãos na Ciência (ABC2).
- Textos publicados: 37 [ver]
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