Opinião
- 16 de dezembro de 2008
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Igreja pobre, igreja de pobres: destaque nas páginas policiais e, ainda assim, igreja de portas e janelas abertas
Benedito Gomes Bezerra
A vida nos traz mais uma de suas surpresas. Jamais pensamos em nosso espaço de celebração como lugar de morte. Ainda quando recebemos o corpo de um dos nossos irmãos falecidos para ser velado no templo da igreja, a tônica é a celebração da vida. A vida que resiste, a vida que pede consolação, a vida que derrama lágrimas que regam a fé e se alimentam da esperança.
Mas eis que a violência se mostra sempre capaz de extrapolar limites, de nos agredir e chocar com sua crueldade e desumanidade. Uma pessoa é assassinada enquanto dorme abrigada por nossas paredes. Outras são feridas e têm a vida ameaçada. E tristemente viramos notícia. Igreja pobre, igreja de pobres. Viramos notícia à moda das pessoas pobres: somos destaque nas páginas policiais. As demais coisas que a igreja e a comunidade fazem, por mais positivas que sejam, parece que por serem positivas e feitas por pobres, jamais viraram ou virarão notícia.
Mas a vida, como sempre, teimosamente segue o seu curso. É inevitável refletir sobre os nossos caminhos e o nosso papel na comunidade dos Bultrins. As muitas manifestações de amigos e irmãos nos ajudam no processo.
As portas e janelas abertas (ou vazadas, como diria alguém) são imediatamente lembradas e postas em questão. Como era de se esperar, alguém logo sugere, ou cobra: “Agora vocês devem fechar essas portas, colocar grades nas janelas”. Interiormente lamento que fechar nossas portas e janelas não seja uma solução para a violência, mas uma tentativa de fugir dela. Imagino que, infelizmente, os homens violentos que agiram em nosso templo não deixariam de ser violentos nem de perpetrar seus crimes pelo simples fato de fecharmos portas e janelas.
Portas e janelas abertas são uma espécie de cartão postal da Igreja Batista em Bultrins. Para muitos, seria difícil pensar na igreja sem essa característica. Portas e janelas abertas são ótimas para os necessitados de um teto para dormir e de uma sombra para descansar no horário de almoço.
Portas e janelas abertas são orgulho para a igreja, mas um desafio também. Desafiam nossa capacidade de doação, de serviço, de amor. Portas e janelas abertas não são um quadro apenas romântico. Os pobres a quem buscamos servir, com quem tentamos nos identificar, recusam-se a comportarem-se segundo os cânones de nossas ingênuas idealizações. Não aprovaríamos tudo que eles fazem enquanto passam a noite sob o nosso teto. Os sinais de sua passagem pelo templo muitas vezes nos incomodam. Poderíamos esperar que fosse diferente?
Não, não sabemos exatamente que igreja queremos ser, como dizia o pastor Adriel. Mas sabemos o que não queremos ser. Queremos nossas portas e janelas abertas para a vida. Queremos que elas sejam um símbolo da abertura de nosso coração. Tampouco podem se reduzir a uma estratégia de marketing, uma mera aparência exterior.
Portas e janelas abertas para a vida simbolizam também o nosso protesto contra a cultura da violência, do cadeado e das grades. As portas e janelas abertas devem ser um sinal de um Reino em que não haverá medo, violência nem violentos. Não haverá matadores nem vítimas, sejam eles os bandidos comuns do dia-a-dia ou os opressores insuspeitos que decidem até o destino de nações.
Num momento de dor e perplexidade para a igreja, a graça também nos traz a palavra consoladora de irmãos e irmãs muito queridos. Gostaria de receber as palavras abaixo, do pastor Maurício Amazonas e da pastora Keyla Camargo, como mensagem de Deus para nossa comunidade: “Acho que tudo isso mais que justifica a presença da igreja onde ela está. Imagina que depois de tantos anos de propagação do Evangelho, depois de tantas vidas transformadas pelo poder de Jesus Cristo [...] vocês venham sofrer esse incidente dentro do espaço de celebração... Então, meus caros, é sinal de que muito trabalho ainda há por fazer. Imagina como estaria esse bairro sem a presença dessa igreja? Não desanimem. Este é apenas o joio que o inimigo semeia enquanto dormimos. Mas o trigo há de nascer, crescer e florescer abundantemente. Continuem na luta”.
Que o Espírito da Vida nos dê sabedoria e força para sermos dignos da missão que ele nos confiou. E, como diz a Palavra, “não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 12.21).
• Benedito Gomes Bezerra é pastor da Igreja Batista em Bultrins, em Olinda, PE.
A vida nos traz mais uma de suas surpresas. Jamais pensamos em nosso espaço de celebração como lugar de morte. Ainda quando recebemos o corpo de um dos nossos irmãos falecidos para ser velado no templo da igreja, a tônica é a celebração da vida. A vida que resiste, a vida que pede consolação, a vida que derrama lágrimas que regam a fé e se alimentam da esperança.
Mas eis que a violência se mostra sempre capaz de extrapolar limites, de nos agredir e chocar com sua crueldade e desumanidade. Uma pessoa é assassinada enquanto dorme abrigada por nossas paredes. Outras são feridas e têm a vida ameaçada. E tristemente viramos notícia. Igreja pobre, igreja de pobres. Viramos notícia à moda das pessoas pobres: somos destaque nas páginas policiais. As demais coisas que a igreja e a comunidade fazem, por mais positivas que sejam, parece que por serem positivas e feitas por pobres, jamais viraram ou virarão notícia.
Mas a vida, como sempre, teimosamente segue o seu curso. É inevitável refletir sobre os nossos caminhos e o nosso papel na comunidade dos Bultrins. As muitas manifestações de amigos e irmãos nos ajudam no processo.
As portas e janelas abertas (ou vazadas, como diria alguém) são imediatamente lembradas e postas em questão. Como era de se esperar, alguém logo sugere, ou cobra: “Agora vocês devem fechar essas portas, colocar grades nas janelas”. Interiormente lamento que fechar nossas portas e janelas não seja uma solução para a violência, mas uma tentativa de fugir dela. Imagino que, infelizmente, os homens violentos que agiram em nosso templo não deixariam de ser violentos nem de perpetrar seus crimes pelo simples fato de fecharmos portas e janelas.
Portas e janelas abertas são uma espécie de cartão postal da Igreja Batista em Bultrins. Para muitos, seria difícil pensar na igreja sem essa característica. Portas e janelas abertas são ótimas para os necessitados de um teto para dormir e de uma sombra para descansar no horário de almoço.
Portas e janelas abertas são orgulho para a igreja, mas um desafio também. Desafiam nossa capacidade de doação, de serviço, de amor. Portas e janelas abertas não são um quadro apenas romântico. Os pobres a quem buscamos servir, com quem tentamos nos identificar, recusam-se a comportarem-se segundo os cânones de nossas ingênuas idealizações. Não aprovaríamos tudo que eles fazem enquanto passam a noite sob o nosso teto. Os sinais de sua passagem pelo templo muitas vezes nos incomodam. Poderíamos esperar que fosse diferente?
Não, não sabemos exatamente que igreja queremos ser, como dizia o pastor Adriel. Mas sabemos o que não queremos ser. Queremos nossas portas e janelas abertas para a vida. Queremos que elas sejam um símbolo da abertura de nosso coração. Tampouco podem se reduzir a uma estratégia de marketing, uma mera aparência exterior.
Portas e janelas abertas para a vida simbolizam também o nosso protesto contra a cultura da violência, do cadeado e das grades. As portas e janelas abertas devem ser um sinal de um Reino em que não haverá medo, violência nem violentos. Não haverá matadores nem vítimas, sejam eles os bandidos comuns do dia-a-dia ou os opressores insuspeitos que decidem até o destino de nações.
Num momento de dor e perplexidade para a igreja, a graça também nos traz a palavra consoladora de irmãos e irmãs muito queridos. Gostaria de receber as palavras abaixo, do pastor Maurício Amazonas e da pastora Keyla Camargo, como mensagem de Deus para nossa comunidade: “Acho que tudo isso mais que justifica a presença da igreja onde ela está. Imagina que depois de tantos anos de propagação do Evangelho, depois de tantas vidas transformadas pelo poder de Jesus Cristo [...] vocês venham sofrer esse incidente dentro do espaço de celebração... Então, meus caros, é sinal de que muito trabalho ainda há por fazer. Imagina como estaria esse bairro sem a presença dessa igreja? Não desanimem. Este é apenas o joio que o inimigo semeia enquanto dormimos. Mas o trigo há de nascer, crescer e florescer abundantemente. Continuem na luta”.
Que o Espírito da Vida nos dê sabedoria e força para sermos dignos da missão que ele nos confiou. E, como diz a Palavra, “não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 12.21).
• Benedito Gomes Bezerra é pastor da Igreja Batista em Bultrins, em Olinda, PE.
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