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Opinião

Ilusões sobre o casamento

Basta digitar “Preparando-se para casar” no Google e surgem inúmeros sites dando dicas incríveis para que tudo na cerimônia e festa de casamento saia impecável. Sem dúvida, muitas destas dicas são valiosas, facilitam a organização de um sonho do casal. Entretanto, o que me chama a atenção é que a preparação que um grande número de pessoas busca, geralmente está limitada à logística. Alguns casais se empolgam tanto com a ideia de viverem juntos que se limitam apenas à cerimônia. Depois, se dão conta de que o casamento não é a cerimônia em si; esta é somente um rito de passagem.

Raramente, nesta decisão, está incluído o cuidado com o preparo relacional do casal, com tempo para conversarem sobre assuntos tão relevantes que os acompanharão após o casamento como: o que é casar, suas diferenças, finanças, famílias de origem, espiritualidade, sexualidade, perdão...

Para muitos, assim que o sentimento de êxtase acaba o encanto pelo casamento também chega ao fim. O desencanto pode vir muito mais cedo do que se imagina. Não é raro eu ouvir de pessoas que já na lua de mel se arrependeram de terem se casado, e se perguntam o que fizeram com suas vidas.

Provavelmente você, assim como eu, também se depara com esta realidade ouvindo de amigos, parentes, conhecidos, testemunhos sobre os “preparativos do casamento”, ou talvez você esteja exatamente nesta fase que antecipa seu casamento vivendo a realidade de varias decisões e investimentos, porém sem investir em áreas tão importantes em seu relacionamento conjugal.

Ilusões sobre casamento
Por que isto é tão comum? Uma das causas se dá por muitos acreditarem que as pessoas já vêm prontas; por não se prepararem para casar e por não aprenderem antes de tomar a decisão, que casamento é investimento para a vida toda. Esta construção não se acaba. Você já imaginou uma construção durar 40, 50, 60 anos ou mais? Para uma geração que aprendeu a se relacionar na era digital pensar em algo que demora tanto tempo assim pode parecer utópico.

Eu me lembro na minha infância e adolescência meus pais compravam os objetos pela sua durabilidade e tinham orgulho de mencionar quanto tempo resistiam. Hoje, quando uma pessoa vai comprar um celular, um carro, um eletrodoméstico compra pelo seu design, eficiência, mas não raramente com a sensação de que está comprando algo que já está obsoleto ou assim será em breve. Esta proposta do marketing, de criar uma insatisfação constante tem se transferido para nossas relações pessoais. Algumas pessoas já entram no relacionamento com medo de que surgirá alguém mais interessante, que lhe dê mais satisfação.

Lamentavelmente a maioria dos casais entra em um relacionamento sem se dar conta da importância deste preparo que antecede ao casamento. Como já disse, casamento não é algo acabado; ele passa por várias etapas e fases relacionais, assim como o desenvolvimento humano.

Quando pergunto aos casais o porquê de se casarem, geralmente as respostas são: para realizar um sonho, paixão, gravidez, medo da solidão, ter filhos... as motivações não param por aí. O perigo é que muitas vezes estas motivações estão fundamentadas na crença de que o casamento proporcionará estas conquistas, e por isso os cônjuges se tornarão pessoas felizes. Cada vez mais as pessoas colocam uma expectativa no casamento, fazendo destas conquistas um fim para suas felicidades.

Quem não quer ser feliz? Porém, o grande perigo é quando as pessoas acreditam que casamento será um remédio que trará felicidade. Aqui vai uma alerta para quem está pretendendo se casar: casamento não é remédio que traz felicidade, não é cura para a solidão ou solução para problemas. Se casamento fosse remédio para solidão, não haveria casado infeliz.

Talvez esta crença venha de uma maneira tão sutil que a gente nem se dá conta, quem nunca ouviu a frase “Quando casar sara...”? Infelizmente alguns líderes delegam aos futuros cônjuges a tarefa: “Façam um ao outro feliz”.

O casal que entra num relacionamento conjugal pensando desta forma corre o risco de entrar para a estatística dos casamentos fracassados.

O que fazer então? É importante ser uma pessoa feliz antes de se casar e casar-se com uma pessoa que seja feliz. Não espere que o outro seja responsável por sua felicidade. Esta deve ser fruto de uma realização pessoal, alcançada pela obediência e pelo entendimento de que cada um foi criado com dons e talentos dados por Deus, de maneira singular.

Se a pessoa não cumpre primeiramente o seu chamado individual, dificilmente conseguirá cumpri-lo como parte de um casal. Ela irá se sentir frustrada e certamente responsabilizará o seu cônjuge por sua infelicidade.

Carlos McCord afirma: “Casamento não gera felicidade. O casamento apenas revela a existência ou não de uma felicidade preexistente, que é compartilhada pelo casal. Nunca observei duas pessoas infelizes se casarem e produzirem duas pessoas felizes”.

Outro paradigma é o da pessoa acreditar que encontrará a sua “outra metade”. Fico impressionada quantas pessoas ainda são reféns de uma crença como esta. Quantas mensagens, músicas e poemas que reforçam esta ideia. Cada um é uma pessoa por inteiro. Quando Deus criou o homem e a mulher, os dotou de capacidade e potencial, portanto cada pessoa tem a responsabilidade de viver a vida da melhor maneira possível.

Antes de casar
A proposta do livro Antes de Casar é ser uma ferramenta para ajudar a muitos casais que estão pensando em se casar a iniciarem um diálogo sobre vários temas que estarão presentes na construção do relacionamento. Sem dúvida alguma, pensar em se casar é pensar sim em todos e detalhes da cerimônia ou sonhar com a vida a dois, mas tomar decisões requer habilidades, como por exemplo: alinhar o desejo de um casal quando um deles pensa em morar numa casa espaçosa e o outro se sente muito inseguro e prefere morar em um apartamento; decidir em relação à igreja que irão frequentar se cada um dos noivos frequentam igreja ou denominações diferentes ou talvez até mesmo sejam crenças diferentes; como serão as datas comemorativas em relação às expectativas das famílias de origem? Como irão gastar ou investir suas finanças agora a dois? Quantos filhos desejam ter? E quanto tempo pretendem aguardar depois de casados para engravidarem? E se não puderem ter filhos, quais seriam algumas possibilidades?

A palavra “conversar” vem do latim (“conversare”), que significa “mudar juntos“. A boa conversa produz mudanças. Quanto mais cedo alguém tem consciência de sua motivação para se casar, mais consciente tomará esta decisão.

A ideia principal do livro é que todo relacionamento conjugal deve ter Cristo como centro, ou seja, que a fonte de satisfação e alegria de cada um deve ser encontrada em Cristo, e não esperando que o futuro cônjuge o faça feliz.

O encontro de Jesus com uma mulher de Samaria junto ao poço revela esta verdade. Veja a história em João 4.15-18 e o ensino do próprio mestre. Ela já estava no seu sexto relacionamento e não era uma mulher satisfeita. Depois do encontro com a fonte da vida, ela saiu repartindo o amor. O casamento necessita que a fonte de cada um dos cônjuges esteja em Jesus.

Portanto o propósito principal do casamento não é ser feliz. É amar para que a imagem de um Deus invisível se faça visível num ambiente de perdão, fidelidade, paciência, perseverança, bondade. Desta forma os filhos aprenderão relacionamentos saudáveis e a terra terá boas sementes.

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