Opinião
- 30 de junho de 2014
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Identidade evangélica. De ‘glórias’ e ‘aleluias’. Amém?
Quando ainda era adolescente, ouvi falar dos sermões de três pontos. Falava-se nisso com segurança, como um dos itens da nossa identidade, junto com as reuniões de oração das terças-feiras e a caderneta de chamada da Escola Dominical (Naquele tempo o “momento de louvor” ainda não era parte “histórica” de nossa identidade...). Confesso que fiquei um pouco enciumado quando descobri, mais tarde, que os sermões de três pontos eram propriedade comum de várias denominações. Um bom sermão presbiteriano ou batista, diziam, tinha três pontos. Era parte da identidade desses e de outros grupos.
O assunto identidade apaixona alguns e irrita outros. Há os que pensam que qualquer costume com mais de cinco anos (tanto tempo assim?) deve ser abandonado, para não perdermos o “bonde da História”. Por isso, quando alguém com essa perspectiva histórica sugere “vamos cantar agora um cântico antigo”, está na verdade pensando em algo do ano 2.000. Se for dos anos 90, aí já será jurássico, tradicional, quadrado. Por outro lado, há os que não ligam para essa história de bonde e só vêem nossa identidade em preto e branco, porque seu referencial é de antes do tempo das fotos e filmes em cores. Eu mesmo, pastoreando há muitos anos uma igreja bem tradicional em outro país, só podia dirigir o culto e pregar usando terno preto, camisa e gravata brancas. Quando eu, morrendo de calor, sugeri mudanças, me passaram um pito: “Fazemos assim há 400 anos, e você quer mudar?” Para mim estava mais do que na hora! Há o definitivo e há o transitório.
No passado, nosso modo de falar fazia parte da nossa identidade, pelo que dizíamos e pelo que não dizíamos. Os “glórias” e “aleluias” eram definitivamente não-tradicionais. Alguém se despedir com “a paz”, só em outros arraiais. Mas agora essas expressões estão globalizadas, não causam (muita) estranheza e não identificam mais. E outras também foram inseridas, é claro, sem as devidas avaliações. Vou mencionar duas aqui. Uma é resultado de vício que assola nosso país desde os anos 80 (que eu me lembre), e outra é também insistente e igualmente desagradável. Não sei quem inventou nem quando surgiu, mas já parece quatrocentona.
A primeira é o chamado “gerundismo”, um modo de falar que insiste em ficar por aí e que torna as falas muito diluídas, empobrecidas. A segunda é nosso abuso da palavra “amém”, empregado escatologicamente como se fosse pergunta: “Amém, irmãos?” A combinação dessas duas preciosidades gera expressões sólidas feito mingau e de uma riqueza franciscana:
- Eu quero “estar pedindo” para a igreja “estar orando” porque eu vou “estar fazendo” uma prova e eu quero “estar passando”. Amém?
Se a resposta não parecer convincente, então adiciona-se mais um ingrediente da (atual) identidade evangélica comum: a pergunta de profundidade insuspeita é repetida como num megafone: AMÉM? Só falta acrescentar “minhas colegas de auditório”, enquanto a banda toca baixinho “Sílvio Santos vem aí”. Mas o uso dessas duas pérolas invade mais do que os momentos ou temas “religiosos”. Afinal, é uma questão de identidade:
- Eu quero “estar falando” para o diácono Zezinho “estar ligando” os ventiladores para “estar refrescando” um pouco. Amém?
- Vamos “estar sentando” na frente porque choveu demais e muita gente não veio. Amém?
- Quem quiser “estar indo” ao passeio precisa estar dando o nome para o Carlão “estar sabendo” quantos ônibus ele vai “estar alugando”. Amém, irmãos?
O espaço não permite discussão do “amados” e do “boa noite, irmãos”, este no início do culto. Os nossos “jurássicos” (como diria o pessoal do bonde da História) ancestrais tinham maneira mais apropriada para dirigir-se à comunidade no início do culto, citando 2Coríntios 1.2 ou textos semelhantes.
Então, como vai “estar ficando” a nossa identidade, nesse aspecto da linguagem? Como sempre, é preciso “estar voltando” às bases bíblicas. Nada será bom ou ruim só por ser novo ou velho. O bíblico é bom. O indiferente podemos “estar mudando”. Mas é melhor enriquecer nossa linguagem do que empobrecê-la. Elitismo? Não. Simplicidade e bom senso. Objetividade. Senso crítico. Quem tem uma mensagem a comunicar não pode “estar enrolando” e nem “estar escondendo” o recado.
Amém?
O assunto identidade apaixona alguns e irrita outros. Há os que pensam que qualquer costume com mais de cinco anos (tanto tempo assim?) deve ser abandonado, para não perdermos o “bonde da História”. Por isso, quando alguém com essa perspectiva histórica sugere “vamos cantar agora um cântico antigo”, está na verdade pensando em algo do ano 2.000. Se for dos anos 90, aí já será jurássico, tradicional, quadrado. Por outro lado, há os que não ligam para essa história de bonde e só vêem nossa identidade em preto e branco, porque seu referencial é de antes do tempo das fotos e filmes em cores. Eu mesmo, pastoreando há muitos anos uma igreja bem tradicional em outro país, só podia dirigir o culto e pregar usando terno preto, camisa e gravata brancas. Quando eu, morrendo de calor, sugeri mudanças, me passaram um pito: “Fazemos assim há 400 anos, e você quer mudar?” Para mim estava mais do que na hora! Há o definitivo e há o transitório.
No passado, nosso modo de falar fazia parte da nossa identidade, pelo que dizíamos e pelo que não dizíamos. Os “glórias” e “aleluias” eram definitivamente não-tradicionais. Alguém se despedir com “a paz”, só em outros arraiais. Mas agora essas expressões estão globalizadas, não causam (muita) estranheza e não identificam mais. E outras também foram inseridas, é claro, sem as devidas avaliações. Vou mencionar duas aqui. Uma é resultado de vício que assola nosso país desde os anos 80 (que eu me lembre), e outra é também insistente e igualmente desagradável. Não sei quem inventou nem quando surgiu, mas já parece quatrocentona.
A primeira é o chamado “gerundismo”, um modo de falar que insiste em ficar por aí e que torna as falas muito diluídas, empobrecidas. A segunda é nosso abuso da palavra “amém”, empregado escatologicamente como se fosse pergunta: “Amém, irmãos?” A combinação dessas duas preciosidades gera expressões sólidas feito mingau e de uma riqueza franciscana:
- Eu quero “estar pedindo” para a igreja “estar orando” porque eu vou “estar fazendo” uma prova e eu quero “estar passando”. Amém?
Se a resposta não parecer convincente, então adiciona-se mais um ingrediente da (atual) identidade evangélica comum: a pergunta de profundidade insuspeita é repetida como num megafone: AMÉM? Só falta acrescentar “minhas colegas de auditório”, enquanto a banda toca baixinho “Sílvio Santos vem aí”. Mas o uso dessas duas pérolas invade mais do que os momentos ou temas “religiosos”. Afinal, é uma questão de identidade:
- Eu quero “estar falando” para o diácono Zezinho “estar ligando” os ventiladores para “estar refrescando” um pouco. Amém?
- Vamos “estar sentando” na frente porque choveu demais e muita gente não veio. Amém?
- Quem quiser “estar indo” ao passeio precisa estar dando o nome para o Carlão “estar sabendo” quantos ônibus ele vai “estar alugando”. Amém, irmãos?
O espaço não permite discussão do “amados” e do “boa noite, irmãos”, este no início do culto. Os nossos “jurássicos” (como diria o pessoal do bonde da História) ancestrais tinham maneira mais apropriada para dirigir-se à comunidade no início do culto, citando 2Coríntios 1.2 ou textos semelhantes.
Então, como vai “estar ficando” a nossa identidade, nesse aspecto da linguagem? Como sempre, é preciso “estar voltando” às bases bíblicas. Nada será bom ou ruim só por ser novo ou velho. O bíblico é bom. O indiferente podemos “estar mudando”. Mas é melhor enriquecer nossa linguagem do que empobrecê-la. Elitismo? Não. Simplicidade e bom senso. Objetividade. Senso crítico. Quem tem uma mensagem a comunicar não pode “estar enrolando” e nem “estar escondendo” o recado.
Amém?
Casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.
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