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- 17 de abril de 2023
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Identidade e dúvida: o que o Cristo ressurreto ensina sobre nossa fé
Diálogos de Esperança conversa sobre a ressurreição e nossas dúvidas
Por Lissânder Dias
Uma memória do que amamos, que constitui nossa identidade, como cristãos e povo de Deus. Esse é um dos principais valores da ressurreição de Cristo na história da Igreja. No entanto, o relato após a ressurreição de Cristo não a tornou algo mágico e sem questionamentos. Ao contrário, o episódio de Cristo com Tomé é uma evidência de que Deus acolhe nossas dúvidas mais sinceras. Essa foi umas das ênfases da live “A Páscoa, Tomé e as dúvidas”, realizada no terça-feira, dia 11, pelo Diálogos de Esperança com a presença da jornalista e teóloga Erica Neves e do pastor, pesquisador e teólogo Kenner Terra.
Viver e morrer. Morrer e ressuscitar
“É fundamental falar sobre a ressurreição, não apenas na Páscoa, mas enquanto mensagem central da nossa fé, porque as memórias da ressurreição são a nossa principal identidade. Como disse o apóstolo Paulo, a ressurreição dá um sentido tão profundo à nossa fé, que sem ela, seria vã”, afirma Kenner. “Nós só existimos como igreja cristã porque somos discípulos do Cristo ressurreto. Mas para ressuscitar, o nosso Senhor teve de morrer, e esse foi o último ato dele: dar a vida na cruz. Esse também é o chamado para cada um de seus seguidores e a parte mais amarga do nosso discipulado: tomar a nossa cruz, entregar nossa vida. Como é que a gente morre? Como a gente atravessa o vazio da ambiguidade, da vergonha, da dor, da rejeição, da traição dos amigos? Como a gente lida com a impressão de que Deus nos abandonou?”, pergunta Erica.
Os últimos momentos de Jesus foram cheios de apreensão para os discípulos. “Eles estavam até assustados, quase que desistindo - afinal de contas, a razão da esperança deles parecia que deixado de existir”, relembra Erica. “A narrativa da paixão de Cristo, a partir de João 13, é algo dramático: um drama profundo da dor e da paixão, que os discípulos não entenderam muito bem, porque a morte é um anúncio de que o fim chegou; é um tipo de desesperança latente”, explica Kenner.
A humanidade da dúvida
Tal contexto mais amplo traz contornos reais e complexos do diálogo com Tomé. “Tendo que essa morte se deu de forma tão gritante quanto na cruz, a incerteza, a insegurança e a dúvida são expressões naturais de um ser humano que sabe a força que a morte tem. Então, o diálogo de Tomé com Jesus é uma das coisas mais belas dos Evangelhos, porque nele se revela a humanidade de Tomé e, ao mesmo tempo, o acolhimento de Deus diante dessa humanidade. Deus nunca desqualificou a dúvida, e na relação com Tomé foi a mesma coisa. A ressurreição serve exatamente para isto: acolher a nossa humanidade, a nossa crise, as nossas dúvidas e nos redirecionar na esperança. Não é simplesmente uma prova factual para que eu tenha certeza do que aconteceu, mas é um acolhimento de Deus, mostrando que a ressurreição reanima a nossa esperança, mesmo diante das dúvidas”, afirma Kenner.
Citando Alister McGrath, Erica diferencia dúvida de ceticismo e incredulidade. “O ceticismo é a decisão deliberada de duvidar por uma questão de princípios. A incredulidade é a decisão deliberada de não ter fé em Deus. Já a dúvida é uma característica permanente da vida cristã e um sintoma da nossa fragilidade, porque somos criaturas limitadas. Para nós, é difícil compreender o que está além do que Deus colocou aqui, dessa imanência”.
Profetas da esperança
Diante da importância da ressurreição como centro da nossa fé e como caminho de acolhimento de nossa dúvida, como vivê-la em comunidade e quais as implicações missionais que ela gera?
Para Erica, a ressurreição nos ajuda a escutar mais e melhor o outro. “Quando pensamos que nossa fé está resguardada por esse Cristo ressurreto, se torna mais fácil ouvir o que é diferente do que a gente pensa. Se conseguíssemos ouvir melhor, não estaríamos vivendo uma polarização tão grande e teríamos mais certeza daquilo que é dogmático, ou seja, de que Jesus ressuscitou, de que ele é a nossa paz, é o nosso caminho”.
Kenner ressalta que, com a ressurreição, a igreja se torna instrumento profético da esperança. “Jesus ressuscitou; então, há esperança de vencermos a morte. Uma igreja cuja identidade está na ressurreição é uma igreja profética. Ela é a profecia da esperança no mundo. A ressurreição é o ‘não’ de Deus a todo projeto de morte, a toda expressão de desumanização, a toda negação da vida. A ressurreição é a reconciliação de todas as coisas com Cristo. Jesus tem essa autoridade sobre os céus e a terra porque ele é o cordeiro de Deus que está vivo. Diante disso, nós temos uma presença missional no mundo – do ponto de vista da proclamação da esperança (ou seja, a morte não é o ponto final); e ela é um interdito de Deus a todo e qualquer projeto de morte. Se na cruz, Jesus é solidário à nossa dor, na ressurreição ele diz ‘não’ a todo projeto de desumanização, de exclusão, de dor, de violência. Então, nós nos tornamos uma presença transformadora no mundo. Onde há morte, nós levamos a vida. Essa é uma convocação para a Igreja: ser a presença ressurreta no mundo”.
Outros assuntos
A conversa também abordou outros assuntos, como:
- O pastor e sua dúvida no púlpito;
- Como cultivar a cultura da escuta em comunidade;
- Os efeitos da modernidade na crença da ressurreição.
Você pode assistir, na íntegra, à live “A Páscoa, Tomé e as dúvidas” aqui.
Playlist do Diálogos de Esperança
Assista a todas as lives já realizadas aqui.
Saiba mais:
» Os Últimos Dias de Jesus, O que de fato aconteceu?, N. T. Wright | Craig A. Evans
» Surpreendido Pela Esperança, N. T. Wright
» Jerusalém, Ano 33: três dias de tensão
Por Lissânder Dias
Uma memória do que amamos, que constitui nossa identidade, como cristãos e povo de Deus. Esse é um dos principais valores da ressurreição de Cristo na história da Igreja. No entanto, o relato após a ressurreição de Cristo não a tornou algo mágico e sem questionamentos. Ao contrário, o episódio de Cristo com Tomé é uma evidência de que Deus acolhe nossas dúvidas mais sinceras. Essa foi umas das ênfases da live “A Páscoa, Tomé e as dúvidas”, realizada no terça-feira, dia 11, pelo Diálogos de Esperança com a presença da jornalista e teóloga Erica Neves e do pastor, pesquisador e teólogo Kenner Terra.
Viver e morrer. Morrer e ressuscitar
“É fundamental falar sobre a ressurreição, não apenas na Páscoa, mas enquanto mensagem central da nossa fé, porque as memórias da ressurreição são a nossa principal identidade. Como disse o apóstolo Paulo, a ressurreição dá um sentido tão profundo à nossa fé, que sem ela, seria vã”, afirma Kenner. “Nós só existimos como igreja cristã porque somos discípulos do Cristo ressurreto. Mas para ressuscitar, o nosso Senhor teve de morrer, e esse foi o último ato dele: dar a vida na cruz. Esse também é o chamado para cada um de seus seguidores e a parte mais amarga do nosso discipulado: tomar a nossa cruz, entregar nossa vida. Como é que a gente morre? Como a gente atravessa o vazio da ambiguidade, da vergonha, da dor, da rejeição, da traição dos amigos? Como a gente lida com a impressão de que Deus nos abandonou?”, pergunta Erica.
Os últimos momentos de Jesus foram cheios de apreensão para os discípulos. “Eles estavam até assustados, quase que desistindo - afinal de contas, a razão da esperança deles parecia que deixado de existir”, relembra Erica. “A narrativa da paixão de Cristo, a partir de João 13, é algo dramático: um drama profundo da dor e da paixão, que os discípulos não entenderam muito bem, porque a morte é um anúncio de que o fim chegou; é um tipo de desesperança latente”, explica Kenner.
A humanidade da dúvida
Tal contexto mais amplo traz contornos reais e complexos do diálogo com Tomé. “Tendo que essa morte se deu de forma tão gritante quanto na cruz, a incerteza, a insegurança e a dúvida são expressões naturais de um ser humano que sabe a força que a morte tem. Então, o diálogo de Tomé com Jesus é uma das coisas mais belas dos Evangelhos, porque nele se revela a humanidade de Tomé e, ao mesmo tempo, o acolhimento de Deus diante dessa humanidade. Deus nunca desqualificou a dúvida, e na relação com Tomé foi a mesma coisa. A ressurreição serve exatamente para isto: acolher a nossa humanidade, a nossa crise, as nossas dúvidas e nos redirecionar na esperança. Não é simplesmente uma prova factual para que eu tenha certeza do que aconteceu, mas é um acolhimento de Deus, mostrando que a ressurreição reanima a nossa esperança, mesmo diante das dúvidas”, afirma Kenner.
Citando Alister McGrath, Erica diferencia dúvida de ceticismo e incredulidade. “O ceticismo é a decisão deliberada de duvidar por uma questão de princípios. A incredulidade é a decisão deliberada de não ter fé em Deus. Já a dúvida é uma característica permanente da vida cristã e um sintoma da nossa fragilidade, porque somos criaturas limitadas. Para nós, é difícil compreender o que está além do que Deus colocou aqui, dessa imanência”.
Profetas da esperança
Diante da importância da ressurreição como centro da nossa fé e como caminho de acolhimento de nossa dúvida, como vivê-la em comunidade e quais as implicações missionais que ela gera?
Para Erica, a ressurreição nos ajuda a escutar mais e melhor o outro. “Quando pensamos que nossa fé está resguardada por esse Cristo ressurreto, se torna mais fácil ouvir o que é diferente do que a gente pensa. Se conseguíssemos ouvir melhor, não estaríamos vivendo uma polarização tão grande e teríamos mais certeza daquilo que é dogmático, ou seja, de que Jesus ressuscitou, de que ele é a nossa paz, é o nosso caminho”.
Kenner ressalta que, com a ressurreição, a igreja se torna instrumento profético da esperança. “Jesus ressuscitou; então, há esperança de vencermos a morte. Uma igreja cuja identidade está na ressurreição é uma igreja profética. Ela é a profecia da esperança no mundo. A ressurreição é o ‘não’ de Deus a todo projeto de morte, a toda expressão de desumanização, a toda negação da vida. A ressurreição é a reconciliação de todas as coisas com Cristo. Jesus tem essa autoridade sobre os céus e a terra porque ele é o cordeiro de Deus que está vivo. Diante disso, nós temos uma presença missional no mundo – do ponto de vista da proclamação da esperança (ou seja, a morte não é o ponto final); e ela é um interdito de Deus a todo e qualquer projeto de morte. Se na cruz, Jesus é solidário à nossa dor, na ressurreição ele diz ‘não’ a todo projeto de desumanização, de exclusão, de dor, de violência. Então, nós nos tornamos uma presença transformadora no mundo. Onde há morte, nós levamos a vida. Essa é uma convocação para a Igreja: ser a presença ressurreta no mundo”.
Outros assuntos
A conversa também abordou outros assuntos, como:
- O pastor e sua dúvida no púlpito;
- Como cultivar a cultura da escuta em comunidade;
- Os efeitos da modernidade na crença da ressurreição.
Você pode assistir, na íntegra, à live “A Páscoa, Tomé e as dúvidas” aqui.
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Saiba mais:
» Os Últimos Dias de Jesus, O que de fato aconteceu?, N. T. Wright | Craig A. Evans
» Surpreendido Pela Esperança, N. T. Wright
» Jerusalém, Ano 33: três dias de tensão
Lissânder Dias do Amaral é jornalista, blogueiro, poeta e editor de livros. Integra o Conselho Nacional da Interserve Brasil e o Conselho da Unimissional. É autor de “O Cotidiano Extraordinário – a vida em pequenas crônicas” e responsável pelo blog Fatos e Correlatos do Portal Ultimato. É um dos fundadores do Movimento Vocare e ajudou a criar as organizações cristãs de cooperação Rede Mãos Dadas e Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS).
- Textos publicados: 124 [ver]
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Site: http://www.fatosecorrelatos.com.br
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