Opinião
- 11 de novembro de 2014
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Igrejas em crise
Religião, hoje, é assunto financeiro e estatístico, em primeiro lugar. Negócios e número de adeptos completam sua finalidade. Assim, se a religião não alcança associados, contribuintes, ou não obtém lucros, segue o destino das empresas destinadas à falência (já ouvimos isso com todas as letras, em nosso meio, dentro de nossas igrejas). Nunca houve equívoco maior, no ambiente eclesiástico mundial, exceto no século das indulgências (XVI), que exigiu uma reforma na Igreja. Nascia, então, a igreja evangélica protestante, para ser diferente, no cristianismo histórico. Essa igreja foi traída às últimas consequências.
O cristianismo, tanto o católico como o protestante evangélico, mudou -- não importam as identidades modernas das igrejas que confessam ser “cristãs”. A ação ideológico-pentecostal no século 21, pretendendo alcançar as multidões, passou a funcionar à semelhança dos grandes movimentos políticos do século 20. Desde a I Guerra Mundial, fascismo, comunismo e nazismo se introduzem na religião, conquistando adesões expressivas. Mesmo quando a mesma religião se declara à parte dessas ideologias, seus métodos equivalem. Se socialistas falam com linguagem “religiosa” sobre conversões autoritárias, não menos capitalistas, neoliberais, adotam a linguagem fascista ou intervencionista. Nas igrejas, para impor a “liberdade de mercado” como meio de promoção da expansão pentecostal, cristaliza-se esse conceito.
Lideranças pastorais adotam as imagens de déspotas famosos, como Hitler – enquanto desprezam vultos como Tolstoy, Ghandi, Luther King, e o nosso Jaime Wright, símbolos da resistência não-violenta –, e aderem ao sionismo judaico-cristão, assumindo gestos e símbolos autoritários, fundando igrejas nacionais – também criando rachaduras internas; criando interminavelmente outras facções eclesiásticas –, com expressivo sucesso de público nunca antes imaginado. É a deificação do “homo religiosus” e, ao mesmo tempo, da religião de mercado. Às igrejas e lideranças desse meio, tudo é permitido, inclusive o esforço por revogar direitos constitucionais fundamentais, conquistas democráticas e pregar a exclusão e violência contra minorias; contra a mulher e a criança, o adolescente, e contra homoafetivos de ambos os sexos. Se ao Estado autoritário é permitido estabelecer uma ordem na vida e nos interesses da pessoa, a religião acompanha a mesma inclinação.
É nestas fronteiras específicas que se concentra, nos dias de hoje, o trabalho de humanização feito por Deus, pregava Richard Shaull. É nelas que está sendo jogado o futuro do homem e das nações emergentes e em vias de desenvolvimento. “Hoje, de modo geral, a igreja local conserva os mesmos padrões de trabalho e o mesmo conjunto de instituições modelado no período do ‘protestantismo de missões’ (seria por demais extensivo falar sobre o colonialismo missionário na África, Ásia e Oceania)? Este tipo de atuação é ainda relativamente eficaz junto a povos que, até o momento presente, não foram muito atingidos pelo impacto do Ocidente e onde os velhos padrões de vida permanecem quase intactos”, dizia Richard Shaull. Hoje, a observação mudaria, quem sabe: dos velhos padrões, não permaneceu pedra sobre pedra…
Com a mentalidade que acompanha a igreja evangélica, moldar o futuro, neste caso, estas áreas dos atuais desencontros da identidade original obscureceram e se aproximam da escuridão total. Paralelas ao êxito religioso do pentecostalismo evangélico, as comunidades têm cada vez menos significação e relevância diante dos problemas de uma nação ou continente. Não se admira que tenham sido solapadas, as igrejas históricas que não se entregaram ao pentecostalismo. Mais cedo ou mais tarde também abdicariam dos fundamentos e princípios originários.
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Legenda: detalhe do “Templo de Salomão” em São Paulo (SP).
Créditos: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas (29/07/2014)
O cristianismo, tanto o católico como o protestante evangélico, mudou -- não importam as identidades modernas das igrejas que confessam ser “cristãs”. A ação ideológico-pentecostal no século 21, pretendendo alcançar as multidões, passou a funcionar à semelhança dos grandes movimentos políticos do século 20. Desde a I Guerra Mundial, fascismo, comunismo e nazismo se introduzem na religião, conquistando adesões expressivas. Mesmo quando a mesma religião se declara à parte dessas ideologias, seus métodos equivalem. Se socialistas falam com linguagem “religiosa” sobre conversões autoritárias, não menos capitalistas, neoliberais, adotam a linguagem fascista ou intervencionista. Nas igrejas, para impor a “liberdade de mercado” como meio de promoção da expansão pentecostal, cristaliza-se esse conceito.
Lideranças pastorais adotam as imagens de déspotas famosos, como Hitler – enquanto desprezam vultos como Tolstoy, Ghandi, Luther King, e o nosso Jaime Wright, símbolos da resistência não-violenta –, e aderem ao sionismo judaico-cristão, assumindo gestos e símbolos autoritários, fundando igrejas nacionais – também criando rachaduras internas; criando interminavelmente outras facções eclesiásticas –, com expressivo sucesso de público nunca antes imaginado. É a deificação do “homo religiosus” e, ao mesmo tempo, da religião de mercado. Às igrejas e lideranças desse meio, tudo é permitido, inclusive o esforço por revogar direitos constitucionais fundamentais, conquistas democráticas e pregar a exclusão e violência contra minorias; contra a mulher e a criança, o adolescente, e contra homoafetivos de ambos os sexos. Se ao Estado autoritário é permitido estabelecer uma ordem na vida e nos interesses da pessoa, a religião acompanha a mesma inclinação.
É nestas fronteiras específicas que se concentra, nos dias de hoje, o trabalho de humanização feito por Deus, pregava Richard Shaull. É nelas que está sendo jogado o futuro do homem e das nações emergentes e em vias de desenvolvimento. “Hoje, de modo geral, a igreja local conserva os mesmos padrões de trabalho e o mesmo conjunto de instituições modelado no período do ‘protestantismo de missões’ (seria por demais extensivo falar sobre o colonialismo missionário na África, Ásia e Oceania)? Este tipo de atuação é ainda relativamente eficaz junto a povos que, até o momento presente, não foram muito atingidos pelo impacto do Ocidente e onde os velhos padrões de vida permanecem quase intactos”, dizia Richard Shaull. Hoje, a observação mudaria, quem sabe: dos velhos padrões, não permaneceu pedra sobre pedra…
Com a mentalidade que acompanha a igreja evangélica, moldar o futuro, neste caso, estas áreas dos atuais desencontros da identidade original obscureceram e se aproximam da escuridão total. Paralelas ao êxito religioso do pentecostalismo evangélico, as comunidades têm cada vez menos significação e relevância diante dos problemas de uma nação ou continente. Não se admira que tenham sido solapadas, as igrejas históricas que não se entregaram ao pentecostalismo. Mais cedo ou mais tarde também abdicariam dos fundamentos e princípios originários.
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A Teologia da Prosperidade na berlinda
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Legenda: detalhe do “Templo de Salomão” em São Paulo (SP).
Créditos: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas (29/07/2014)
É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).
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- Resposta ao artigo: Igrejas em crise, por Victor Missias Amaral dos Santos em 12/11/2014 às 17:01:40
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